7.10.2022

 


Na hora da despedida…

Carta Aberta a Joaquim Santos

(o ainda) Presidente da Câmara Municipal do Seixal

 

Desde a constituição das listas para as autárquicas de 2021, só os eleitores do Seixal mais atentos e informados – isto é: os munícipes mais aptos (e que, infelizmente, não são assim tantos como seria desejável) para avaliar os ardis partidários – é que perceberam que você não iria terminar o Mandato ao qual se apresentou, como cabeça de Lista, pela CDU, à presidência da autarquia.

 

Por estar bem informado, não fui um dos enganados.

 

- Primeiro, porque, no quadro geral de candidatos ao cargo, nem um merecia o valor do papel do meu voto, nem o tempo que gastaria a deslocar-me às urnas;

 

- E segundo, porque, ainda que você merecesse o meu voto, eu já sabia que o futuro presidente da CMS não se chamaria Joaquim Santos (caso vencesse as eleições), mas que isso estava reservado à segunda figura dessa lista, passados que fossem alguns meses sobre a tomada de posse. E até sei que essa figura não foi nada consensual.

 

Aproveito para revelar o outro motivo que também me levou à abstenção, já que poderia ir às urnas, nem que fosse para votar branco ou nulo: foi tirar argumentos maliciosos às pessoas de mau carácter – que abundam nas diversas tribos partidárias – e que logo aproveitariam para garantir que eu votara em qualquer outra força política, pela qual teria renegado a minha ideologia. Abstendo-me, cortei o mal pela raiz.

 

Esclarecido que está este aspecto, vou começar pelo seu inquestionável mérito enquanto presidente da CMS, o qual me parece consensual:

 

Você é o tecnocrata que se dedicou a sanear – a pôr na devida ordem – as contas da Autarquia que herdou de Alfredo Monteiro. Ponto!

 

Mas não lhe reconheço mais nenhum mérito. Ou melhor: para além disso – que não foi pouco, admito! – direi que passou por cá como figura pardacenta, sem carisma, sem humildade, sem empatia, sem ligação real e afectiva à população e aos trabalhadores autárquicos. Nunca foi aceite – e, muito menos, sentido – como coisa nossa. Do Povo, como se costuma dizer.

 

Como gestor dos recursos humanos foi um patrão do piorio. Rancoroso, vingativo e incapaz de gerar – ou gerir – consensos; tem em tribunal vários processos que o obrigam a ordenar recursos sobre recursos, pois não passam de causa perdidas, que os contribuintes vão ser obrigados a pagar no final das contas.

 

Tem sido um maná para escritórios de advogados, com tudo o que isso implica.

 

Não foi, em suma, um autarca comunista, como Alfredo Monteiro já não o tinha sido. E não é. Foi mais um presidente de câmara igual a muitos outros que abundam pelo país fora, e em momento algum houve em si a marca distintiva de um edil comunista. Há autarcas de várias forças políticas perfeitamente idênticos a si, aos quais só os correligionários conseguem tecer elogios.

 

Empatia com a população? ZERO!

 

Melhor que Monteiro? Era fácil!

 

Aliás, desde as eleições autárquicas de 1998 que a gestão municipal passou, no Seixal, a ser uma coisa híbrida, sem chama, sem alma, sem amor e dedicação, estribada – ou valendo-se – apenas, na tradição democrática do Concelho do Seixal e na fidelidade do seu eleitorado, assim desgastando e corroendo a imagem e o património material e imaterial – ideológico, se preferirmos - deste concelho, construído, desde o 25 de Abril, por autarcas nos quais toda a população se revia.

 

Ou seja: não basta ser bom nas contas. É preciso não entender a gestão autárquica como um altar, uma varanda ou um pedestal de onde se exerce o PODER e se debitam umas ave-marias. Não basta atingir o alvo.

 

Aquilo a que um autarca deve aspirar não é, apenas, a ganhar as eleições. É, acima de tudo, usar essa vitória para, através do seu trabalho, se afirmar como «AQUELE QUE SERVE».

 

E aquele que serve não é «O SENHOR PRESIDENTE», mas «ALGUÉM QUE APENAS EXERCE ESSE CARGO» em nome e a favor da sua população sem, no entanto, deixar de ser o cidadão em que os seus concidadãos confiaram.

 

Você, Joaquim Santos, nunca foi capaz de ser um de nós, nem aquele a quem a população deu a honra de estar a defendê-la, contra tudo e contra todos, em cada dia do seu mandato. 

 

Na última Assembleia Municipal (27 de Junho de 2022) quis, essencialmente, não o deixar abandonar o cargo sem o confrontar com a forma desgraçada como compactuou com as agressões contra o Meio Ambiente e contra a Saúde Pública (depois veremos se irão ser crimes ambientais, como se julga, havendo fortes indícios disso mesmo) praticadas, ao longo dos anos, por uma empresa – a SN-Seixal, SA, do Grupo Espanhol MEGASA – que você sempre protegeu extremosamente.

 

E fê-lo em três fases muito bem definidas:

 

Primeiro, negando, até ao limite do mais absurdo descaramento, a existência desses atentados ambientais;

 

Segundo, sacudindo a água do capote, quando a negação deixou de ser possível, despachando toda e qualquer capacidade de intervenção para a administração central, da qual já sabia que nenhuma resposta iria haver. Era notório, já nessa altura, como a administração central e a administração local se completavam na protecção ao infractor. 

 

Terceiro, (e fê-lo sempre em vésperas de eleições – 2017 e 2021), fingindo assumir as suas responsabilidades, que reiteradamente, até aí, se negara a assumir, sabendo que, dessas iniciativas, nenhum resultado sério se obteria, porque as regras do jogo estavam – e estão – viciadas.

 

Nessa sessão da Assembleia Municipal antes referida, pretendi, ao mesmo tempo, colocá-lo perante um espelho que reflectisse aquilo que definiu o seu mandato à frente da Câmara Municipal do Seixal.

 

Questionei-o sobre a falta de resposta a um requerimento apresentado por Os Contaminados – Associação de Protecção do Ambiente e da Qualidade de Vida, nos seguintes termos:

 

«No dia 9 de Setembro do ano passado enviámos à Câmara Municipal do Seixal um conjunto de dez questões relacionadas com a remoção de resíduos resultantes da atividade siderúrgica. Dias depois a Câmara respondeu-nos dizendo, e cito, “a Câmara Municipal do Seixal está a reunir, junto da Baía do Tejo, a informação requerida pela V/ Associação sobre as operações realizadas e resíduos removidos, a qual será remetida com a maior brevidade possível”.

 

Pois bem, Sr. Presidente, passaram nove meses desde a V/ resposta e continuamos a não ter eco às perguntas colocadas, pelo que lhe perguntamos:

 

- O porquê de ainda não termos essa informação e,

 

- O que tem feito a Câmara Municipal para - mesmo sendo aquela uma incumbência da Baía do Tejo - resolver o problema?

 

Mas já que estamos aqui, aproveito também para lhe falar de outro tema relacionado com o passivo industrial do concelho e com a acção, ou inacção, da Câmara Municipal: os estudos epidemiológicos.

 

Passados todos estes anos - e relembro que este assunto já faz para o ano dez anos - continuamos a não ter resposta à pergunta que se impõe:

 

Quantos casos de Carcinoma de Pulmão e Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica ocorreram entre a população de Aldeia de Paio Pires e trabalhadores e antigos trabalhadores da MEGASA, só nos últimos 30 anos?

 

É bom que se esclareça o seguinte:

1.  NINGUÉM, residindo perto da SN/MEGASA, ou nela trabalhando, ou tendo trabalhado, foi alvo de qualquer exame à sua condição de saúde, no âmbito de qualquer estudo;

2.  No estudo realizado, a população de Aldeia de Paio Pires, que ronda as 15 mil pessoas, foi metida num pacote de avaliação com cerca de 50 mil indivíduos;

3.  Foi passada à população a ideia “de que a exposição aos poluentes identificados, não constitua um risco maior para a saúde”.

4.  Esqueceram-se foi de referir algo que o Prof. Pedro Aguiar igualmente disse (e disse-o logo de seguida) – e citamos: “que também não se pode inferir, de forma definitiva, que a exposição aos poluentes identificados, NÃO constitua um risco maior para a saúde”;

 

Por isso, Sr. Presidente, o que lhe perguntamos é:

 

a)  sabe ou não a Câmara Municipal quantos casos de Carcinoma de Pulmão e Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica ocorreram entre a população de Aldeia de Paio Pires?

b)  Para quando os Estudos Médicos que, após a inconclusividade dos realizados, o senhor prometeu?».

 

Em resposta, fiquei a saber que os novos Estudos Médicos por si prometidos à população de Aldeia de Paio Pires, dado os realizados terem sido inconclusivos, JÁ NÃO SERÃO FEITOS.

 

E que você ainda considera que os Estudos anteriores garantiram que não há provas de que a saúde da população esteja a correr riscos devido à poluição a que está sujeita.

 

Sou obrigado a chamar-lhe, sem medo de me enganar, mentiroso e pessoa sem palavra.

 

Você mentiu à população que jurou defender, pois, face à inconclusividade dos estudos realizados, afirmou que iria promover novos estudos, desta vez com base em dados adequados para o efeito.

 

Você, sem mais explicações, faltou, também à sua palavra.

 

Você manteve – ainda – a afirmação falaciosa de que os estudos médicos realizados concluíram que nada indicava que a poluição emitida pela SN-Seixal, SA, da MEGASA, tivesse efeitos negativos na população de Aldeia de Paio Pires.

 

Você sabe, Joaquim Santos que os estudos acrescentam que também «NÃO SE PODE dizer o contrário».

 

Em tempo de despedida, responda-me, Joaquim Santos (a mim e à desprezada população de Aldeia de Paio Pires):

 

- Que estranho poder é esse que a administração da MEGASA tem sobre si para levar um autarca comunista – digamos assim – a mentir e a faltar à sua palavra?

 

- Não considera uma traição à sua população – e, eventualmente, aos seus valores morais e ideológicos – tudo ter feito, ao longo de anos a fio, para negar a realidade que aqui se vive?

 

- Não acha uma tristeza pôr em causa a sua própria honorabilidade nessa pulsão cega de proteger um Grupo Económico que atenta, diariamente, contra a Saúde Pública e o Meio Ambiente?

 

- Porque se negou a colocar, permanentemente, Estações de Medição da Qualidade do Ar e do Ruído, entre a fábrica e a sua (desculpe se o pronome possessivo é inadequado) população?

 

- Iria isso contra os interesses da MEGASA?

 

- Porque não mandou recolher – e enviar para análise, em entidade certificada – as partículas que todos nós apanhamos, engolimos e respiramos?

 

- Porque nunca admitiu a hipótese de, com os dados existentes – que provavam que a fábrica emite partículas potencialmente cancerígenas – recorrer aos tribunais?

 

- A MEGASA zangava-se consigo?

 

- O que o levou a mascarar a poluição com origem na fábrica da MEGASA, com uma fantasia muito abrangente e colorida, chamada «poluição da actividade industrial»?

 

- Foi a MEGASA que exigiu? Ou foi de borla?

 

- Alguma vez supôs, em 2014, que, decorridos oito anos, ainda existiriam pessoas que não se cansariam de lutar e que não se deixariam enrolar com manobras dilatórias, cada uma delas mais repelente que as anteriores?

 

- Você, Joaquim Santos, vai-se embora sem ter aprendido a mais elementar premissa que aprendeu um grande autarca comunista:

 

«Tudo – mas absolutamente TUDO – o que acontece no Concelho do Seixal, diz sempre respeito à Câmara».

(Eufrázio Filipe)

 

Desejo-lhe, mesmo a acabar, que o seu futuro job (consta por aí que vai ser director executivo numa coisa chamada Transportes Metropolitanos de Lisboa), possa merecer mais atenção da sua parte do que aquela que a população de Aldeia de Paio Pires mereceu.

 

 

João Carlos Lopes Pereira.

Cidadão


5.28.2014


Finalmente, vai nascer o verdadeiro PS
Ó Costa, apressa-te filho!


Vindo de um recôndito ponto da Via Láctea, chegou a Lisboa António Costa, que vai dar à luz o verdadeiro PS. Informou os jornalistas que o PS dos últimos 40 anos não passa de um boneco insuflável. «O PS socialista e de esquerda está aqui comigo, no meu ventre».

Pronto. Está explicada a razão que levou o PS a ter uma vitória pífia nas eleições europeias. Foi a cara do Tó Zé. Ou seja: não foi o PS; foi o PS à Tó Zé. Se tivesse sido com a cara do António Costa, isto é, um PS à Costa, outro galo cantaria. Os eleitores olharam para a carinha do Tó Zé, sentiram ali muita moleza, não gostaram do sorriso angelical, tipo papo-de-anjo, nem da vozinha meio aflautada, vai daí, abstiveram-se ou votaram no Marinho, que fala mais grosso e descasca o pessegueiro todo.

Ora um PS à Costa ameaça ser também uma coisa de barba rija, de voz encorpada, abaritonada. Mas a coisa não está nada fácil. E complica-se porque há muita gente que ainda não se esqueceu do PS à Sócrates, todo ele parlapié de primeira apanha, pimpão, aquele PS onde nada do que parecia era – ou se era, era sempre como se não fosse, ou vice-versa, ou seja, onde qualquer intrujice tinha ares da verdade mais absoluta. Não era o PS propriamente dito; era o PS à Sócrates, que nada tinha a ver com o PS verdadeiro. E

 também ainda há quem se lembre do PS à Guterres, uma espécie de pântano profilático, quase monástico, muito bem soletrado, mas de onde se saiu completamente de tanga, o Barroso que o diga. Note-se mais uma vez: o PS à Guterres não era o verdadeiro PS. Guterres era meio lasso, um beato, quase de batina, paramento que cairá a matar num presidente cá do saguão, que para o que é – e para quem é – bacalhau basta. E para suceder à cavacada, até um Tomaz qualquer servia.

E, claro, há o PS primordial, à Mário Soares, mas esse foi chão que deu uvas. Outros tempos. Esse é que era um PS de arromba! Pachola, funâmbulo, truão, impostor, ilusionista, enfim, um circo completo. O PS à Marocas era aquele que tirava tudo da cartola: o socialismo de rosto humano, a Europa connosco, mas paga lá isso com os contratos a prazo, os salários em atraso e a indústria que se copule. E as maravilhosas privatizações a saírem da manga do lado direito, enquanto que da manga do lado esquerda saía a chave da gaveta mágica onde meteu o socialismo e, zás, um fogaréu à maneira e lá desapareceram o socialismo, a gaveta, a chave, a secretária e, mais um bocado, até o país ia desaparecendo.

Foi por essa altura, em 1977, que veio o FMI na sua Versão Número Um, que deixou uns trocos e levou 111 toneladas de ouro. Isto é: foi aí que começou a grande farra. O PS à Marocas haveria ainda de trazer o FMI, na Versão Número Dois, decorria o ano de 1983. Uma maravilha: congelamento de investimentos públicos; descida de salários reais na função pública (“servindo de exemplo para as negociações salariais do sector privado”, como assinala a carta de intenções) e congelamento de admissões de trabalhadores; subida de impostos e imposição de um imposto especial sobre o rendimento - um corte de 28% no subsídio de Natal de 1983. Ou seja: subida de preços, queda de salários reais, disparar do desemprego.

Mas, atenção: O PS à Marocas era o PS à Marocas. O verdadeiro PS era – seria – outra coisa. Ou apenas uma ideia. Pois claro. O PS – o PS, Partido Socialista (salvo seja e benza-o Deus) – nunca teve nada, nadinha, mesmo, a ver com isto. O PS queria, quer e quererá sempre o contrário daquilo que os seus secretários-gerais fizeram, ou fazem.

O Marocas foi à vida e sentiu-se uma passarinho – um passarão, melhor dizendo – a quem abriram a gaiola. O Guterres entrou em pânico e fugiu do pântano – e até lhe ia dando uma coisinha má. Refugiou-se na ONU, a tratar dos refugiados; o Sócrates safou-se da prisa, ou do hospício, e foi aprender a falar franciú à conta de umas economias misteriosas; o bom do Tó Zé vai, um dia destes, pastar ovelhas, a quem confessará que nunca ouviu falar de uma assinatura que o PS fez no Memorando de Entendimento com a Troika. As ovelhas dirão méééé, o que deixará o Tó Zé muito contente.

(Um breve parênteses para recordar que estes Pê Esses todos sempre se deram bem, no essencial, com o PSD e o CDS. Chegaram a viver juntos em S. Bento e, entre um arrufo ou outro, a verdade é que com papel assinado, ou em união de facto, têm mantido uma relação muito estável. O amor tem destas coisas, e quando há química…).

É aqui, então, que entra um Costa, socialista dos quatro costados, que chegou recentemente a Lisboa, vindo de um recôndito ponto da Via Láctea, ou mesmo da sua vizinha, Andrómeda, ele às vezes há coisas que ninguém sabe ao certo. Seja como for, vai ser este Costa o tal Messias que, pela primeira vez na vida, dará ao PS, dando-se ele próprio, um dirigente verdadeiramente socialista. E o PS será, então, um partido de esquerda. O Costa vai descobrir a chave e a gaveta onde o Mário meteu o socialismo, limpá-lo muito bem e – Aleluia! Aleluia! – dar ao Povo o que é do Povo. Fazer cumprir Abril.

Ou seja: o Costa vai parir o verdadeiro PS. Até agora, o que andou por aí era um PS insuflável. E a malta toda a masturbar-se só de olhar para aquilo, a pensar que era a sério.

Ó Costa, apressa-te filho! Se não, quem vende a Caixa Geral de Depósitos ainda é o Coelho.

11.08.2013

A LOIRA ABRIU (TAMBÉM) A BOCA

A loira (Margarida Rebelo Pinto) não percebe - e os loiros que lhe batem palmas também não. Não percebem o quê? Uma coisa muito simples. Esta: o que está em curso em Portugal e no mundo é um ataque gigantesco à riqueza (salvo seja) existente nos «bolsos» dos trabalhadores para os «cofres» do grande capital. A Crise é o pretexto. Mas quem fez a Crise? Esta é a pergunta chave. Não fui eu, nem milhões como eu, nem a loira (MRP), nem os loiros (que lhe batem palmas).
Mas se eu perguntar quem é que paga a Crise, aí todos sabem. Mas porque será que, só em Portugal, enquanto nove milhões empobrecem - à conta de crise - as grandes fortunas aumentaram? Só os broncos e as suas loiras é que não sabem responder a isto.
 
Ou sabem, mas então já não são loiras nem loiros. São filhos da puta.

10.22.2013


Miguel Passos de Vasconcelos Coelho

Com o Orçamento Geral do Estado para 2014, que se limita a insistir nas receitas que, supostamente, seriam a solução para a crise, as únicas coisas que teremos como garantidas serão o alastramento do desemprego e a continuação do empobrecimento das famílias, na sua maioria atiradas para uma situação de pura sobrevivência. Daí advirá a diminuição da procura interna – uma ainda maior redução do consumo – levando a cada vez mais falências das pequenas e médias empresas, a continuação da destruição do aparelho produtivo e o consequente aumento da nossa dependência do exterior. Assistiremos, como já vai acontecendo, à vulgarização da fome e da miséria – chamam a isso, cinicamente, os sacrifícios necessários para sairmos da crise – ao aumento da emigração, assente na fuga para o estrangeiro dos portugueses mais jovens e mais qualificados, porque irá continuar a bárbara e perversa abolição de direitos sociais, a par da redução obscena dos salários e reformas, do que decorrerá o aumento das desigualdades sociais: o alargamento do fosso – ou do abismo – entre ricos e pobres. Portugal estará, então, no chamado mundo ocidental, ao nível dos países terceiro-mundistas, a caminho do subdesenvolvimento absoluto, regredindo a tempos só comparáveis com os piores anos do salazarismo. Mas em vez de país colonizador, será um país colonizado. 
Aqui coloca-se uma questão: saber se tudo isto acontece porque Passos não passa de um imbecil incompetente, incapaz de tirar ilações do que é mais do que óbvio; ou se, pelo contrário, se limita a ser um competentíssimo executor de políticas destinadas a conduzirem o país, precisamente, ao que estão a conduzir. Isto é: Passos é um néscio que entrou em parafuso, ou um diligente tarefeiro ao serviço dos grandes interesses financeiros que controlam o mundo? A resposta parece-me simples: é as duas coisas.

Ele é um mentecapto, porque não percebeu – nem percebe – que só ascendeu à liderança do PSD porque nenhum dos barões do seu partido aceitou ser esturricado ao serviço da estratégia de retrocesso civilizacional em curso, visando, a nível planetário, substituir o Estado Social pelo Estado Assistencialista (o chamado Estado da Esmola), e o Trabalho com Direitos substituído pelo Trabalho Servo, a caminho de algo equivalente à escravatura. Não que o baronato do PSD não esteja de acordo com isso, mas porque é sempre preferível entregar o trabalho sujo a um bronco que, por mera vocação para a sabujice, aliada a impenitente vaidade, a isso se sujeite.

Por isso mesmo Passos é, para além de um néscio inculto e intelectualmente limitadíssimo, o tarefeiro servil, o moço-de-fretes ideal para qualquer serviço, já que na sua estreita mente de ser parasitário, forjada ao longo de uma existência fútil e nada exemplar – e que, precisamente por isso se desenvolveu à margem da vida real e dos seus problemas concretos – se encasularam os ideais desumanos do neoliberalismo, que se limita a servir mais por instinto – melhor: mais porque julga ser do seu interesse pessoal fazê-lo – do que por convicção.
Passos é uma triste e miserável réplica de outro português que sacrificou o seu povo e o seu país em nome dos interesses estrangeiros. Ele é o Miguel de Vasconcelos (1) do nosso tempo. E, tal como o lacaio traidor que fazia de primeiro-ministro da duquesa de Mântua, também ele desempenha, em nome de interesses estrangeiros, o mesmo papel que o seu antecessor executava ao serviço da dominação filipina.

Passos sabe muito bem que a austeridade com que fustiga os portugueses só tem um objectivo: sujeitar à vontade – aos interesses – da oligarquia financeira que pretende dominar definitivamente o mundo, um exército de homens e mulheres dispostos a tudo por uma côdea de pão. E o pior é que isso não colide com a sua visão da sociedade, de democracia, ou, sequer, de Liberdade.

(1)  – Miguel de Vasconcelos e Brito. Político português, desempenhou no Reino de Portugal os cargos de escrivão da Fazenda e de secretário de Estado (primeiro-ministro) da duquesa de Mântua, vice-Rainha de Portugal, em nome do Rei Filipe IV de Espanha (Filipe III de Portugal) e valido do conde duque de Olivares.

Era odiado pelo povo por, sendo português, colaborar com a representante da dominação filipina. Tinha alcançado da corte castelhana de Madrid plenos poderes para aplicar em Portugal pesados impostos, os quais deram origem à revolta das Alterações de Évora (Manuelinho) e a motins em outras terras do Alentejo. Foi a primeira vítima do golpe de estado do 1.º de Dezembro de 1640. Depois de morto, foi arremessado da janela do Paço Real de Lisboa para o Paço da Ribeira, pelos conjurados. No chão, foi esquartejado pelo povo e os seus restos deixados aos cães.

 

 

7.03.2013

Já deram o que tinham a dar

Já deram o que tinham a dar, ouvi dizer.
Foram-se embora porque já deram o que tinham a dar?

NÃO! FORAM-SE EMBORA PORQUE JÁ ROUBARAM O QUE TINHAM A ROUBAR!
PORQUE É PRECISO, AGORA, MUDAR DE LADRÃO. PARA QUE O SAQUE TENHA MAIS EFICIÊNCIA.

A questão, portanto, é a seguinte:  
Voltamos à vaca fria (PS), para daqui a alguns anos voltarmos outra vez à vaca que agora vai arrefecer (PSD)?

Ou exigimos que políticos e banqueiros prestem contas ao país, obrigando-os a que nos digam onde param os milhões dos nossos impostos, mais os milhões das nossas contribuições para Segurança Social, mais os milhões dos fundos comunitários.
Sim! Das duas, uma:

- ou este país muda de vida e corre de vez com os parasitas que se locupletaram com o nosso dinheiro e venderam as nossas empresas ao desbarato, enquanto, pelo meio, em burlas gigantescas – que foram resgatadas com os nossos impostos – levaram o país à falência física e moral, e escolhe para o lugar destes criminosos homens e mulheres sérios e patriotas, que nada tenham a ver com os bandos que, até agora, governaram, gente que nunca se deixou infectar pelo vírus da corrupção, que nunca se amigou com a chusma de políticos e banqueiros que nos levaram a desastre…

- ou volta à falsa solução da alternância e nunca mais a fome e a miséria deixarão de morar nas casas portuguesas.

SIM! NÃO CHEGA MUDAR DE VAMPIROS.

6.28.2013

Era só isto que faltava!
Caiu a máscara à UE
- Banqueiros vão poder deitar a mão ao dinheiro dos  depositantes


A União Europeia acabou de dar o passo necessário para que os banqueiros possam ficar com o dinheiro dos depositantes De borla. A manobra, que começou a ser cozinhada em Chipre, é agora decisão da «democrática» UE. Por enquanto, avançarão os depósitos acima dos 100 mil euros, depois… logo se verá.
O precedente está criado. O método foi aprovado. Os depósitos bancários acima dos 100 mil euros vão mesmo ser chamados a pagar os resgates dos bancos, caso seja necessário. Os ministros das Finanças da zona euro chegaram a acordo sobre as regras para salvar as instituições bancárias em dificuldades. Serão então os bancos e os credores a chegar-se à frente e só depois os depósitos mais altos. Isto é: os banqueiros (privados) declaram que estão em dificuldades, ficam com o dinheiro dos depositantes… e por aqui me sirvo.

E o que é que acontece aos banqueiros que derem cabo dos bancos? Continuam a ser banqueiros? Claro que continuam. São eles que mandam em Portugal, na União Europeia e no mundo. São eles quem manda nos governos. Se alguém tinha dúvidas, a prova aí está.
Será preciso mais alguma coisa para se perceber ao serviço de quem está a União Europeia? Sem dúvida que é ao serviço do grande capital financeiro. Como se não bastasse controlarem todo o sistema financeiro, construindo e desconstruindo crises a seu bel-prazer, os banqueiros passam a ser, de forma absoluta, donos dos dinheiros dos depositantes. Basta declarar que estão em dificuldades.

Para cúmulo da hipocrisia, a União Europeia decreta que avançarão, primeiros, os accionistas e os credores. Mas quem sabe, antecipadamente, que os bancos estão em dificuldades? Aliás: quem é que os pôs em dificuldades? Por acaso, serão os accionistas e os credores – uns e outros obreiros da crise. Na altura de se «chegarem à frente», já nenhum deles terá bens em seu nome.
Por outro lado, e como a maior parte dos depositantes com mais de cem mil euros depositados é, geralmente, gente bem informada, grande parte desses depositantes terá feito aquilo que se percebe: transferido os seus depósitos para sítio seguro.

Então, quem resta para pagar a crise? Quem é?

Será que nem agora o Povo abre os olhos?

Será que é preciso mais alguma coisa para se perceber a manobra que, de há anos a esta parte, está em curso? Este é o saque final.

Perceberam, agora, o que é o capitalismo?
Perceberam, agora, o que é aquilo a que eles chamam Democracia?

Perceberam, agora, quem são, e que interesses servem, na verdade, as pessoas – e os partidos – em que a maioria dos cidadãos tem confiado?

 

6.22.2013

Contra o Terrorismo


- Ao governo dos EUA
- À NSA e à CIA
- Ao Google
- Ao Facebook
- À Microsoft

- E a quem mais possa  interessar, governo (sipaio) português e SIS incluídos.

Eu João Carlos Lopes Pereira, cidadão do mundo com nacionalidade portuguesa, conhecedor da decisão do governos dos EUA em aceder a dados que lhe facultem informação sobre qualquer cidadão de qualquer nacionalidade – logo, sobre a minha vida privada, no sentido de avaliar se constituo um risco para a segurança interna dos EUA e, consequentemente (porque é essa a visão norte-americana das coisas), para a própria humanidade –, permito-me informar-vos do seguinte:
- Autorizo que vasculhem toda a minha vida, passada, presente e futura, pois nada do que penso, digo e faço é, do meu ponto de vista, imoral, ilegítimo ou ilegal. Logo, não é secreto;

- Para vos facilitar o entendimento da pessoa que sou, acrescento:

1 – Considero serem os EUA uma potência terrorista – aliás, a maior organização terrorista do mundo –, capaz de arranjar as mais alvares e descaradas mentiras para, a coberto delas, invadir países e sujeitar os respectivos povos às mais atrozes violências, apenas porque os seus governos não se sujeitaram a prestar vassalagem ao poder emanado de Washington. Só nos últimos 70 anos, milhões de civis (incluindo mulheres, crianças e idosos de todas as raças e credos), foram vítimas de bombardeamentos (com armas convencionais, químicas ou nucleares), abatidos a tiro, presos e torturados directamente pelas forças armadas americanos ou por mercenários a seu soldo, ou foram vítimas de aparelhos repressivos inspirados e apoiados pelos EUA;

2 – Que esse poder nada mais é do que o resultado da obediência cega da administração norte-americana aos lobies económicos e financeiros que a dominam e a usam para os fins que têm por convenientes;

3 – Que, nessa ordem de ideias, os EUA consideram-se autorizados a ter sob observação e controlo todos os movimentos sociais, políticos e culturais do planeta, principalmente porque têm como desígnio o domínio absoluto da economia mundial – sendo o dólar (que não vale o papel em que é reproduzido) um instrumento desse mesmo domínio – com vista a garantir a defesa daquilo a que chamam «os seus interesses vitais»;

4 – Trata-se de algo, como facilmente se conclui, muito semelhante ao conceito de «espaço vital» que Hitler utilizava para justificar a sua política expansionista e de controlo absoluto da humanidade;

5 – A história da humanidade, nos últimos dois séculos, é, pois, um  extenso e sangrento painel que regista várias centenas de intervenções armadas dos EUA em países espalhados por todo o planeta, incluindo apoio expresso e confessado a golpes de cariz ditatorial, de matriz fascista, de que são meros exemplos os golpes de Pinochet, no Chile, e de Suarto, na Indonésia;

6 – Considero, portanto, que os conceitos de democracia e liberdade, made in USA, se desenvolvem em obediência àquilo – e apenas àquilo – que interesse à oligarquia financeira que domina o planeta, sendo considerados proscritos – e, consequentemente, terroristas – todos os que não se sujeitarem ao poder do dólar. Ao poder financeiro;

7 – Seria, pois, supérfluo discriminar os vários ditadores que os EUA apoiaram, apoiam e, certamente, continuarão a apoiar, pois grande ingenuidade seria imaginar que os EUA não estão dispostos a continuar a fabricar os ditadores necessários à manutenção da sua actual hegemonia;

8 – No fundo, vejo os EUA como uma potência colonial, de timbre totalitário, capaz de imolar milhões de pessoas no altar dos seus «interesses vitais», revelando-se como o maior inimigo da Liberdade e dos Direitos Humanos, apesar de se autoproclamar o principal defensor desses valores;

9 – Para que não restam dúvidas do que penso em relação aos perigos que os EUA representam para a humanidade – de que o escândalo do PRISM é apenas mais um infame detalhe – declaro que jamais denunciaria um «terrorista» procurado pelos EUA, tal como jamais avisaria os EUA de qualquer ataque «terrorista» de que, eventualmente, tivesse conhecimento;

 
10 – Concluindo: se o mundo fosse justo e verdadeiramente livre, há muito que vários presidentes dos EUA se teriam sentado, antes de quaisquer outros, no banco dos réus do Tribunal Internacional de Justiça de Haia. Muitos outros, por crimes bem menores – ou, até, por crimes nenhuns – ali foram julgados e condenados, só porque isso convinha aos interesses dos EUA.

(Publicado no Facebook, no blog www.umaterrasemamos.blogspot.com, lido na Rádio Baía, enviado para os principais órgãos de comunicação social, Grupos Parlamentares e Presidência da República).