10.01.2008

Do «Magalhães» à Wall Street

Qual a semelhança entre o computador Magalhães
(como invenção nacional) e a Wall Street? São ambos ficção.

Das pequenas e das grandes mentiras

Porque as escolas continuam a fechar um pouco por todo o interior do país, em Montalegre, por exemplo, há crianças que passaram a ter de viajar duas horas por dia para frequentarem o ensino básico. Há outras cujos pais admitem colocá-las em estabelecimentos de ensino espanhóis, por ficarem mais perto das suas residências.

Entretanto, a ministra da educação diz que o Inglês chegou a todas os alunos do primeiro ciclo. Contudo, na Escola do Ensino Básico n.º 2 de Massamá, no segundo ano, os pais foram informados que a escola não tinha condições para dar aquela disciplina. E outras existem nas mesmas condições.

O governo de Sócrates também fez a festa e deitou os foguetes relativamente aos novos passes sociais para estudantes. Contudo, há pais a queixarem-se de que, para solicitar o dito passe, se vêem obrigados a saltar de empresa de transportes para empresa de transportes, porque cada uma levanta o seu problema. E que, quanto à apregoada redução de 50%, as coisas não são bem assim, pois um passe que custava 38 € não passou para 19 €, como seria de esperar, mas apenas para 24 €.

Quanto ao famoso Magalhães, a coisa tem mais para contar. Ouçamos o que por aí se diz.

Os noticiários, em coro bem afinado, anunciaram o lançamento do «primeiro computador portátil português», o tal Magalhães. A RTP chegou mesmo a dizer, sem se engasgar, que se tratava de «um projecto português produzido em Portugal».

A SIC, para não ficar atrás, salientou que é «um produto desenvolvido por empresas nacionais e pela Intel» e que a «concepção é portuguesa e foi desenvolvida no âmbito do Plano Tecnológico».


Na realidade, só com muito boa vontade é que o que foi dito e escrito éverdadeiro. O projecto não teve origem em Portugal, já existe desde 2006 e é da responsabilidade da Intel. Chama-se Classmate PC, e é um produto de baixo custo, destinado ao Terceiro Mundo, e já é vendido há muito tempo através da Amazon.


As notícias, no entanto, foram cuidadosamente feitas de forma a dar ideia que o Magalhães é algo de completamente novo e com origem em Portugal. Não é verdade. Na imprensa escrita, salvou-se, que se tenha dado conta, a notícia do Portugal Diário, que disse: «Tirando o nome, o logótipo e a capa exterior, tudo o resto é idêntico ao produto que a Intel tem estado a vender em várias partes do mundo desde 2006. Aliás, esta é já a segunda versão do produto».

Pelos vistos, o jornalista Filipe Caetano, autor da notícia, foi o único a fazer um trabalhinho de investigação, em vez de reproduzir o comunicado de imprensa do Governo.

Para a Intel, este é um negócio da China, pouco se lhe dando que conste por aí que o Magalhães é um produto do bestunto nacional. O que lhe interessa é despachar o material que tinha destinado aos países em desenvolvimento, o que nem deixa de ser o nosso caso. E a JP Sá Couto tem assim, sem concurso, todo o mercado nacional do primeiro ciclo. Tudo se justifica em nome de um número de propaganda políticaterceiro-mundista. Mas é assim que Sócrates tem governado o país

Entretanto, o capitalismo agoniza. Enredado nas suas próprias teias, devorado por dentro pela lógica predadora que lhe está nos genes, procura transferir para os trabalhadores do mundo inteiro a responsabilidade pelo pagamento da factura astronómica que a sua insaciável sede produziu. A solução que o governo norte-americano – e alguns governos europeus – encontram, é pôr os contribuintes a pagar a compra de bancos falidos, através da sua nacionalização.

Porque não os nacionalizaram antes, quando estavam saudáveis, de forma a evitar a actual situação e a canalizar os lucros para o bem-estar e o desenvolvimento dos respectivos países? Que culpa tem o cidadão comum dos desvarios de banqueiros gangsters e dos políticos que lhes dão apoio e cobertura? Quem mexe os cordelinhos dos sistemas financeiros? Quem, em última análise, é responsável pelo colapso financeiro?

É tempo de pensar que a ruína da Wall Street e de tudo o que ela representa, cria a oportunidade para uma outra forma de pensar a economia, para um outro sistema financeiro, sob o controle público e fiscalizado por responsáveis eleitos. O neoliberalismo agoniza. Entre os lençóis da sua enorme mentira.

Que morra depressa e que o enterrem bem fundo.