Para abrir as nossas «hostilidades», fica bem dar os parabéns ao senhor Sócrates. Ganhou o congresso dos boys e das girls, e só teve um voto contra. E os parabéns são devidos porque, se fosse no PCP, tal unanimidade seria logo classificada de estalinista e antidemocrática. Assim, o voto de Roseta sabe a ramalhete democrático na prateleira de iniquidade, prepotência e absolutismo que é o PS, e o querido líder saiu de Santarém ainda mais impado do que quando lá chegou.
Não interessa que, hoje, existam milhões de portugueses a viver no pavor do que será o dia de amanhã. O desemprego ameaça centenas de milhares de pessoas, dos professores a outros trabalhadores da função pública, dos pescadores aos empregados dos serviços, passando pelos lanifícios, cablagem, metalurgia, construção civil, e por aí fora. As relações laborais transformaram-se num imenso contrato precário, e Portugal caminha para ser, em absoluto e a passos largos, um Portugal, SA.
O aumento selvático do custo de vida e a contenção salarial agravam a fome que já há, e atiram para uma situação de carência outros milhares de portugueses. Mas eles, os senhores do PS, tratam o país como se ele fosse uma coisa abstracta. O país é, porém, acima de tudo, dez milhões de pessoas que precisam de comer e educar aos seus filhos, de terem acesso a cuidados médicos, de viverem em casas dignas. Mas com o PS, isto já deixou de ser um país, e passou a ser uma roça. Trabalha-se para se deixar tudo o que se ganha nos cofres do Fisco, dos Belmiros e dos banqueiros. Mas o senhor engenheiro ganhou o congresso, não lhe cabe uma palhinha em lado nenhum, e pensa que pode continuar a ser um Zé do Telhado ao contrário.
Agora, análises, radiografias e todos os outros meios auxiliares de diagnóstico vão ser mais caros e mais difíceis para milhões de portugueses, por acaso – e só por acaso… – os que vivem pior e mais precisam. Dizer «é fartar, vilanagem» já não chega. E se isto não é atentar contra os direitos humanos, das duas, uma: ou o direito à saúde não é um direito humano, ou os portugueses, na óptica do governo, deixaram de ser seres humanos.
Parabéns, ainda, ao governo judaico. Há cerca de oito dias, as tropas sionistas assassinaram 18 palestinianos civis, entre eles várias mulheres e crianças. A carnificina – mais uma – foi de tal ordem, que até os norte-americanos e a União Europeia, tradicionais amigos, protectores e financiadores dos nazis que espalham a opressão e a morte, há mais de meio século, na Palestina e arredores, condenaram, em palavras, o massacre.
Os media deram a notícia… e ala, que se faz tarde. Ninguém falou em crimes contra a humanidade, em direitos humanos espezinhados, ninguém exigiu que os criminosos fossem levados a um qualquer tribunal internacional. Dias depois, a Assembleia-Geral da ONU condenou o massacre. Porém, no Conselho de Segurança, o veto norte-americano impediu que fosse aprovada uma resolução prática no mesmo sentido. Se já não soubéssemos, ficávamos a saber que criminosos de guerra e culpados de genocídio só o podem ser quem não for aliado ou lacaio dos norte-americanos.
E, contudo, um povo inteiro – o povo palestiniano – está a ser vítima, na sua própria terra, de um genocídio hediondo, só comparável ao que ficou conhecido por holocausto, no século passado. Os neonazis de Israel estão a exterminar, meticulosamente, o povo palestiniano, perante a condescendência cúmplice e hipócrita das democracias ocidentais. Pode não servir de nada, mas ao dizer isto estou a dizer, também, que não quero ser confundido com esta gente – com esta sociedade – que, por acção ou omissão, executa ou suporta uma das mais ignominiosas acções racistas e de extermínio de que há memória.
Falando em democracia, faz hoje, 16 de Novembro de 2006, um mês que o presidente Bush assinou um diploma a legalizar a tortura e o rapto e, efectivamente, revogou a Carta de Direitos (Bill of Rights) e o habeas corpus. Agora, a CIA e outros serviços mais ou menos secretos podem, legalmente, sequestrar pessoas e transportá-las para prisões onde elas sejam torturadas. Dentro ou fora dos EUA. A «prova» extraída sob tortura é agora admissível em «comissões militares»; isto é, qualquer pessoa pode ser sentenciada à morte com base no testemunho de pessoas espancadas ou torturadas de qualquer forma. Agora, é-se culpado antes mesmo de a culpa ser confirmada. E você é um «terrorista» se cometer o que George Orwell, em «1984», chamou «crimes de pensamento». Bush ressuscitou as prerrogativas dos monarcas Tudor e Stuart: o poder da ilegalidade irrestrita.
Não interessa que, hoje, existam milhões de portugueses a viver no pavor do que será o dia de amanhã. O desemprego ameaça centenas de milhares de pessoas, dos professores a outros trabalhadores da função pública, dos pescadores aos empregados dos serviços, passando pelos lanifícios, cablagem, metalurgia, construção civil, e por aí fora. As relações laborais transformaram-se num imenso contrato precário, e Portugal caminha para ser, em absoluto e a passos largos, um Portugal, SA.
O aumento selvático do custo de vida e a contenção salarial agravam a fome que já há, e atiram para uma situação de carência outros milhares de portugueses. Mas eles, os senhores do PS, tratam o país como se ele fosse uma coisa abstracta. O país é, porém, acima de tudo, dez milhões de pessoas que precisam de comer e educar aos seus filhos, de terem acesso a cuidados médicos, de viverem em casas dignas. Mas com o PS, isto já deixou de ser um país, e passou a ser uma roça. Trabalha-se para se deixar tudo o que se ganha nos cofres do Fisco, dos Belmiros e dos banqueiros. Mas o senhor engenheiro ganhou o congresso, não lhe cabe uma palhinha em lado nenhum, e pensa que pode continuar a ser um Zé do Telhado ao contrário.
Agora, análises, radiografias e todos os outros meios auxiliares de diagnóstico vão ser mais caros e mais difíceis para milhões de portugueses, por acaso – e só por acaso… – os que vivem pior e mais precisam. Dizer «é fartar, vilanagem» já não chega. E se isto não é atentar contra os direitos humanos, das duas, uma: ou o direito à saúde não é um direito humano, ou os portugueses, na óptica do governo, deixaram de ser seres humanos.
Parabéns, ainda, ao governo judaico. Há cerca de oito dias, as tropas sionistas assassinaram 18 palestinianos civis, entre eles várias mulheres e crianças. A carnificina – mais uma – foi de tal ordem, que até os norte-americanos e a União Europeia, tradicionais amigos, protectores e financiadores dos nazis que espalham a opressão e a morte, há mais de meio século, na Palestina e arredores, condenaram, em palavras, o massacre.
Os media deram a notícia… e ala, que se faz tarde. Ninguém falou em crimes contra a humanidade, em direitos humanos espezinhados, ninguém exigiu que os criminosos fossem levados a um qualquer tribunal internacional. Dias depois, a Assembleia-Geral da ONU condenou o massacre. Porém, no Conselho de Segurança, o veto norte-americano impediu que fosse aprovada uma resolução prática no mesmo sentido. Se já não soubéssemos, ficávamos a saber que criminosos de guerra e culpados de genocídio só o podem ser quem não for aliado ou lacaio dos norte-americanos.
E, contudo, um povo inteiro – o povo palestiniano – está a ser vítima, na sua própria terra, de um genocídio hediondo, só comparável ao que ficou conhecido por holocausto, no século passado. Os neonazis de Israel estão a exterminar, meticulosamente, o povo palestiniano, perante a condescendência cúmplice e hipócrita das democracias ocidentais. Pode não servir de nada, mas ao dizer isto estou a dizer, também, que não quero ser confundido com esta gente – com esta sociedade – que, por acção ou omissão, executa ou suporta uma das mais ignominiosas acções racistas e de extermínio de que há memória.
Falando em democracia, faz hoje, 16 de Novembro de 2006, um mês que o presidente Bush assinou um diploma a legalizar a tortura e o rapto e, efectivamente, revogou a Carta de Direitos (Bill of Rights) e o habeas corpus. Agora, a CIA e outros serviços mais ou menos secretos podem, legalmente, sequestrar pessoas e transportá-las para prisões onde elas sejam torturadas. Dentro ou fora dos EUA. A «prova» extraída sob tortura é agora admissível em «comissões militares»; isto é, qualquer pessoa pode ser sentenciada à morte com base no testemunho de pessoas espancadas ou torturadas de qualquer forma. Agora, é-se culpado antes mesmo de a culpa ser confirmada. E você é um «terrorista» se cometer o que George Orwell, em «1984», chamou «crimes de pensamento». Bush ressuscitou as prerrogativas dos monarcas Tudor e Stuart: o poder da ilegalidade irrestrita.
«A um nível ideológico mais profundo», escreveu o historiador americano Alfred McCoy, «o que está a acontecer é uma competição do poder contra a justiça. Encarado historicamente, é um combate sobre princípios fundamentais que remontam a aproximadamente 400 anos». Não há muito tempo, Dianna Ortiz, uma freira americana torturada, anos atrás, por um esquadrão da morte guatemalteco, declarou numa entrevista a Jonh Pilger, que o líder desse esquadrão era um compatriota americano. Isto aconteceu no tempo de Ronald Reagan, que foi tão assassino na América Central quanto Bush o é no Médio Oriente. «Você não pode chamar ao seu país uma democracia, se nele se pratica ou se tolera a tortura», afirmou ela.
De facto, sob Reagan, perversamente, foi restaurada a mitologia da democracia americana e do seu «orgulho», quando o seu governo corrupto ateou uma guerra ilegal na empobrecida América Central, provocando centenas de milhares de mortes, classificada nas Nações Unidas como genocídio. Os Estados Unidos tornaram-se o único país, desde sempre, a ter sido condenado pelo Tribunal Internacional de Justiça por terrorismo (contra a Nicarágua). Não serviu de nada. Os EUA são intocáveis.
«Segurança nacional» é a expressão que esconde a palavra certa – imperialismo – cujo poder despótico e sangrento se acelerou com George W. Bush. A verdade é que os EUA são hoje, dentro de si, uma extensão do totalitarismo que há muito procura impor no exterior. Mas apesar das suas actuais «dificuldades» no Iraque, a propaganda informativa continua afinada. Podem produzir-se notícias impossíveis de esconder, mas o saque deliberado e sistemático de milhares de milhões de dólares dos recursos do Iraque tem sido tranquilamente cumprido, com o petróleo a encher os cofres do Tesouro norte-americano, depauperados por políticas de saque dos recursos nacionais a favor dos potentados económicos e pela própria guerra. No entanto, ainda em Janeiro último, 25 mil pessoas candidatavam-se a 325 empregos oferecidos em Chicago.
Mas o papão da guerra à democracia, que se diz que o terrorismo desenvolve, tem sido usado com êxito, internamente, e exportado com igual sucesso. Esta é a mensagem dos industriais / instigadores liberais da guerra, que quanto mais o mundo arder, mais ganham. Entre outras coisas, eles escondem que a al-Qaeda é minúscula em comparação com o terrorismo de estado que mata e mutila em escala industrial, e cujo custo pagamos através, por exemplo, do aumento do preço do petróleo. São as nossas vidas – o nosso quotidiano, a nossa segurança e felicidade – que estão em causa.
Grita-se, agora, que Bush perdeu as eleições porque os norte-americanos acordaram para a verdade e se fartaram das mentiras e dos crimes do presidente. Grita-se que a democracia funcionou, e que, portanto, tudo está bem. Fala-se como se este desaire limpasse os crimes de guerra, devolvesse a vida a 650 mil iraquianos mortos e a mais de 3 mil soldados ianques já caídos no campo de batalha. Como se isso trouxesse de volta as pernas, os braços, os olhos ou a saúde mental a dezenas de milhares de soldados norte-americanos estropiados e incapacitados para o resto das suas vidas. Como se isso voltasse a repor o património histórico destruído ou rapinado pelo invasor no Museu de Bagdad e noutros locais.
O que não se diz é que os norte-americanos só votaram contra Bush e os republicanos porque esta guerra não está a ser a guerra que eles queriam – e aquela que Bush lhes prometeu: limpa, rápida e decisiva. Se os soldados norte-americanos não estivessem a cair como tordos; se o Iraque estivesse reduzido a um monte de escombros e dos iraquianos só restassem os colaboracionistas, os assalariados e os fantoches; se o urânio empobrecido só matasse de cancro homens e mulheres, crianças e velhos iraquianos, em vez de também apodrecer, com doenças «indeterminadas», milhares de soldados que combateram nas guerras do Golfo, então Bush e os republicanos teriam ganha as eleições e seriam louvados como heróis.
Não foi, portanto, por questões morais, legais, humanitárias ou outras igualmente válidas e justas, que o eleitorado norte-americano mudou tanto em apenas dois anos. Que se desiludam, pois, os optimistas. Os norte-americanos não votaram contra a guerra. Votaram – o que é diferente – contra a forma desfavorável como está a decorrer a guerra, coisa que, se fossem, como povo, minimamente lúcidos (isto é: se não fossem tão formados – e deformados – por uma propaganda que os convence de serem cidadãos de um país a que todos os outros devem obediência e tributo) teriam «adivinhado» já nessa altura. E Bush não teria sido reeleito.
Agora, porque a guerra lhes dói, como nunca pensaram que lhes pudesse doer – e o fantasma do Vietname já é um fantasma encarnado na resistência iraquiana – aprenderam o que aprende o matulão cobarde quando encontra quem lhe ponha o nariz a sangrar.
A propósito disto tudo, queridos amigos, leio-vos, a terminar, o que disse José Saramago numa entrevista recente ao CM:
«No momento em que nascemos é como se tivéssemos firmado um pacto de aceitação de tudo o que nos rodeia e que ainda não sabemos o que é. Depois, vamos crescendo, cada vez mais condicionados, até ao dia em que nos perguntamos: Quem é que assinou isto por mim? Costumo dizer que é nesse dia que pode começar a liberdade. E aí passamos à contestação e, se necessário, à radicalização. Nada me obriga, a não ser o respeito humano, a aceitar sistemas que da democracia só nos dão um papel na urna de quatro em quatro anos. Vivemos numa plutocracia: o governo dos ricos. Os governos são hoje, brutalmente, os comissários políticos do poder económico – e a democracia é uma mentira!».
E eu clarifico: a democracia é uma mentira em Portugal, nos EUA e em quase todo o mundo.