Seita é seita
Franquelim
Alves, um dos novos secretários de Estado agora empossados, é o mesmo
Franquelim Alves que foi administrador do grupo Sociedade Lusa de Negócios/BPN,
organização criminosa que levou a cabo a maior fraude financeira algumas vez
acontecida em Portugal. Chegou a pensar-se que se estaria perante uma
confrangedora coincidência de nomes, mas cedo se concluiu que não. Um antigo
responsável da instituição onde – e quando – o crime sucedeu, acabava de entrar
no governo de Portugal. Por sugestão de Santos Pereira, vontade de Passos
Coelho e com o ámen de Cavaco.
Isso
mesmo: enquanto a seita de altos figurões do PSD, com alguns socialistas à
mistura, se entretinha a meter no seu próprio bolso – e no bolso dos amigos –
algo que pode chegar a mais de sete mil milhões de euros, o senhor Franquelim
olhava para o lado e mantinha um prudente silêncio. Mais tarde, haveria de
confessar que percebera tudo o que se passava mas, por razões de prudente estratégia
– não foi em nome do interessa nacional, mas quase – preferiu ficar mudo e
quedo. E até assinou um relatório de contas perfeitamente criminoso.
Como
se não bastasse estar a coberto de qualquer acusação, como, aliás, muitos
outros responsáveis pela cratera que, segundo se estima, lesou o país nos tais
mais de sete mil milhões de euros – o mais certo é verificarmos, um dia destes,
que tudo o que aconteceu não teve autores – Franquelim ainda foi premiado com
um lugar no governo, substituindo Carlos Nuno Oliveira, na secretaria de Estado
do Empreendedorismo, Competitividade e Inovação.
Se
já era escabroso que o Estado só quisesse estar no BPN para assumir os
prejuízos, o que chamar então ao facto de ser o espírito empreendedor,
competitivo e inovador, made in BPN, a estar bem dentro do aparelho do
Estado? A coisa só explica porque uma seita é sempre uma seita e, quando assim
é, o resto é conversa fiada.
Cientes
do que estavam a fazer, os energúmenos que governam (salvo seja!) este arremedo
de país, tiveram o cuidado de omitir, no currículo do novo governante, a sua dignificante
passagem pelo BPN. Sempre inteligente e subtil, Passos Coelho apressou-se a
esclarecer o país que tal omissão se justificava pelo facto de toda a gente saber
esse precioso detalhe do passado do novo secretário de Estado.
Já o Álvaro – o dos
pastéis de nata – depois de muito esmifrar os neurónios, descobriu que a
criatura que ele chamou ao governo até fora o primeiro cidadão deste país a
denunciar, por comovente e heroica epístola, a gigantesca burla. Azar! Sabe-se
que há uma missiva a tocar no assunto, mas não é do atual secretário de Estado, e
sim de toda a administração da SLN. E só surge depois de se saber das
irregularidades no grupo.
Portugal
não é só um lugar mal frequentado. É, principalmente, um covil de gente que,
por falta de adjectivos, já não é possível qualificar.
Lá
do alto, o Cardeal Cavaco abençoa a seita que descobriu o Maná.