11.15.2008

De Maria de Lurdes e outras calamidades

Uma ministra alucinada, um «engenheiro» egocêntrico
e um partido que envergonharia a velha União Nacional,
são as grandes atracções do Grande Circo Lusitano

O Grande Circo Lusitano

A ministra da Educação, entrevistada no dia da gigantesca manifestação dos professores, entre várias diatribes indicadoras do seu desespero e, acima de tudo, da falta de argumentos que suportam as medidas governamentais para o sector, regorgitou que tudo tinha a ver, essencialmente, com estratégias partidárias e o ano eleitoral que se aproxima.

Ao ouvi-la, lembrei-me de Salazar, que costumava atribuir aos comunistas qualquer vestígio de contestação à ditadura. Há tiques – e desculpas – que definem a mentalidade de quem os usa, do que resulta que não é democrata e decente quem quer – ou disso se rotula – mas quem intrinsecamente o é.

Na altura em que expeliu afirmação tão bafienta, a senhora ministra, do alto da sua arrogância e prepotência, acrescentou que a manifestação também era uma forma de chantagear as escolas e os professores que, segundo ela, eventualmente acatam as malfeitorias do governo socialista. Nessa altura, bem poderia – e deveria – o jornalista ter-lhe perguntado se alguns desses professores também não terão o seu partido (no caso, o PS) e, por isso, agirão mais por devoção partidária, e menos em defesa dos seus interesses profissionais e, acima de tudo, em defesa da escola, do ensino e da formação dos alunos que têm a seu cargo.

Poderia perguntar-lhe, também, se a ministra não tem conhecimento das enormes pressões exercidas pelo aparelho socialista instalado nos vários patamares da hierarquia do sector, que vão desde a actuação dos rasteiros e dissimulados bufos, até à descarada repressão de responsáveis pelas direcções regionais de educação – de que é exemplo flagrante uma tal Margarida Moreira, matrona socialista, de vocação inquisidora, a que junta uns laivos repressivos herdados do regime anterior. Mas o jornalista não se lembrou destas elementares perguntas ou, então, achou mais prudente não irritar a senhora e, por consequência, o «engenheiro», que assim não precisou de se incomodar a telefonar para o responsável da estação, exigindo que o atrevimento fosse devidamente punido. Como já fez noutras oportunidades.

Mas deixemos, por agora, D. Maria de Lurdes e os seus fantasmas, para olharmos o país em geral, onde a pobreza continua a alastrar. E se pensam que se trata de uma afirmação minha, subversiva e sectária, desiludam-se. Quem o afirma é a própria igreja católica, pela voz dos seus bispos, que garantem não deixar de lutar contra a pobreza, chamando a atenção para o facto de haver cada vez mais famílias a passar fome em Portugal.

Discursando na Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, realizada em Fátima, o arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, afirmou mesmo que o governo devia proteger mais as famílias e fazer do combate à pobreza a sua principal preocupação. Repito: a sua principal obrigação.

«Numa sociedade dita avançada é confrangedor deparar com as dificuldades vividas no interior de muitos lares. Começam a faltar bens essenciais e a vergonha torna a pobreza mais angustiante», afirmou D Jorge Ortiga, salientando que «não se pode ignorar e desconsiderar as grandes dificuldades económicas em que se encontram muitas das nossas famílias, particularmente os mais jovens e os reformados».

Como que respondendo a isto, em Oliveira de Azeméis encerrou mais uma fábrica, a IBEL, lançando para o desemprego cinquenta trabalhadores. São mais algumas famílias que vão engrossar a lista angustiante dos que não sabem como vão sobreviver daqui para a frente. Claro que estes postos de trabalho que se perderam não contam para a contabilidade de José Sócrates mais os seus mirabolantes 150 mil novos postos de trabalho, já que para a contabilidade do senhor «engenheiro» não existe a coluna do deve, mas apenas a coluna do haver.

Entretanto, o preço do petróleo já está abaixo dos 50 dólares, quando há poucos meses se cotava a 140 dólares. Resultado desta descida? A redução, de vez em quando, de alguns cêntimos no preço dos combustíveis. Pergunta ingénua: porque não voltam os combustíveis aos preços aproximados daqueles que vigoravam quando o petróleo se transaccionava ao preço que tem hoje?

Ao mesmo tempo, a União Europeia quer que Portugal reduza as suas capturas de pescado em águas nacionais, propondo um corte de 40% para o carapau e cortes inferiores, mas significativos, para outras espécies. Tudo isto levará a preços mais caros, a mais desemprego e a um maior endividamento do país ao estrangeiro, já que o pescado que não podemos capturar passará a ser importado. Veremos como vai reagir o governo, mas o costume é curvar-se à vontade comunitária, depois da palhaçada de algumas reduções simbólicas à proposta inicial.

No capítulo da segurança, continuam os assaltos para todos os gostos. Portagens, cafés, ourivesarias, bancos, pessoas na via pública, e por aí fora. Nas Caldas da Rainha, por exemplo, uma mulher, de 68 anos, foi picada com uma seringa, arrastada pelo chão durante vinte metros e agredida a pontapé por um ladrão, toxicodependente, que acabou por lhe roubar dez euros. Apesar da violência do roubo, que obrigou a vítima a receber assistência hospitalar, o assaltante, entretanto detido, ficou em liberdade a aguardar o julgamento. E, provavelmente, com a sua indispensável seringa, paga por todos nós, e que por não ser considerada uma arma, não carece de licença.

Bem fez o proprietário de um café no Barreiro, que despachou o seu assaltante com sete tiros, não fosse terem falhado os seis primeiros. Também um dos assaltantes de uma cabine das portagens de Auto-estrada 1, em Santarém, acabou morto por atropelamento, durante a perseguição movida pela GNR. Desculpem-me a insensibilidade, mas não senti a mínima pena.

No meio disto tudo, a trapalhada com o Banco Português de Negócios, a provar que as nacionalizações apenas são boas quando se trata de pôr os portugueses todos a pagar as vigarices dos banqueiros. Misterioso – ou talvez não – é o comportamento do socialista Constâncio, que governa o Banco de Portugal. Há anos que se acumulavam indícios do que realmente se passava, desde livros publicados a denúncias de auditores credíveis e a relatórios da equipa que investiga a Operação Furacão. Victor Constâncio, cuja competência todos salientam, curiosamente não viu nada, não ouviu nada, e, claro, nada fez – ou pouco fez. É muito pouco, tendo em atenção o muito que ele ganha. Mas, como é costume em Portugal – e a este nível – tudo vai dar em águas de bacalhau. Apostam?

E sabem uma coisa? Eu adivinhei que a D. Fátima Felgueiras ia ser condenada… mas com a pena suspensa.

Também não era preciso ser muito esperto para adivinhar isto, pois não?

1 comentário:

goooooood girl disse...

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