7.23.2011

Terrorismo branco


Nuances preciosas da linguagem

E, de repente, os atentados na Noruega deixaram de ser acções terroristas, e passaram a ser atentados da extrema-direita. Respirei de alívio. Uff…

Então, está bem. Quando as mortes são provocadas por gente de pele clara e, eventualmente, de olhos azuis, a coisa já não é assim tão grave. Pelo menos, de terror não têm nada.

Entretanto, na Líbia, sete explosões (outra linda nuance da linguagem!) fizeram-se ouvir, durante a noite, em zona residencial onde é suposto viver Kadaffi. Aqui, também não há terror nenhum.


Quando as explosões não são provocadas por um carro armadilhado, ou por explosivos amarrados à cintura, mas por sofisticados aviões da NATO, tudo é perfeitamente legítimo e, principalmente, democrático. E o sangue, ossos e carne espalhados em virtude das explosões, são, apenas «efeitos especiais» - perdão: efeitos colaterais.

Aconteceu, paciência. Vítimas? Se houve, eram todas escuras….

Por outras palavras:

- As bombas brancas, enfim, são coisas que acontecem;

- As bombas escuras, são coisas terríveis;

- O sangue dos brancos, é mesmo sangue;

- O sangue dos escuros, é um líquido avermelhado e viscoso;

- Os brancos, podem sempre bombardear os escuros;

. Os escuros são terroristas, se bombardearem os brancos;

- E, principalmente: os brancos podem sempre ir à terra dos escuros buscar as coisas engraçadas que eles têm lá. Chama-se a isso desenvolvimento, progresso e, muitas vezes, ajuda humanitária.

Eu gosto muito de ser branco.

E assim vai o mundo, como dizia o outro…

6.28.2011

Reflexões em dia de luta na Grécia



O princípio do fim do banquete.

Na Grécia, a polícia, em vez de entrar no parlamento e prender todos os políticos que levaram o país à beira da bancarrota, tenta – até ver – impedir os manifestantes de expressarem a sua indignação. E de filarem eles os políticos que os levaram à situação actual.





Convém recordar que os trabalhadores gregos
NÃO GOVERNARAM
a Grécia, coisa que, apesar de óbvia,
parece não ser do conhecimento de muita boa consciência
que por aí prolifera.






Quem governou, de jure, a Grécia, foram os partidos de direita, tidos por «socialista» (um) e «social-democrata» (outro). Mas quem governou, de facto, a Grécia, foram os interesses económicos gregos e internacionais, cuja principal característica é não terem pátria. Só cofres. Lá, como cá, sem tirar nem pôr.

Para as mentalidades obtusas e serviçais de muitos louros e louras que abundam por aí, as pessoas civilizadas e bem-comportadas, por muito sodomizadas que sejam (reduzir-lhes os ordenados, subsídios e outros meios de subsistência, cortar-lhes o direito ao Serviço de Saúde e, ainda por cima, aumentar-lhes os impostos, por exemplo), não vão para a rua atirar pedras à polícia, cercar o parlamento, partir montras, destruir escadas de mármore e tudo o que estiver à mão.

Nada disso. Devem comer (salvo seja) e calar. Aceitar submissa e calmamente a sangria, passar a fome que tiver que ser passada, subsistir a qualquer preço, continuar a trabalhar no que houver – se houver – e ao preço que houver, no lugar que houver e durante o tempo que o patrão quiser. Isto é que é bonito, isto é que é democrático, isto é que é civilizado, isto é que é patriotismo. Na Serra Leoa, por exemplo, é bem pior, sabiam? Lá nem sabem o que é isso dos «direitos adquiridos».

Aliás, a Revolta, a Indignação, a Rebelião e a Insurreição são coisas muito lindas nos filmes – ou, por exemplo, na Líbia. Na «nossa» rua, no «nosso» país, na «nossa» Europa, são um «Valha-nos Deus!», que agora é que se acaba o bem-bom. Mesmo que para o aflito – ou aflita – em questão, o bem-bom seja mais ilusório que real. Enfim, louro(a)s.

Então, a receita é aguentar tudo, com bovina mansidão, de cara alegre – mesmo a fome dos filhos ou netos – e esperar que os senhores que nos tramaram remedeiem a coisa. Já vi este filme – ou parecido – dezenas de vezes. Já ouvi, não sei quantas vezes, que é necessário «fazer sacrifícios agora», para que o futuro seja mais risonho. E o futuro, esse estarola, nunca mais chega. Como não sou louro, nem manso – e muito menos bovino – não canto as litanias desses bem-aventurados.

Neste momento, os senhores que esfolaram a Grécia, como esfolaram Portugal – sabemos como nos levaram a não produzir, como nos limitaram quotas leiteiras, de pescado, nos mandaram arrancar árvores e vinhedo, como transferiram fábricas inteiras para o estrangeiro, como destruíram a Lisnave e a Siderurgia Nacional, por exemplo – estão a olhar para a sua obra e a pensar se não teriam ido longe demais.

Se os Gregos amocharem, respirarão de alívio. Portugal, será o senhor que se segue. É capaz de haver por aqui, como as eleições mostraram, louros e louras suficientes para que a sangria continue. Mas se os Gregos disserem NÃO!, correrem com a corja que os entregou nas mãos dos agiotas nacionais e internacionais, talvez parem para pensar: Alto, estamos a esticar demasiado a corda.

Uma coisa é certa. Todos os dias mais algumas pessoas começam a perguntar que «democracia» é esta? E a perceber que quem manda no mundo – nos países, nos povos – não são os povos nem os governos que elegem.

São os grandes prestamistas. Os que nos levaram à falência, impedindo-nos de produzir o que podíamos e precisávamos, para depois nos porem a pedir-lhes dinheiro emprestado para comprarmos comidinha. A trabalhar para eles, em suma.

E a outra coisa que as pessoas irão perguntar a seguir será isto: mas onde é que estes gajos (os agiotas internacionais) foram buscar dinheiro para emprestar aos Estados?

E quando perceberem que foi aos seus próprios bolsos, aí, meus amigos, é que vai ser o bom e o bonito.

Será o FIM DO BANQUETE!

Pergunta final (só para ver se a coisa entrou):

- Qual é a maior violência? Dar cabo da vida a milhões de pessoas – por decreto (ou má governação) –, ou ir para a rua protestar contra isso, com tudo o que estiver à mão?

6.06.2011

Porreiro, pá!







Finalmente - e com vários anos de atraso - foste corrido. Agora, sou eu que digo: Porreiro, pá!

Mas o que é que vais fazer da tua vida, ó meu?

- Será que vais trabalhar para a ONU, como o Guterres e o Sampaio?


- Será que vais desenrascar projectos, como engenheiro super-qualificado, na câmara do «amigo» António Costa?


- Será que vais ser administrador de uma das empresas que o teu governo apoiou?


- Será que vais pescar robalos com o Vara?


- Será que vais ser sócio do Dias Loureiro?


- Ou, outra vez, da dona Fátima Felgueiras?


- Ou da empresa que produz os Magalhães?


- Ou do professor que te passou, em oito segundos, a quatro disciplinas?


- Ou será que vais ajudar a «salvar» o Millenium BCP, gerido pelo teucamarada Santos Ferreira (lá posto por ti)?


- Será que vais trabalhar com o futuro ex Procurador-Geral da República, ilustre Pinto Monteiro, a destruir escutas telefónicas inconvenientes?


- Será que vais ser comentador político na TVI?


- Será que… não serás preso e levado a tribunal um dia destes?

Como em Portugal tudo pode acontecer, até te podemos ver, lá mais para a frente, como candidato a presidente da República.

Olha, pá, mete mais é férias e desaparece durante 100 anos, tá?

5.22.2011

O voto (muito) estúpido



A maioria dos votos que o PS vai ter, não serão votos no PS. Serão votos contra o PSD.


A maioria dos votos que o PSD vai ter, não serão votos no PSD. Serão votos contra o PS.

Os eleitores – chamemos-lhes assim – portugueses não votam, por via de regra, em alguém. Votam contra alguém.

Por isso – e rigorosamente – em cada eleição há sempre um grande derrotado: o próprio Povo Português. A estupidez sempre saiu cara.

E há sempre um grande vencedor: o Poder Económico. Para ele, tanto faz que vença o PS, como o PSD. As políticas serão aqueles que ele, o Poder Económico, quiser. Podem esgatanhar-se à vontade – e até é bom que façam. O circo eleitoral distrai o pagode e, principalmente, dá a tudo um ar democrático.

Há também um pequeno derrotado: o bando de boys e girls que perdem os seus jobs sempre que o poder muda de mãos.

Como há sempre um pequeno grupo vitorioso: o bando dos novos boys e girls que vão ocupar os jobs que ficaram vagos.

O voto consciente, esclarecido, objectivo – isto é: em programas e propostas políticas que possam contribuir para resolver os problemas das pessoas e do país, é quase residual.

Por outro lado, a abstenção e os votos em branco representam atitudes mais lúcidos que os votos no PS, no PSD ou no CDS. Se algum destes partidos tivesse receitas e sapiência para resolver os nossos problemas, já o teria feito há muito tempo. Pelo contrário: já provaram que são, todos eles, parte do problema. Nunca serão a solução. Qualquer cidadão na posse de faculdades mentais nascidas de meia dúzia de neurónios – tanto basta – já consegue perceber isto.

Por tudo isto, se as eleições portuguesas não são um hino à estupidez e imbecilidade de um povo, então é apenas por que isto não é um povo. Por mais razão nenhuma.

Um dia destes, pode ser que a malta acorde, esfregue os olhos e corra a cambada toda a pontapé. Pelo menos isso – e se for com bota de biqueira de aço, tanto melhor.

Parece que há sítios onde as pessoas já começaram a abrir os olhos. Em Espanha, por exemplo.

4.30.2011

Sócrates sai de cena

Finalmente!


O primeiro-ministro, senhor José Sócrates Pinto de Sousa, acaba de anunciar a sua renúncia à vida política. Em declarações à comunicação social, afirmou que o tempo não está para aventuras.

Como sem aventuras não são precisos aventureiros, está tudo dito.

DEMISSÃO ACEITE!

4.25.2011



Os senhores da la Palisse

Que lindos que foram os discursos do actual e ex-presidentes desta republicazinha!

Afinal, eles sabem – como sempre souberam – a receita para resolver a crise. Também não tem muito que saber: foi sempre a mesma. Mas é sempre comovedor ouvir suas excelências a apelar à concertação social, à aceitação dos sacrifícios, à concentração de energias, ao esforço colectivo e a outros clisteres igualmente milagrosos. (E nem vale a pena esclarecer suas sumidades que essa receita nunca deu nada que se visse – antes pelo contrário – porque fartos de saber isso estão eles).

Por isso, em linguagem de gente, o que eles combinaram dizer foi: «Aguenta, Pacheco!».

Mas – e que curiosas que as coisas são – nenhum deles respondeu às questões essenciais:

1 – Quem – e o quê – (que pessoas, que partidos, que políticas) conduziram as coisas a este estado?

2 – Que responsabilidades tiveram – ou têm – eles próprios na situação actual? Ou porque, sendo tão sábios, não impediram, com o poder que tiveram, que isto chegasse ao que chegou?

3 – Como será possível resolver a crise, se as receitas para a resolver são as mesmas que a ela conduziram?

Finalmente, eis a descoberta espantosa que todos fizeram:

O PAÍS ESTÁ A VIVER UM MOMENTO PARTICULARMENTE DIFÍCIL.
(O Senhor Jacques de la Palisse deu dois mortais à retaguarda, com pirueta, lá no distante túmulo onde devia repousar).

Pronto! Rendo-me! V. Exas. são, de facto, muito inteligentes. Com crânios desses, vamos longe. Ai vamos, vamos…

Então, até lá.

3.22.2011

IV REICH


A Besta nazi anda por aí.
Com outros nomes, com outras bandeiras, com outras palavras, com outros métodos.
Mas os objectivos são os mesmos: dominar a humanidade, pilhá-la.
Pô-la ao serviço do Império do dólar.
Ao Espaço Vital de Hitler, Aí estão os Interesses Vitais dos norte-americanos.
Ontem com Bush, hoje com Obama.
O Eixo, agora, chama-se NATO. E Mussolini encarnou nos Aliados.
A Líbia foi, apenas, o «senhor que se seguiu». A lista não acabou aqui.
A besta Nazi anda à solta.

2.15.2011

Vão contar aos egípcios

Por favor. Alguém explique aos egípcios que os vampiros,
quando desmascarados, costumam disfarçar-se de pombas

Por favor. Alguém vá contar aos egípcios como foi que os portugueses foram enganados após a queda da ditadura, quando pensaram que iriam ter, enfim, uma sociedade decente e próspera.


Por favor. Alguém vá contar aos egípcios como é que os portugueses foram iludidos por vendilhões da pátria e ilusionistas encartados, disfarçados de arautos da democracia e da liberdade.


Por favor. Alguém vá contar aos egípcios como é que se finge que tudo muda, para que tudo fique na mesma.


Por favor. Alguém vá contar aos egípcios como devem descobrir, entre eles, os seus Soares, os seus Cavacos, os seus Sócrates - os seus novos vampiros.


Por favor. Alguém vá contar aos egípcios como, em nome da democracia, se assassina a Democracia.

1.31.2011

Os democratas


Os democratas são os homens e mulheres que, eleitos pelo Povo, governam o Povo.

A primeira obrigação de um democrata é decidir quanto é que, pelo exercício do seu mister de democrata, vai auferir.

A segunda obrigação de um democrata é estabelecer quanto é que, após o exercício desse mister, vai receber, vitaliciamente, a título de reforma.

A terceira obrigação de um democrata é firmar compromissos que lhe garantam, mal termine o doloroso exercício da democracia, uma carreira bem remunerada nas empresas públicas ou privadas, preferencialmente a nível da administração. Os mais modestos - ou menos aptos - também se contentam com assessorias e afins.

A quarta obrigação de um democrata é manter o equilíbrio das contas públicas, de forma a que estas possam sempre suportar as despesas do exercício dos cargos democráticos.

A quinta obrigação de um democrata é manter a democracia a funcionar, para o que é essencial preservar a robustez do grande pilar da economia: a alta finança. (Se não se preocupar com isto, nunca chegará a governar, por mais democrata que seja).

A sexta obrigação de um democrata é a mais importante: definir quanto é que o Povo deve pagar para garantir que a Democracia funcione.

A sétima obrigação de um democrata é não incomodar o Povo com as preocupações da governação, libertando-o, por isso, de qualquer outro afã que não seja o sagrado exercício do voto.

Nos Democratas, claro.

1.12.2011

A tapeçaria


Anda por aí um interessante debate. Dizem uns - certamente por má-lingua e piores intenções - que a Câmara Municipal do Seixal decidiu comprar uma tapeçaria, a Manuel Cargaleiro, por 126 mil euros.


Dizem outros, congregados num blog imensamente democrata (apesar de desvairadamente situacionista) O Flamingo, que tudo não passa de uma terrível cabala. É Mentira! É mentira! É mentira! Três vezes mentira! Quem o garante é o seu honorável, infalível e bem informado autor, o Teixeira.


Pronto! Se é mentira, vai para o saco. Nós já sabemos que certos democratas, especialmente os mais trabalhadores, honestos e competentes, é que decidem o que é mentira e o que é verdade. De resto, como têm sempre razão - e nada a esconder - mentir, para quê?


Fica a verdade de O Flamingo. Fica a verdade do Teixeira.


Vamos, agora, à verdade da mentira. Ou à mentira da verdade, sabe-se lá:


Diz a Câmara Municipal do Seixal:

Grandes Opções do Palno 2010 (Pág. 15)

126.000 euros para aquisição de tapeçaria a Mestre Cargaleiro.


Mas deve ser mentira, porque o Teixeira o garantiu três vezes.


E volta a dizer a Câmara Municipal do Seixal:

Ajuste Directo - Data da Publicação: 24-03-10

N.º de Procedimento: 149753

Objecto do contrato:

Tapeçaria 213/DA/2010

Manufactura de Tapeçaria de Portalegre

Preço: 90.000 euros (só a execução)

Falta o IVA e o trabalho de Mestre Cargaleiro.

Outra mentira, certamente, porque o Teixeira é que sabe...

A menos... a menos que seja mesmo mentira. Porquê?

Porque... sei lá: talvez não tenham sido exactamente 126 mil euros. Quem sabe se... um pouco mais. Ou um pouco menos.

Mas isso só o Teixeira é que sabe.