1.28.2008

Viver e morrer em Portugal


Na Bolsa de Valores, os capitalistas devoram-se uns aos outros,
depois de sugarem o sangue dos portugueses
A náusea e o vómito
As Bolsas de Valores, segundo alguém disse, são os locais onde os capitalistas se devoram uns aos outros. Por isso, meus amigos, estou-me nas tintas para o facto das acções subirem ou descerem. Ali, o negócio é virtual, na medida em que nada daquilo tem a ver com a vida real. Vendam-se as acções ao preço que se venderem, os parafusos continuam a ser feitos como no dia anterior, o peixe continua – ou não – a ser pescado, as searas crescem ou definham conforme o tempo e o mérito do agricultor mandarem, e as couves e as batatas desenvolvem-se sem se incomodarem com quem compra ou vende acções, e a que preço.

Aliás, ainda ninguém me explicou porque é que uma empresa tem, num dia, acções na bolsa a determinado valor e, no dia a seguir, sendo exactamente a mesma – e fazendo exactamente a mesma coisa e ao mesmo preço – passa a valer mais, ou menos.

Por explicar, pelo menos em termos racionais – está o facto de, um certas alturas, as acções descerem e, aos gritos, os economistas, analistas, comentadores e políticos desatarem a proclamar maus tempos – tempos terríveis – para quem não tem empresas, nem acções. Cheira-me a esturro.

Outra coisa que falta explicar, é porque os lucros fabulosos conseguidos na especulação – porque é disso que se trata – bolsista, não pagam os mesmos impostos que nós pagamos só pelo simples facto de trabalharmos e ganharmos para a bucha. Ou pagamos sobre as nossas tristes pensões.

As políticas assassinas do PS


As urgências foram transformadas, pelo governo PS ,em antecâmaras dos cemitérios

O que me rala são as pessoas que morrem à porta de urgências encerradas, e as palavras criminosas de um ministro da Saúde, ao defender a tese sublime de que ninguém pode provar que as pessoas se salvariam caso as urgências estivessem abertas.

Espero bem que um dia seja julgado, tal como o seu presidente do conselho de ministros, o inefável e sinistro «engenheiro» Sócrates (o verdadeiro promotor destas políticas), por todos estes atentados à vida e à saúde dos portugueses.

E não deixo de registar, com repulsa, a pressa do pai do bebé de Anadia em absolver o governo, o que me levou a pensar aquilo que depois se confirmou. «Aí está um socialista de gema». Não quero dizer que, naquele caso concreto, a morte não fosse o desfecho inevitável. Mas não será que afastar os serviços de urgência das populações é arriscar a perda de vidas em nome de critérios economicistas. O que vale mais? A vida, ou o défice?

Por tudo isto, Portugal enoja-me. Como nunca me enojou. E – podem crer – a náusea é minha velha companheira, pois já tinha os olhos e o espírito bem abertos durante os tempos em que a ditadura impunha as suas regras e fazia cumprir os seus desígnios.

Mas se em ditadura tudo se espera, em democracia o que é expectável é o respeito pelo cidadão que elege quem se propõe governá-lo e, com os seus impostos, sustenta o Estado. Estado que outro papel não tem que não seja fazer reverter para os cidadãos e para o país, de forma justa e eficaz, o que recolhe de cada um de nós. Escuso de me cansar a dizer que nada disso acontece em Portugal.

Tenho afirmado várias vezes que, hoje em dia, as diferenças entre o sistema democrático em vigor – se de democrático merece o nome… – e a ditadura, são apenas as que se relacionam com o voto (é menos condicionado), a liberdade de expressão (é teoricamente permitida) e a garantia, também teórica, de ninguém ser prejudicado pelas suas opções ideológicas, o que impede a existência, por exemplo, de presos políticos.

Na verdade, as coisas não são bem assim. Antes do 25 de Abril, tive oportunidade de votar em listas da oposição, e lembro-me de acompanhar o meu pai às mesas de voto nas eleições presidências a que concorreu Humberto Delgado. É certo que os resultados nas urnas, fossem eles quais fossem, eram sempre transformados em vitórias dos candidatos do regime, tal como é certo que os cadernos eleitorais eram uma enorme farsa, de onde eram excluídos milhares de eleitores, mas onde os mortos podiam votar, pois faziam-nos pelas mãos dos legionários e outros esbirros do fascismo.

Partidos do Poder - a antítese da democracia

Os partidos que ocupam o poder arrebanham apoiantes, votos e fidelidades, que depois traem indecorosamente


Mas o que se passa, hoje, com o nosso voto? Votamos em quem? Porquê? Para quê? Fomos induzidos a tomar opções partidárias, a fidelizar-nos a um determinado partido e, a partir daí, tornamo-nos servos dessa estrutura política, abençoando-a com o nosso voto e apoio activo. Ou remetendo-nos, passivamente, como silenciosos cúmplices, às suas piores práticas.

Aceitamos como prática normal – e até achamos excelente, se tal vier do partido a que aderimos – que a mentira, o discurso ardiloso, a vã promessa eleitoral e a manipulação ou coação psicológicas sejam armas da luta pelo poder. Sujeitamo-nos, depois, às consequências nefastas das políticas levadas a cabo, mesmo que estejam nos antípodas do prometido e se revelam absolutamente contrárias aos nossos interesses e direitos, atirando-nos para o desemprego, levando-nos a casa e o pão, limitando-nos – ou vedando-nos – o acesso à saúde e à educação. A isto, de facto, se chegou.

Ou seja: pela força e atropelo – em ditadura – ou pela subtil manipulação – em dita democracia – os resultados são iguais. O poder político faz o que sabe fazer, que é, ontem como hoje, asfixiar o mais possível o cidadão, extorquindo-lhe directamente (pelos impostos) ou indirectamente (pelos mecanismos que levam à perda do poder de compra, de que a inflação superior aos aumentos salariais é o melhor exemplo), e oxigenar os detentores do poder económico que, com as variações que o tempo e os métodos construíram, são os mesmos que o fascismo alimentava.

Quanto à liberdade de expressão, meus caros amigos, experimente usá-la quem depender profissionalmente de alguém afecto ao partido no poder, caso não partilhe das mesmas simpatias. Experimente um candidato a um emprego deixar entender a sua ideologia ou cor partidária, e depois diga que não percebeu as razões da exclusão.

Ainda sobre a liberdade de expressão, veja-se quem tem acesso às grandes tribunas da comunicação social escrita e falada, e atente-se nos critérios, ditos jornalísticos, que alinham cientificamente as notícias, seleccionam os comentadores, convidam analistas e valorizam – ou desvalorizam – as diversas iniciativas políticas ou partidárias. Mais uma vez, aquilo que a ditadura impunha pela censura, esta «democracia» alcança pelo controlo dos meios de comunicação social dominantes – ditos de referência – para que a plebe continue a ser plebe, e os senhores feudais continuem a ser os senhores feudais.

No resto, é o mesmo – ou pior – forrobodó. Acredito, até, que esta «democracia» e estes «democratas» estão a fazer coisas que os homens da ditadura não fariam. Acuso-os, até, de irem mais longe em desumanidade e indiferença pelo sofrimento dos cidadãos do que os próprios fascistas.


Os manos - nova classe de boys

Corupção, tráfico de influências, amiguismo? No PS? Que ideia!

Sócrates, neste momento, é um fala-barato, um rei nu que ainda não percebeu a velocidade a que está a resvalar para o ridículo e para o descrédito. Há factos e sinais alarmante, que provam ter o homem assumido que a maioria absoluta é poder absoluto. Que as regras e a moral deixaram de contar. Por exemplo:

Há dias, o deputado do PCP, Manuel Tiago, perguntou ao Governo porque razão certo advogado foi contratado duas vezes pelo Ministério da Educação para levar a cabo determinado trabalho. Da primeira vez, embora a remuneração fosse cumprida integralmente, o trabalho não foi concluído. Apesar disso, o Ministério da Educação voltou a contratar o mesmo advogado, só que, desta vez, aumentou-lhe a retribuição, que fora de 1.500 euros mensais, no primeiro contrato, para 20 mil euros mensais, no contrato actual. O deputado quer saber – e muito bem – porque razão não foram utilizados os recursos internos do Ministério, que motivos justificaram a nova contratação, exactamente com o mesmo advogado que não cumpriu os compromissos anteriormente contratualizados, e, também, que motivos justificam um aumento de 1.233,33%.
Eu julgo que tenho a resposta para esta perguntas todas. É que, segundo consta por aí, o distinto advogado é irmão de uma célebre figura do PS, envolvido num escândalo que tem agitado a opinião pública e merecido grande cobertura da comunicação social.

O rídiculo reizinho não sabe, mas vai nu...


Mas há mais: há dias, recebi um e-mail que dizia o seguinte:

«Sabe quem é António Pinto de Sousa? É o novo responsável pelo gabinete de comunicação e imagem do Instituto da Droga e Toxicodependência. Tem competência atribuída para empossar quem quiser, independentemente da sua qualificação académica e profissional, para os cargos dirigentes do Instituto, contrariando os próprios estatutos do IDT. Ah! Já me esquecia de dizer que é irmão de José Sócrates...»

Como estas duas situações circulam sem respostas, esclarecimentos ou desmentidos, perdoe-se a veleidade, mas muito gostaria que esta simples crónica contribuísse para apurar a verdade. É que se isto for verdade, como tudo leva a crer, já nada faltará para que a náusea se transforme em vómito.

São portugueses, senhores!


Depois de tanta coisa triste – e feia – uma velha anedota para encerrar a nossa crónica de hoje – e fazer sorrir, ainda que o sorriso seja triste:

Os portugueses, hoje em dia...



Um alemão, um francês, um inglês e um português comentam uma pintura representando Adão e Eva no Paraíso.

Diz o alemão:

- Olhem que perfeição de corpos: ela esbelta e espigada, ele com este corpo atlético, os músculos perfilados... Devem ser alemães.

Imediatamente, o francês contesta:

- Não acredito. É evidente o erotismo que se desprende de ambas as figuras... Ela tão feminina... Ele tão masculino... Sabem que em breve chegará a tentação... Devem ser franceses.

Movendo negativamente a cabeça, o inglês comenta:

- Nada! Notem... A serenidade dos seus rostos, a delicadeza da pose, a sobriedade do gesto... Só podem ser ingleses.

Depois de alguns segundos de contemplação, o português afirma:

- Não concordo. Olhem bem: não têm roupa, não têm sapatos, não têm casa, só têm uma triste maçã para comer, não protestam e ainda pensam que estão no Paraíso... Só podem ser portugueses.

1.17.2008

O Banco Alimentar Contra a Fome e a «Esquerda Moderna»


O Banco Alimentar Contra a Fome significa, antes de mais, isto:
HÁ MUITA FOME NESTA DEMOCRACIA, GERIDA POR «SOCIALISTAS» DA «ESQUERDA MODERNA»


Esquerda moderna, ou direita antiga?

O Banco Alimentar Contra a Fome é uma coisa que existe, mas não deveria existir. Porquê? Porque a existência de gente com fome, em pleno século XXI, num país europeu que arrota novos aeroportos e TêGêVês, e que se permite conceder a um cidadão com várias e copiosas fontes de rendimento, perfeitamente válido e apto para o trabalho, uma reforma de 3.600 contos, por apenas 18 meses como gestor numa empresa do Estado, ou ordenados e futuras reformas de luxo ao governador do seu Banco Central, é algo que a moral recusa, a inteligência não entende e a decência condena.

E não deveria existir, principalmente, porque o senhor «engenheiro» que ocupa o lugar de primeiro-ministro (melhor dizendo: de presidente do conselho de ministros), se diz socialista e de esquerda, embora esclareça que se trata de esquerda, sim, mas… «moderna».

Mas a verdade é que vivemos num país onde 500 famílias detém a maior fatia da riqueza nacional e os bancos acumulam lucros a um ritmo nunca visto. Mas onde, com o mesmo ritmo – isto é: a uma velocidade alucinante – os pobres descem aos patamares da miséria e os remediados passam a pobres. A grande maioria da população, nos últimos 12 anos – mas com maior intensidade nos últimos 2 anos correspondentes ao consulado socratiano – todos os dias empobrece e percebe que o futuro vai ser cada vez pior. Na realidade, nada disto me parece compatível com democracia, socialismo e esquerda, leve ela as etiquetas que o «engenheiro» lhe quiser pôr.

Já que falei no Banco Alimentar Contra a Fome (cuja simples existência é, por si só, a prova da falência das políticas em curso nas chamadas democracias dominadas pelo capital financeiro), soube, há dias, que a crise é de tal ordem que «há médicos e professores a pedirem ajuda para dar de comer aos filhos».

«O novos pobres»


A notícia saiu no insuspeito Expresso, num excelente trabalho de Raquel Moleiro e Isabel Vicente, e transcreve declarações de Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, que denuncia a existência dos chamados «novos pobres», saídos de uma classe média sobre-endividada. Deixem-me ler parte do texto:

«Manuela, 33 anos, hesitou antes de escrever aquele “e-mail” para o Banco Alimentar Contra a Fome. E mesmo enquanto o redigia, não tinha ainda a certeza de, no fim, ter coragem de carregar no botão de enviar.

Ela, bacharel em Relações Internacionais, quadro de um ministério, casada com um professor de educação física, ex-atleta olímpico. Mãe de uma bebé com cinco meses, tinha agora de pedir ajuda para alimentar a família. O marido que ficou sem emprego, um salário de 2000€ que desapareceu no mês em que festejaram a gravidez, a renda da casa que foi falhando vezes de mais, o cartão de crédito gasto até ao limite, o apartamento trocado por um quarto, e nem assim a comida chegava à mesa. "No dia em que enviei o e-mail faltavam três semanas para receber. e só tinha 80€", explica. "Havia para a bebé, mas nós íamos passar fome".

O caso tem um mês. Ana Vara, assistente social do BACF, ligou a Manuela mal leu o pedido. E disse-lhe o que tanto tem repetido ultimamente: “Não tenha vergonha, não é a única”. “Nos últimos quatro meses, mais que duplicaram os pedidos directos ao banco alimentar. E há cada vez mais casos de classe média”, garante Isabel Jonet. A directora do BACF chama-lhes "os novos pobres": empregados, instruídos, socialmente integrados, mas, ainda assim, vítimas da pobreza e até da fome. Nos últimos três meses, chegaram ao banco alimentar de Alcântara 250 casos, 30% dos quais se enquadram nesta nova categoria. E em todos há pontos transversais: mais mulheres, muitas mães, desemprego inesperado, rupturas familiares, e sempre sobre-endividamento.
(...) As famílias tradicionalmente carenciadas aparecem no banco alimentar, pedem olhos nos olhos.

Os novos pobres gritam por ajuda, envergonhadamente, através do correio electrónico.

Como Luciana, médica, cujo desemprego súbito do marido fez ruir a estrutura económica do lar de nove filhos Sem ele saber, sem o magoar de vergonha, pediu apoio alimentar para um casa onde nunca tinha faltado nada».

Por este breve excerto da reportagem do Expresso, podemos ver o que por aí vai.


Governa entrou em parafuso
(e o camelo engoliu a areia toda)


Afinal, Mário Lino engoliu a areia toda do deserto da Margem Sul... Como se vê.


Mas se as coisas vão mal para a generalidade dos portugueses, cuja capacidade de reacção é tradicionalmente lenta e mole, também, neste dealbar do ano de 2008, começam a azedar para os lados do «engenheiro» feito à pressa.
Depois da «Margem Sul jamais», veio o Ota nem pensar, e os dois estarolas – Sócrates e Mário Lino – a coincidirem no descaramento de dar o dito por não dito, como se não tivessem sido obrigados a evitar o erro enorme – e caríssimo – de construir o novo aeroporto num local de todo inapropriado. Humilhado e ridicularizado, Mário Lino não se demitiu nem foi demitido, porque Sócrates, como todos os iluminados absolutistas, não sabe o que é moral ou senso comum.


Se o rídiculo matasse...
(as prestações de 68 cêntimos morreram)

Depois, um dos muitos matraquilhos que pululam no governo, um génio capaz de meter Albert Einstein num chinelo, e que é secretário de Estado não sei do quê – nem me interessa – decidiu que os retroactivos do mês de Dezembro, relativos aos aumentos das pensões dos reformados e pensionistas, seriam pagos em míseras prestações (algumas de 68 cêntimos), ao longo de 14 meses, não fossem os pobres desgraçados estoirar o dinheiro nos casinos ou casas de alterne.

Perante o ridículo da situação, que muitos julgaram não passar de mera brincadeira ou má-língua dos perigosos e subversivos opositores do regime democrático (que Sócrates interpreta como ninguém), lá veio o governo, atabalhoadamente meter marcha atrás, e, como quem dá uma esmola com dinheiro roubado, dizer que, enfim, sempre pagarão tudo no mês que vem.
Se o ridículo matasse, Sócrates, os ministros e a troupe «socialista» que comanda (isto é: a «esquerda moderna» em peso) estariam todos no Panteão Nacional, não pelos altos méritos dos seus feitos, mas como monumento indelével à pulhice política e à credulidade de um povo que ainda não aprendeu a tomar conta do seu destino.



Fundo de Pensões do BCP
- O gato escondido...



Dava um jeitão ao Berardo transferir o Fundo de Pensões do BCP para a Segurança Social, não dava? E ao Governo, também...


No meio deste circo, um escândalo enorme parece estar escondido sobre o já de si grande escândalo do BCP. Fazendo rir o pagode – como compete a uma troupe que se preze – Sócrates garante que o Governo em nada interferiu na escolha dos futuros administradores do BCP. Deixaríamos de lado a óbvia mentirola, se ela não estivesse relacionada com uma manobra muito mais vasta que se relaciona com o controlo de défice de 2008.


De facto, o que parece estar pronto a ser cozinhado é a provável transferência para a Segurança Social do fundo de pensões dos colaboradores do Banco, avaliado em cerca de quatro mil milhões de euros.


Segundo Delfim Sousa, que é accionista do BCP, onde foi um quadro destacado e, também, membro da respectiva estrutura sindical e da Comissão de Trabalhadores, «esta transferência, a concretizar-se, será contabilizada como receita extraordinária da Segurança Social neste ano 2008, e controlará o défice do Estado satisfatoriamente. Esta solução que estará na mira do Governo Sócrates, já foi testada pelo Governo de Guterres (com a transferência do fundo de pensões do BNU, realizado pelo ex-ministro Sousa Franco) e pelo Governo de Santana Lopes, para controlar o défice e cumprir os valores limite fixados pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento. E foi assim, no ano de 2004, quando o ex-ministro das Finanças, Bagão Félix, transferiu fundos de pensões de empresas públicas (entre outros, o Fundo da Caixa Geral de Depósitos) para a Caixa Geral de Aposentações, conseguindo um encaixe financeiro de cerca de 1,9 mil milhões de euros».


Com gente sua a comandar o BCP, e com os principais accionistas (especialmente os que se dedicam às obras públicas) atentos e obrigados aos desejos do PS, tendo em conta o novo aeroporto e o TGV, tudo se encaminhará para uma solução que desenrasque o controlo do maldito défice.

Mesmo que, como disse em casos anteriores o Tribunal de Contas, «O impacto directo sobre as finanças públicas, que se projectará por um período longo, resultante das transferências referidas, tem um efeito positivo sobre as receitas do Estado no ano em que ocorreram, mas têm um efeito inverso nos anos posteriores, uma vez que as receitas não serão suficientes para suportar o valor das despesas».


Perante a passividade amarela do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, o silêncio da comunicação social, mais interessada em discutir a dança dos nomes do que as manobras de Sócrates e banqueiros, as atenções voltam-se para Jo Berardo, que gosta de fazer o papel de capitalista do povo. Mas, como diz Delfim Sousa, «o Senhor Joe Berardo não é seguramente um “capitalista do povo”, como quer fazer passar na imagem que vende. Pelo contrário, Berardo defende unicamente o seu dinheiro, os seus investimentos, e o Fundo de Pensões (dos trabalhadores do BCP) representa uma responsabilidade para o Banco que quer ver eliminada, ou antes, transferida para o Estado».



Esquerda Moderna = Direita Antiga


A grande diferença está só na indumentária e na mãozinha aberta. O resto...


E assim vai o país. Lentamente, Sócrates perde o pé. Mas enquanto não o perde de vez, milhões de portugueses afundam-se entregues a um estado que está na mão dos senhores do capital financeiro, cujas acções não estão sujeitas ao escrutínio popular. São eles que governam, mas não são eles que vão a votos.
José Sócrates e os socialistas, ao volante da sua «esquerda moderna» são, hoje em dia, as alavancas deste poder opressor e oculto, do qual não passam de meros paus-mandados. Não governam para proveito dos portugueses – para que acabem, por exemplo, os Bancos Alimentares Contra a Fome – mas, como todos sabemos, para manter nos seus feudos aqueles que os sustentam no poder, enchendo-lhes, duma ou doutra maneira, os cofres do partido e os bolsos de quem lhes faz o frete.


De onde se conclui que esta «esquerda moderna» chega a fazer corar de vergonha a velha «direita antiga».

1.08.2008

Grande Circo Sócrates




A trágica palhaçada


Uma pensionista deste país, que recebe todos os meses a opulenta pensão de 283 euros – o que dá cinquenta contos e uns picos – sabendo das nossas crónicas, de que se diz leitora fiel, pediu-me que aqui desse conta do seu caso. Sofre, para mal dela, de uma doença crónica que a obriga a consultas frequentes de psiquiatria. Como é normal neste tipo de doentes, tanto pode acontecer andar bem durante uns tempos, como ver-se obrigada, em determinados períodos, a recorrer com mais assiduidade ao seu médico.

Como sabemos, o SNS não dá resposta pronta e eficaz a este tipo de doentes, pelo que a pessoa em questão tem vindo a ser assistida por um médico particular, o único que, até hoje, conseguiu mantê-la relativamente bem. Só que, por cada consulta, a senhora desembolsa 115 euros. Recentemente, a juntar a este valor, acrescentou mais 50,14 euros, de medicamentos que lhe foram receitados: Calcitab, Exxiv, Alprazolam, Cerestabon, Anafranil, Ttryptizol, Ludiomil e Concor. Faço notar que este valor de 50,14 euros já beneficiou de todos os descontos que a sua doença e o valor da sua pensão permitem.



23 contos para viver um mês

Feitas as contas, depois de receber os seus 283 euros mensais, ter pago os 115 de consulta e os 50,14 de medicamentos, ficaram-lhe no bolso pouco mais de 117 euros, ou seja, 23 contos para comer, pagar água, luz, gás e outras despesas miúdas que aparecem sempre na vida das pessoas.

Este caso, que eu conheço e aqui dele dou notícia e testemunho, é apenas um entre centenas de milhares – ou deveria dizer milhões? – que me fazem, todos os dias, ter vergonha de ser cidadão deste país. Ao tomar conhecimento concreto de casos como este, sinto crescer cá dentro uma revolta enorme e, por muito mal que pareça, um ódio profundo por todos aqueles que, de 1975 para cá, governaram este país e a isto chegaram.






Governo paga (aos reformados) 13 euros
em 14 prestações de 90 cêntimos!


Já que estamos a falar em pensionistas, que dizer da ridícula decisão dos palhaços de serviço a este circo, de pagar a prestações o aumento das pensões relativo ao mês de Dezembro? Há casos em que esse valor se traduzirá em 14 prestações de 90 cêntimos! Seria para rir às gargalhadas, se não fosse tudo isto um sintoma trágico de que vivemos num país agonizante, sangrado por vampiros impiedosos e insaciáveis.


Tempos livres da escola na casa mortuária...





País onde, por exemplo, as crianças da escola do 1.º ciclo da povoação de Marinheiros, em Leiria, passam os seus tempos livres na casa mortuária lá do sítio, depois de terem sido despejadas do centro de tempos livres da Quinta da Matinha, que foi ocupado por alunos de outra escola.




... e escola com ratos no refeitório!





Face a isto, já nem sei se o que se passa na escola do 1.º Ciclo do Ensino Básico de Folgosa, em Viseu, é melhor, ou pior. A verdade é que os pais dos alunos fecharam as portas da escola a cadeado, em protesto pela falta de condições do refeitório onde as crianças almoçam. Queixam-se que o refeitório ocupa o hall de entrada da escola, local «onde faz muito frio e há ratos». Dizem que a louça tem de ser tapada, porque senão aparece com excrementos da rataria. Não tarda, temos a ministra da Educação a dizer que os pais, em vez de se queixarem, talvez devessem aproveitar os ratos para compor a ementa. No estado a que o país chegou, em que o governo se vê forçado a pagar 13 euros em 14 prestações de 90 cêntimos, comer ratos deve ser a medida que se segue.


Urgências, antecâmaras do cemitério

Sucedem-se as mortes nas urgências, porque o encerramento dos SAPs e a eliminação destes serviços em muitos hospitais, sobrelotam as urgências que ficaram. Crónicas de mortes anunciadas.


Albertina Fernandes Mendes tinha de 85 anos e morreu nas Urgências do Hospital de Aveiro, após quatro horas à espera de médico. O bastonário em exercício da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, responsabilizou o Governo e o primeiro-ministro pela morte da idosa, atribuindo-a «à errada política de Saúde do Governo», que leva à sobrecarga das Urgências. E respondeu assim, quando lhe perguntaram porque razão o Governo diz que está a melhorar o SNS:

«Não seria de esperar que, de qualquer Governo, viesse uma afirmação no sentido de destruir o Serviço Nacional de Saúde. Aquilo que o Governo diz, di-lo por razões políticas e quase por obrigação política. Não pode dizer que está a fazer as coisas erradas. Tem de dizer que está a fazer as coisas certas. Quem está no terreno, quem conhece os problemas da Saúde, quem se preocupa e analisa as coisas para além da demagogia política, não tem quaisquer dúvidas que o Serviço Nacional de Saúde está a ser progressivamente destruído. E mais. Eu considero até que existe neste momento um perigoso pacto de regime na área da Saúde». E explicou porquê: «Se nós assistimos ao facto dos grandes grupos económicos estarem a investir milhares de milhões de euros na área da Saúde e esperam naturalmente ter o mesmo nível de retribuição que em qualquer outro sector da economia, há uma coisa que têm de ter a certeza. Na área da Saúde não vai haver ciclos políticos. Ou seja, não vai aparecer no futuro nenhum Governo que altere esta política».


Mas, na área da saúde, as diatribes verificadas neste circo miserável e mal cheiroso não ficaram por aqui. José Carvalho Monteiro, de 76 anos, morreu nas Urgências do Hospital de Vila Real. Na véspera, mandaram-no para casa, depois de lhe terem ministrado um remédio para os vómitos. No dia seguinte teve de voltar ao hospital, desta vez para morrer nas Urgências, com uma linda pulseira amarela.


Recorde-se que, devido ao encerramento das Urgências de concelhos e cidades vizinhas, agora toda a população do distrito acorre a Vila Real.

Morreu, morreu, acabou-se. O espectáculo do Grande Circo Sócrates tem de continuar. Morra quem morrer. O que importa é o grande número do défice, e a apoteose final, o Tratado de Lisboa.


«Teve de arrastar-se até à morte»




O monstro da desumanidade é a imagem pricipal das políticas de Sócrates. Uma professora que sofre de cancro mas não pode reformar-se porque a reforma não chega para se sustentar e às suas filhas, diz tudo sobre Sócrates, os «socialistas» e quem os apoia.

Por isso, as mortes continuam: desta vez, foi Maria Cândida Pereira, a professora de Gouveia que sofria de cancro de pulmão e morreu sem que lhe fosse reduzida a componente lectiva.

Com 47 anos, divorciada e mãe de duas meninas, com 12 e 14 anos, a professora de Educação Visual e Tecnológica, solicitou a redução da carga horária, mas nunca chegou a pedir a reforma por incapacidade, porque a redução no salário não lhe permitiria sobreviver e sustentar a família. «Ela não tinha alternativa, com 60% do ordenado não conseguia viver, por isso, teve de se arrastar até à morte», disseram os seus colegas professores na Escola Básica 2/3 Ana de Castro Osório, em Mangualde, onde a vítima era docente há três anos.

Ri-te, Palhaço!


Ouviram, seus estupores, responsáveis (se é que há responsáveis em Portugal) por esta situação? Esta mulher arrastou-se a trabalhar até à morte, porque as pensões que são impostas ao português comum, não são iguais às bem nutridas que se cozinham para as sinistras troupes que, ao longo dos anos, legislam para si de uma maneira e, para o Zé, de outra.

Mas venha o quinto canal de televisão, com o lixo enlatado que as outras já servem, para encaixar mais uns palhaços sem jobs. E arranje-se maneira de assaltar o BCP, para que a promiscuidade entre o poder político e o poder económico passe a ser oficial, com anel de noivado e certidão a atestá-la.

E, sobretudo, não se deixe o povo saber porque razão a Justiça prendeu Paulo Pedroso, não vá alguém ir à lã e sair tosquiado.

Entretanto, conforme se provou ao longo destas linhas, o povo vai morrendo. De fome e de incúria. De miséria.

Por isso, ri-te, palhaço!

(Enquanto não te pedirmos contas…)

1.01.2008

O país de Sócrates - a tempestade aproxima-se

Nuvens negras pairam sobre Portugal e os portugueses.

O ano de 2008 vai trazer mais desemprego, mais fome,

mais miséria e mais desigualdades sociais.

Apobreza vai alastrar, mesmo entre os que (ainda) têm emprego

O pior ano das nossas vidas

Não é preciso ser-se muito atento ou observador para se perceber que este Natal e este Ano Novo foram ainda mais tristonhos e descoloridos do que os do ano passado, que já tinham sido bem piores do que os anteriores.

O desemprego e a falta de poder de compra deram as mãos e passearam-se pelas lojas que há muito deixaram de saber o que significa «não ter mãos a medir», enquanto os festejos de fim de ano quase se limitaram aos fogos de artifício nos locais do costume, ou a pacatas e sombrias esperas, no refúgio do lar, pelas 12 badaladas do costume.

É claro que uma certa franja da nossa sociedade, que nunca soube o que são necessidades – e até se tem dado optimamente com as políticas do «engenheiro» Sócrates – foi para onde costuma ir, gastou rios de dinheiro e, quando pediu um bom 2008, já tinha, à partida, a certeza que assim vai ser. Mas esses são os que estão do lado porreiro do fosso (cada vez mais largo) que separa pobres e remediados (de um lado) dos ricos e muitos ricos (do outro), e para quem a crise tem o condão de, em vez de emagrecer, engordar ainda mais.
O que eu vi, numa breve volta que dei no meu habitual mister de farejar o ambiente, foi que a alegria e a despreocupação de aqui há uns anos atrás, desapareceram quase completamente. Locais onde era habitual as pessoas reunirem-se para celebrarem a passagem do Ano Velho para o Ano Bom, ou estavam fechados, ou mais pareciam um velório. Nas ruas, quase ninguém circulava, e as poucas janelas iluminadas eram outra nota de que a tristeza e a desesperança vão alastrando por toda a parte.

A miséria e o luxo separados por uma rotunda



25 a 30% da população do distrito do Porto é pobre.

A "pobreza envergonhada" é a nova forma de pobreza emergente no distrito,

e reflecte, de um modo geral, o que se passa por todo o país.

Lembrei-me que, há poucos dias, soube-se que, só no Porto, há cerca de nove mil portugueses que vivem em casas, nas chamadas «ilhas» da cidade, onde «os telhados não impedem a chuva de corroer o mobiliário e onde os ratos são convidados indesejáveis, deixando marcas de mordidelas nas orelhas e caras das crianças». E faço notar que isto não são palavras minhas, mas retiradas da reportagem que oportunamente o Correio da Manhã ofereceu aos seus leitores. Nela se retrata toda a miséria e abandono a que parte da população está votada, não só pelo flagelo do desemprego, como por força dos baixos salários.

Mas o curioso desta reportagem é que, depois de mostrar como vivem milhares de portugueses na segunda mais importante cidade do país, o jornalista vai mais longe e diz:

«Ao atravessar a rotunda do Castelo do Queijo, ali mesmo ao lado, a realidade transfigura-se. É outro mundo, onde os BMW recolhem nas garagens das casas de dois milhões de euros, ou mais. Para quem passa pela avenida Brasil, na marginal da Foz, é impossível não reparar nas vistosas moradias.

Ali passamos das rendas de vinte euros para habitações cujo valor pode chegar aos cinco milhões. São casas de excepção e dão forma a uma realidade maior. Portugal é um dos países da União Europeia onde as desigualdades sociais mais se fazem sentir. Se na restante Europa os mais ricos ganham cinco vezes mais do que os mais pobres, em Portugal essa diferença é de 7,2, segundo dados da Eurostat».

Tudo aumenta em Janeiro

- e bem acima da inflação anunciada de 2,1%

Do pão ao gás, dos transportes às portagens,
das propinas à electricidade e à água, tudo vai aumentar
acima da inflação e levar na torrente os míseros aumentos de 2,1%

É este, cada vez mais, o país de Sócrates. E foi já a partir das primeiras horas deste ano que a vida de milhões de portugueses piorou. Aumentos garantidos – e quase todos muito acima da inflação – vão ter o pão (nalgumas regiões e em certas variedades o aumento foi de 30%), a água, os transportes, o gás, a electricidade, as portagens, a famigeradas taxas moderadoras, ou as propinas. O leite não precisou da passagem de ano para passar a pesar mais nos bolsos dos portugueses – o que equivale, em muitos casos, a pesar menos nos estômagos das famílias, especialmente no das crianças.

Continuando a dar provas da sua imensa desumanidade, o ministério da Saúde vai poupar, pelo menos, 330 milhões de euros, só em 2008. Chega-se a este valor com o encerramento dos Serviços de Atendimento Permanente e a diminuição das comparticipações. Com o fecho dos SAP, ficam nos cofres do Estado entre 25 a 30 milhões de euros, valor avançado pelo próprio ministro Correia de Campos, quando, em Maio, se pronunciou sobre os custos estimados dessas unidades de saúde em funcionamento.

A este valor soma-se uma verba de 150 milhões de euros, que não vão ser canalizados para a comparticipação de medicamentos, e outros 150 milhões de euros que não serão destinados à comparticipação dos meios de diagnóstico e terapêutico, como análises clínicas, Raios X, TACs e electrocardiogramas. Assim se brinca, criminosa e desumanamente, com a saúde dos portugueses.

Quinhentas portuguesas já deram á luz em Badajoz

No Hospital de Badajoz, quinhentas portuguesas já deram á luz,

após o encerramento da maternidade de Elvas.

E duas mil fazem ali o seu acompanhamento pré-natal


Entretanto, nasceu mais um bebé em plena auto-estrada que liga Figueira da Foz a Coimbra, o sétimo, desde que o ministro da Saúde encerrou a maternidade daquela cidade.
Outra notícia chama a minha atenção. Diz o DN: «Desde 5 de Junho de 2006, último dia em que funcionou o serviço de obstetrícia da maternidade de Elvas, que fazia mais de 200 partos/ano, meio milhar de crianças portuguesas já nasceram do lado de lá do Guadiana, e pelo menos 2.000 utentes já frequentaram o serviço e o aconselhamento pré-natal do Hospital do Perpétuo Socorro de Badajoz».

Na sala de espera do hospital, o repórter do DN ouviu coisas destas:
«A minha filha já cá teve o meu primeiro neto há um ano, agora venho cá com a outra, que está à espera de gémeos». E referindo-se à cidade: «Os preços são mais baratos, há mais gente, mais jovens, os hospitais são melhores, os cursos de medicina estão cheios de portugueses e muita gente já aqui procura trabalho, porque os ordenados são melhores e há mais emprego».

Um jovem agricultor de Terrugem, que acompanhava a mulher, referiu ao jornalista: «Há alguns meses que vimos cá, já que o nosso filho vai nascer aqui… Se gostava que ele nascesse na minha terra? Gostava, mas não me agradava que lá vivesse durante muito tempo. Talvez este seja um bom prenúncio…».

Não sei como é possível ser primeiro-ministro de Portugal – ou ministro da Saúde – e, perante este quadro, não corar de vergonha, já que não se quer mudar de política.


Nem com os saldos lá vamos




Mas abriu a época dos saldos. E aquilo que, há anos atrás, era um autêntico assalto às lojas, com filas enormes às portas, à espera da abertura, é hoje uma época normal, isto é, com pouca gente a entrar e ainda menos a comprar.

Bem se esforça o governo, através dos papagaios do costume, por desmentir a crise, fazendo constar que as compras de prendas, este Natal, foram superiores em cerca 5% às do ano passado. E como se conseguiu chegar a esta fantástica conclusão? Através dos pagamentos realizados com cartões de débito e crédito! Há coisas fantásticas, não há? Como se fosse possível saber-se, pelo volume de compras realizadas e pagas com esses cartões, qual o valor das prendas, do esparguete, das batatas, do pãozinho ou das bolachas de água e sal.

A verdade – e não é preciso ser-se nenhum génio para aqui se chegar – é que os portugueses compram mais no Natal porque receberam – os que receberam – o respectivo subsídio e reservam, tradicionalmente, esse montante para comprar algumas das coisas de que se privaram nos restantes meses do ano. Enfim, para a quadra não seja tão triste.

Por outro lado – e conforme aqui dissemos a semana passada – as dívidas das famílias portuguesas às instituições financeiras está a subir em flecha, sabendo-se que esta é, precisamente, uma época em que mais se recorre aos milagrosos cartõezinhos.
Bem podem, pois, o governo e PS encomendarem sondagens e mandar palrar os seus fiéis comentadores, que a realidade, nua e crua, aí está à vista de todos.
Por isso, desejar um bom ano de 2008 a quem se estima, por muito sincero que se esteja a ser, não passa de coisa vã, mero acto da liturgia da época.
O ano de 2008, meus amigos, vai ser um dos piores anos da nossa vida.

Fecho com palavras de Guerra Junqueiro, retratando o povo português, escritas no distante ano de 1896. Mas absolutamente actuais:

«Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional – reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta».