6.28.2011

Reflexões em dia de luta na Grécia



O princípio do fim do banquete.

Na Grécia, a polícia, em vez de entrar no parlamento e prender todos os políticos que levaram o país à beira da bancarrota, tenta – até ver – impedir os manifestantes de expressarem a sua indignação. E de filarem eles os políticos que os levaram à situação actual.





Convém recordar que os trabalhadores gregos
NÃO GOVERNARAM
a Grécia, coisa que, apesar de óbvia,
parece não ser do conhecimento de muita boa consciência
que por aí prolifera.






Quem governou, de jure, a Grécia, foram os partidos de direita, tidos por «socialista» (um) e «social-democrata» (outro). Mas quem governou, de facto, a Grécia, foram os interesses económicos gregos e internacionais, cuja principal característica é não terem pátria. Só cofres. Lá, como cá, sem tirar nem pôr.

Para as mentalidades obtusas e serviçais de muitos louros e louras que abundam por aí, as pessoas civilizadas e bem-comportadas, por muito sodomizadas que sejam (reduzir-lhes os ordenados, subsídios e outros meios de subsistência, cortar-lhes o direito ao Serviço de Saúde e, ainda por cima, aumentar-lhes os impostos, por exemplo), não vão para a rua atirar pedras à polícia, cercar o parlamento, partir montras, destruir escadas de mármore e tudo o que estiver à mão.

Nada disso. Devem comer (salvo seja) e calar. Aceitar submissa e calmamente a sangria, passar a fome que tiver que ser passada, subsistir a qualquer preço, continuar a trabalhar no que houver – se houver – e ao preço que houver, no lugar que houver e durante o tempo que o patrão quiser. Isto é que é bonito, isto é que é democrático, isto é que é civilizado, isto é que é patriotismo. Na Serra Leoa, por exemplo, é bem pior, sabiam? Lá nem sabem o que é isso dos «direitos adquiridos».

Aliás, a Revolta, a Indignação, a Rebelião e a Insurreição são coisas muito lindas nos filmes – ou, por exemplo, na Líbia. Na «nossa» rua, no «nosso» país, na «nossa» Europa, são um «Valha-nos Deus!», que agora é que se acaba o bem-bom. Mesmo que para o aflito – ou aflita – em questão, o bem-bom seja mais ilusório que real. Enfim, louro(a)s.

Então, a receita é aguentar tudo, com bovina mansidão, de cara alegre – mesmo a fome dos filhos ou netos – e esperar que os senhores que nos tramaram remedeiem a coisa. Já vi este filme – ou parecido – dezenas de vezes. Já ouvi, não sei quantas vezes, que é necessário «fazer sacrifícios agora», para que o futuro seja mais risonho. E o futuro, esse estarola, nunca mais chega. Como não sou louro, nem manso – e muito menos bovino – não canto as litanias desses bem-aventurados.

Neste momento, os senhores que esfolaram a Grécia, como esfolaram Portugal – sabemos como nos levaram a não produzir, como nos limitaram quotas leiteiras, de pescado, nos mandaram arrancar árvores e vinhedo, como transferiram fábricas inteiras para o estrangeiro, como destruíram a Lisnave e a Siderurgia Nacional, por exemplo – estão a olhar para a sua obra e a pensar se não teriam ido longe demais.

Se os Gregos amocharem, respirarão de alívio. Portugal, será o senhor que se segue. É capaz de haver por aqui, como as eleições mostraram, louros e louras suficientes para que a sangria continue. Mas se os Gregos disserem NÃO!, correrem com a corja que os entregou nas mãos dos agiotas nacionais e internacionais, talvez parem para pensar: Alto, estamos a esticar demasiado a corda.

Uma coisa é certa. Todos os dias mais algumas pessoas começam a perguntar que «democracia» é esta? E a perceber que quem manda no mundo – nos países, nos povos – não são os povos nem os governos que elegem.

São os grandes prestamistas. Os que nos levaram à falência, impedindo-nos de produzir o que podíamos e precisávamos, para depois nos porem a pedir-lhes dinheiro emprestado para comprarmos comidinha. A trabalhar para eles, em suma.

E a outra coisa que as pessoas irão perguntar a seguir será isto: mas onde é que estes gajos (os agiotas internacionais) foram buscar dinheiro para emprestar aos Estados?

E quando perceberem que foi aos seus próprios bolsos, aí, meus amigos, é que vai ser o bom e o bonito.

Será o FIM DO BANQUETE!

Pergunta final (só para ver se a coisa entrou):

- Qual é a maior violência? Dar cabo da vida a milhões de pessoas – por decreto (ou má governação) –, ou ir para a rua protestar contra isso, com tudo o que estiver à mão?

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