Sim, senhor
«A entrevista da SIC e do Expresso a Sócrates não foi uma entrevista, foi uma sessão de propaganda.» A frase é de Vasco Pulido Valente, na sua crónica publicada no jornal Público, de 19 de Fevereiro.
Castanheira Barros, que é o advogado que não desiste de lutar contra a co-incineração no Outão – e no país – enviou-me, por seu turno, esta observação: «Nunca imaginei ser possível pôr dois passarinhos a entrevistar um papagaio. Só mesmo a televisão de Carnaxide seria capaz de uma tal proeza».
Outra opinião: «A entrevista televisionada de 18 de Fevereiro, ao primeiro-ministro José Sócrates, pode ser chamada de conivência jornalística. Neste jogo de cartas marcadas, os que fazem figura de jornalistas estão ali só para fingirem que são isentos. Mas o seu verdadeiro papel é dar as "deixas" e evitar cuidadosamente perguntas que ponham em causa a política neoliberal do governo Sócrates. A técnica destes senhores é cingirem-se aos temas de conjuntura, esquecer os de estrutura e respingar uns salpicos de pequena política. Triste jornalismo este».
Esta visão da cordial conversa foi publicada no site http://www.resistir.info/. Juntas, as três opiniões que transcrevi, completam-se e resumem exactamente o que penso da referida entrevista. Confesso, aliás, que não esperava outra coisa: de Sócrates, o elogio das suas políticas; dos jornalistas, o cuidado de não confrontar o «engenheiro» com a triste realidade social e económica de um país, onde cada vez mais portugueses, quando metem a mão no bolso, só tiram de lá os cinco dedos, como dizia o célebre humorista brasileiro, Apparício Torelli.
Bem pagos – e com emprego certo – os senhores jornalistas não estavam interessados em desagradar ao chefe, coisa perigosa nos tempos que correm. Na verdade, emprego e remuneração dependem sempre – e cada vez mais – de se estar (ou não) nas boas graças de quem manda. E quem manda, por agora, todos sabem quem é. Dobrar a espinha, refrear a língua, ser-se serviçal, faz bem à estabilidade laboral e à conta bancária. (Soube-se, depois disso, que a mulher de um desses jornalistas, irmão da actual presidente da C. M. de Lisboa, assuniu funções de consultora externa do Gabinete de Comunicação da nova ministra da Saúde, Ana Jorge).
Jornalista que se prezasse, que honrasse a sua profissão, teria dito ao chefe dos socialistas e do governo que, para lá da manipulação dos números, há uma realidade vivida por centenas de milhares de portugueses que nem das estatísticas fazem parte.
Isto é: os jornalistas não tiveram a coragem de confrontar Sócrates com as consequências reais das suas políticas, tanto na questão do desemprego, como nas outras áreas abordadas, com a Saúde e a Educação à cabeça. Em vez disso, foi um acabrunhante «sim, senhor primeiro-ministro», reverencial e calculista, não fosse o diabo tecê-las. Eles sabem bem do que Sócrates é capaz, e como certos jornalistas já sentiram na pele a chicotada das irritações do chefe dos socialistas. (Que me desculpem os socialistas a sério).
Mas estamos conversados a este respeito. Afinal de contas, as coisas não mudaram assim tanto desde os velhos tempos de Salazar e Caetano.
Apartamentos de luxo para uns,
Carvalho da Silva no Congresso da CGTP, desmontou as políticas assassinas do PS. A comunicação social esforçou-se por omitir as críticas mais contundentes
Uns dias antes, um homem que não se conforma com a situação miserável a que o país chegou, perguntava. «Como é que se percebe que, em 2006, em Portugal, 100 famílias tenham visto crescer os seus rendimentos em 36%, quando a esmagadora maioria da população teve os seus vencimentos estagnados?». A pergunta, feito por Carvalho da Silva, na apresentação de um estudo sobre as desigualdades elaborado pela CGTP, revela que, no outro lado da moeda, existem mais de 300 mil famílias sem rendimentos. Face a isto, quem se poderá espantar que Portugal seja, no âmbito da UE, o país onde o fosse entre ricos e pobres mais largo é, e, ainda por cima, está em alargamento constante?
A ilustrar o que acabei de dizer, dou-vos um belo e sugestivo exemplo. No campo Grande, foi construído, e está em fase de comercialização, um condomínio de luxo. Os preços começam em 1 milhão de euros nos pisos inferiores, vão subindo conforme a altura, e terminam em 4,5 milhões de euros, nos pisos superiores, ou seja, oscilam entre os 200 mil e os 900 mil contos. Uma ninharia. Apenas quero esclarecer que os pisos superiores (os tais de 900 mil contos), já foram todos vendidos.
Entretanto, milhares de portugueses, especialmente jovens casais, perdem as suas casas, pois o desemprego ou a degradação dos seus salários retiram-lhes o direito a uma habitação digna e, inclusivamente, à sua própria subsistência, tal como a Constituição da República determina e a Declaração Universal dos Direitos Humanos consagra. Em Portugal, pelo que se vê, tanto a Constituição da República, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, só têm aplicação prática em 10% da população.
Viva a República!
Viva a Democracia !
(Albergues de parasitas)
Mas já que estamos a falar em desemprego e baixos salários, termino, para desanuviar, com uma interessante lista que ilustra precisamente o contrário. Trata-se uma breve recolha de exemplos onde se verifica que os senhores políticos têm sempre uma dourada linha de fuga após os seus gloriosos tempos de governação. Ou seja: que políticos e senhores da alta finança estabeleceram um eficaz vaivém de cadeirões e gabinetes, um toma-lá-dá-cá de convenientes conivências, de tal modo que ser-se ministro escancara as portas dos conselhos de administração de empresas públicas ou privadas, e ser-se gestor é meio caminho andado para se chegar a ministro.
- José de Oliveira e Costa: de Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, saltou para presidente do Banco Português de Negócios (BPN);
- Rui Machete: de Ministro dos Assuntos Sociais, foi a presidente do Conselho Superior do BPN e presidente do Conselho Executivo da FLAD
- António Vitorino: de Ministro da Presidência e da Defesa vai a vice-presidente da PT Internacional e a presidente da Assembleia-Geral do Santander Totta;
- Celeste Cardona: de Ministra da Justiça passou a vogal do CA da CGD;
- José Silveira Godinho: de Secretário de Estado das Finanças, a administrador do BES;- João de Deus Pinheiro: de Ministro da Educação e Negócios Estrangeiros, a vogal do CA do Banco Privado Português;
- Elias da Costa: de Secretário de Estado da Construção e Habitação, a vogal do CA do BES;- Ferreira do Amaral: de Ministro das Obras Públicas (que entregou todas as pontes a jusante de Vila Franca de Xira à Lusoponte) a presidente… precisamente da Lusoponte;
- Mira Amaral: de Ministro da Economia a administrador da CGD, de onde é reformado, após 18 meses de exaustivo trabalho, com uma reforma de 3.600 contos mensais.
E, caros amigos, por falta de espaço e tempo, fiquemo-nos por aqui, que para exemplo já basta. Mas são estes – ou outros parecidos – que compram os tais apartamentos de 900 mil contos.
Entretanto, viva a República!
E – principalmente – viva a Democracia nacional-socialista, que é, actualmente, o maior albergue de parasitas de que há memória neste desgraçado país.
3 comentários:
Que dizer, meu amigo, desta raiva repetida tantas vezes? Que dizer, agora, quando ainda demora a nossa festa e os poetas se cansaram desta rima? Que dizer agora?
Não sei que dizer, mas sei que não podemos ficar em silêncio!!
Fica bem , Amigo!!
O CHEFE MÁXIMO DO PESSOAL MENOR
ALTEROU A AGENDA POLÍTICA
PARA O SEU COMÍCIO NO PORTO
PORQUE A AGENDA
ESTÁ NA RUA E A DETERMINAR
A MAIORIA ESMAGADORA
DÁ SINAIS DE TOSSE
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