11.10.2012


A megera

 
 





A megera que se entretém a distribuir esmolas
que os outros dão, destinadas a matar a fome que por
aí grassa, acha que ainda é preciso «empobrecer mais»,
pois «vivemos acima das nossas possibilidades».
Além disso, a culpa da pobreza e, obviamente,
dos próprios pobres.

Isabel Jonet - é o nome da megera - esqueceu-se de
informar quanto é que ela ainda vai empobrecer,
ou se deixa essa tarefa apenas para os... pobres.

Sobre a necessidade de se produzir mais riqueza
(mais e melhor indústria, mais e melhor pescas,
mais e melhor agricultura) a generosa senhora nada disse.

 

11.08.2012


O criminoso bombardeamento de Dresden.

 
 
Muito se fala dos crimes nazis – e nunca será demais deles falar, para que os potenciais hitlers possam conter-se. Mas os aliados também cometeram crimes, e Dresden foi apenas mais um deles. A cidade não era um alvo militar, o poderia bélico alemão já quase não existia, a guerra estava decidida. Tratou-se de pura barbárie.

Hoje – como ontem – os bárbaros andam por aí. Entre nós. Às vezes, dentro de nós.

Nunca é tarde para aprender que não há criminosos bons – os «nossos» – e criminosos maus – os dos «outros» - porque todos eles são criminosos.

Tal como não há boys e girls bons – os nossos – e boys e girls maus – os dos outros. Nem corruptos e corruptores bons – os nossos – e corruptos e corruptores maus – os dos outros, porque todos são o que são, independentemente da cor do cartão partidário.

E o mesmo para ladrões, para vigaristas, para mentirosos, para imbecis, para devassos.

Quando tivermos aprendidos isto – e só então – é que podemos limpar o país do lixo humano que o infecta.

9.09.2012



Passos dirigiu-se aos portugueses através do Facebook.

 
«Queria escrever-vos hoje, nesta página pessoal, não como primeiro ministro mas como cidadão e como pai».

 
Não chega, estimado «cidadão». Eu queria que nos escrevesses era na condição de um português desempregado, ou – vá lá… – com o salário mínimo.

6.17.2012

Jorge Nuno Pinto da Costa mantém os hábitos
A Casa de Alterne



O senhor Jorge Nuno Pinto da Costa foi recebido na Assembleia da República, onde jantou com deputados azuis e brancos. Ao que consta, deputados de todos os partidos teriam estado representados no convívio. Não é a primeira vez que a Assembleia da República se dignifica ao receber nas suas vetustas paredes tão insigne e modelar figura, alguém que pelo seu exemplo de vida honra a casa da democracia.

Não sabemos se a actual – e jovem – concubina do ilustre ancião o acompanhou, algo que não seria de estranhar, sabendo-se que a sua anterior amásia mereceu a honra de entrar, por sua mão, no Vaticano e ali se inclinar perante Sua Santidade. Consta que a actual presidente do parlamento, também ela portista dos quatro costados, teve o cuidado de telefonar a Jorge Nuno Pinto da Costa, indicando-lhe o percurso desde a entrada em Lisboa até S. Bento.


- O senhor está onde, senhor Jorge Nuno?

- Olhe, estou a ber um morcóm com um braço esticado a apuntar em friente.

- Está no Saldanha. Pois siga nessa direcção que o Duque de Saldanha aponta, senhor Jorge Nuno. É sempre em frente.

- Pois sim. Olhe, já estou a ber outro morcóm agarrado a um leóm.

- É o Marquês. Corte na segunda à direita, e siga sempre em frente.  

- E depois?

- Depois, vai ter ao Largo do Rato e corta à esquerda, numa rua estreitinha, que desce. Vem ter logo a S. Bento.

- Sabe uma coisa, senhora presidenta? Se estiverem a grabar esta combersa, hão-de logo pensar noutra grabaçom, em que eu fazia o que Bossa Excelência está a fazer agora, e o árbitro Augusto Duarte era quem recebia as indicaçuões que eu estou a receber. Bire à esquerda, agora bire à direira, depois é sempre em friente.


E tudo correu como se fosse um jantar entre Deus e os anjos. E outra coisa não seria de esperar. Afinal, o presidente do FCP é um homem mundano. Se não há casa de alterne onde ele não seja bem recebido, porque não haveria de sê-lo na Assembleia da República?




6.09.2012



Do circo da selecção… ao circo da governação.

A pátria de chuteiras
- e de brincos, tatuagens, lamborghinis e lindos penteados



O «português» Pepe (só as patas) mostra a sua raça, arreganho e outras virtudes

Da querida selecção, era melhor nem falarmos. Mas ficava mal, agora que os «nossos rapazes», suprassumos da raça (Pepe também?), estão em liça para elevar ao mais alto nível as virtudes lusitanas. (Pausa para limpar uma incontida e patriótica lágrima).

Entre brincos de milhares, tatuagens lindíssimas (se aquilo é na pele, como não estará no cérebro…), lamborghinis e ferraris, penteados exóticos impulsionados por neurónios alienígenas, a troupe, liderada por um capitão sempre à coca das câmaras para fazer carinhas larocas, está ali para o que der e vier. E se vier depressa, poupam-se umas massas...

Sim, porque gente fina é outra coisa, por isso, a selecção nacional é a que paga mais por diária, mas já se sabe que a ordem é rica. Por cá, mantém-se a sopa dos pobres (perdão: isso era no tempo do fascismo; agora, são cantinas sociais) e os peditórios contra a fome – fome, mas democrática, note-se bem, que é perfeitamente suportável, compreensível e legitimada pela vontade popular. Fome negra, terrível, era a dos tempos da outra senhora.

Fátima em Maio; Futebol em Junho; Fado –triste – todo o ano. Outra vez os três efezinhos. Podia acrescentar outro F, mas é melhor suster os ímpetos.

Afinal, havia outra…
Portugal vai ter 500 mil jovens agricultores, a maior parte licenciados


O Primeiro-ministro aconselha agora os jovens desempregados a olharem para a Agricultura, como uma boa perspectiva de futuro. Pedro Passos Coelho lançou o repto, durante a visita que realizou à Feira Nacional de Agricultura, em Santarém. Aqui há um mês, a solução para os desempregados jovens era a emigração. Mas afinal, havia outra (solução). Dediquem-se à agricultura.

Mas como vai ser? Ocupam terras improdutivas? Isso é muito feio, antidemocrático e pode ser considerado um regresso ao PREC. E à Reforma Agrária. O Estado dá as terras? Ou vende? Ou estaremos a falar de hortas urbanas, quiçá, nas banheiras e marquises?

Ó Pedro, pá, podes explicar isso melhor à malta? Emigrar, é fácil, basta um mano meter os pés ao caminho. Mas ir para a ingrícula, assim do pé para a mão, meu, como é que estás a ver a cena?




4.29.2012

Os usurpadores de Abril

 

Há dias, um fala-barato – ou melhor: um escreve-barato, apesar de não dever receber pouco pelo que escreve –, cujo nome me escapou, dizia que a ausência da Associação 25 de Abril, de Soares e de Alegre das comemorações oficiais que assinalavam a data, era uma atitude reprovável, pois as políticas que assim pretendiam contestar são decorrentes da vontade do povo, democraticamente expressa pelo voto. Logo, contestá-las era agredir o espírito de Abril, dado que os ideais da Revolução não têm donos. Ou, a tê-los, somos todos nós.

Não posso discordar mais desta opinião. E por várias razões, todas elas de uma evidência cristalina. Ei-las:

- Em primeiro lugar, um ponto prévio: se a Associação 25 de Abril – especialmente o coronel Vasco Lourenço – Soares e Alegres consideram que as políticas em curso são contrárias àquelas que o 25 de Abril tinha na sua génese (e eu sou o primeiro a estar de acordo com tal conclusão), há muitos anos que deveriam ter-se abstido de participar nas comemorações oficiais, pois há muitos anos, com especial destaque para os anos negríssimos de Sócrates, que essas mesmas políticas crucifixam os portugueses. Ao não fazê-lo – ou a fazê-lo só agora – é claro que o que move o senhor coronel, bem como o que dá corda à ridícula dupla Soares/Alegre, não são as políticas em si, mas interesses meramente partidárias. O que é muito feio e, por isso, totalmente contrário aos ideais de Abril.

- Em segundo lugar, nem tudo o que é formalmente democrático é inquestionavelmente democrático. A história está cheia de exemplos que o comprovam, sendo as eleições ganhas pelo partido Nazi a lição que melhor o testemunha. Muitos outros há. Aliás, eleições limpas e democráticas, ganhou-as a Frente Islâmica de Salvação, há vinte anos, na Argélia, coisa que a UE e os EUA não aceitaram, forçando a sua anulação. A partir daí, a Argélia tem vivido num quase permanente estado de sítio, algo que não embaraça dos grandes democratas que mandam no globo. Mas há mais. O que acontece, por exemplo, quando de um referendo não saem os resultados que o poder político (dito democrático, note-se) deseja? Repete-se o referendo até que o resultado seja o pretendido, como aconteceu na Irlanda. Mas há ainda melhor: actualmente, para que ninguém possa ser acusado de falta de espírito democrático, coisa que se tornou evidente no escandaloso caso da Irlanda, decide-se, muito simplesmente – e para evitar surpresas –, nem se fazer referendo, como já aconteceu em Portugal. Sobre o que é realmente democrático, quase que estaríamos conversados.

Ora, há muitos motivos para se concluir que os pressupostos necessários para conferir legitimidade democrática a umas eleições não foram cumpridos no caso do acto eleitoral do qual resultou a actual composição da Assembleia da República e, por consequência, resultou o governo PSD/PP.

Um desses motivos, é que durante o período pré-eleitoral e, mais intensamente, durante a campanha eleitoral, não só foram escamoteados ao eleitorado dados fundamentais para uma decisão informada e consciente, como foi o mesmo confrontado, por um lado, com promessas de determinadas realizações, ao passo que, por outro lado, eram os eleitores tranquilizados com garantias de que certas decisões jamais seriam tomadas.

De facto – e como, desgraçadamente, vai sendo um hábito dos políticos do «arco do poder» – prometeu-se fazer o que não se pensava fazer (e até já se confirmou que não se fará), e garantiu-se que nunca, em circunstância alguma, se tomariam decisões políticas que, meses passados, aí estão em doses inimagináveis. Isto, só por si, fere de legitimidade democrática o actual governo, como, aliás, outros antes deste foram feridos por iguais artimanhas.

Outro motivo, decorrente deste, é alegar-se ignorância sobre o verdadeiro estado das finanças públicas, algo que, a ser verdade, constituiria o mais decisivo atestado de incompetência e debilidade mental que se poderia conferir a um político. Na verdade, ninguém minimamente informado estava, à data das declarações proferidas em campanha eleitoral por Passos Coelho, alheio à real situação do país, a começar, exactamente por ele, dado que já resolvera subscrever as medidas de austeridade, mão-na-mão com José Sócrates. Sabia porque o fazia. E até pediu desculpas ao país.

Assim sendo, resta concluir que Passos Coelho mentiu com plena consciência de que estava a mentir, e que à mentira recorreu por ter a noção que, só assim, poderia merecer a confiança indispensável do eleitorado, tendo em vista a vitória nas eleições. Se isto for aceite como um acto normal e correcto em democracia, então a democracia tem que rever todos os seus valores e conceitos. Que não serão, seguramente, os valores e conceitos constantemente apregoados.

Ainda um outro motivo: aplicadas as medidas de austeridade que, conjuntamente, o PS e o PSD acordaram com a Troika estrangeira, o actual governo, a um ritmo constante, acrescenta mais austeridade à austeridade antes considerada necessária, desdizendo-se a si próprio, chegando ao extremo de, apanhado em contradições crassas e indesmentíveis, atribuir a «lapsos» as suas afirmações iniciais.

Ora, nada disto se coaduna com a Democracia e com os valores que, implicitamente, lhes estão inerentes. A mentira, o descaramento, a manipulação de dados como meio de manipular consciências, a incoerência e os caminhos ínvios para alcançar objectivos, sejam eles quais forem, tudo isto é a negação – a falsificação – da verdadeira Democracia.

- Em terceiro lugar: sendo, como se diz, a Democracia o governo do Povo, para o Povo, como se pode considerar democrática uma prática governativa que promove e agrava as desigualdades sociais, cabendo precisamente ao Povo o papel de espoliado, enquanto uma restrita faixa de oligarcas goza de privilégios que a mantém a salvo de sacrifícios, para além de estar ao abrigo de um imenso rol de impunidades, que ganham especial relevo a nível da aplicação da Lei? Nesta alegada democracia, a classe dominante (poder económico e poder político, mancomunados) põem e dispõem a seu bel-prazer no plano político, económico, financeiro e judiciário, tendo-se transformado numa casta superior, pelo que a matriz que conduz a nossa vida colectiva é, indubitavelmente, uma matriz feudal. Ou seja: antidemocrática, imoral, desumana e socialmente segregacionista.

- Em quarto lugar: não podem considerar-se democráticas práticas políticas, financeiras e económicas que conduziram o país ao descalabro actual, já que elas não foram escrutinadas por ninguém, nem foram divulgadas ou colocadas à discussão do eleitorado em nenhum momento. E, principalmente, não são práticas democráticas sujeitar-se a generalidade da população a pagar a factura do descalabro, sem que os seus autores sejam responsabilizados civil e criminalmente pelos actos praticados à revelia do país, ficando, pelo contrário, senhores de todos os seus direitos e regalias, como se nada de extremamente grave tivessem praticado.

- E, finalmente, em quinto lugar: os valores essenciais de Abril e as suas preocupações em democratizar TODAS as vertentes da sociedade portuguesa, há muito que desaparecerem das práticas governativas.

Não se combate a fome e o desemprego, que alastram de forma epidémica. Aliás, – e confessadamente – todas as opções políticas concorrem para o seu alastramento.

Ter acesso à Educação, à Saúde e à Justiça volta a ser um privilégio das classes mais elevadas da população, enquanto no lado oposto aumenta o número de portugueses que, diariamente, se vê empobrecer. A única certeza que milhões de cidadãos actualmente têm, é que o dia de amanhã será muito pior que o dia de hoje, sem que tenham contribuído minimamente para tal.

A criminalidade de colarinho branco alastra impunemente, o que a par da crise económica (o desespero), dá asas (força «moral»),à criminalidade violenta que abala o nosso quotidiano. A corrupção é um fenómeno que ninguém se atreve a negar, mas que ninguém se atreve a combater, principalmente porque quem o poderia fazer vive no ambiente onde ela medra. E dela abundantemente se mantém.

O Estado é delapidado por interesses partidários – ou de seita – acomodando, à vez, os correligionários de quem ocupa o poder, e a promiscuidade entre o poder económico e o poder político já nem precisa de se resguardar dos olhos esbugalhados da opinião pública, tão normal se tornou.

Na verdade, até os inimigos do 25 de Abril acham conveniente adornar-se com um cravo vermelho, embora tratem o povo português, em muitos casos, como nem a própria ditadura fascista alguma vez se atreveu a tratar.

Vende-se a Pátria a retalho – e nem sempre a quem dá mais. O interesse nacional é submetido aos interesses económicos, sendo que só se consideram legítimos os lucros privados, pois, segundo a ordem vigente, é crime de lesa-economia ser o Estado (o público, o país) a lucrar. Dizem que o estado não tem vocação para gerir empresas, mas não se impedem de vender uma das mais lucrativas empresas nacionais, precisamente… a uma empresa estatal estrangeira.

Para vergonha da «democracia» em vigor e dos «democratas» que dela se alimentam, muitos deles para o resto das suas confortáveis vidinhas, enquanto a ditadura abria escolas, tribunais, postos de saúde, hospitais e garantia a reforma após uma vida de trabalho, agora fecham-se escolas, tribunais, centros de saúde, maternidades, urgências hospitalares e ameaça-se com o espectro da falência da Segurança Social, enquanto que, ardilosamente, se vai sugerindo à população que entregue a sua velhice nas mãos gulosas do negócio privado.

Mas sem o mínimo de decoro, a elite governante e empresarial, sempre às custas do erário público – e enquanto aumenta a idade de reforma e diminui o valor das reformas e pensões de sobrevivência aos portugueses comuns – estabelece para si reformas rápidas, múltiplas e avantajadas.

Como podem, assim, os fala-baratos, os governantes, os senhores grandes empresários, os seus escribas e pajens, enfim, toda essa elite bem pensante e bem alimentada que detém o poder e dele vive faustosamente, reivindicar para si o 25 de Abril e dizer que tudo o que aí está não só é o 25 de Abril, como é, acima de tudo, verdadeiramente «democrático»?

Talvez se sintam animados a tal dizer porque, ainda há dias, alguém fez estralejar foguetes a festejar o 25 de Abril! Como se ficassem bem festejar o que já não está connosco.

O que aí está não é o 25 de Abril, nem é democracia. Talvez uma ditaducracia, não sei

4.23.2012

Vasco Lourenço, Soares e Alegre acordaram de uma longa hibernação!

Eu achos-lhes um piadão



A Associação 25 de Abril não vai estar presente nas comemorações oficiais do 25 de Abril. Vasco Lourenço justificou a ausência com o facto de as políticas em curso serem contrárias aos valores do 25 de Abril. Na verdade, o 25 de Abril destinou-se a conferir à nossa vivência colectiva liberdade, igualdade, desenvolvimento, solidariedade, respeito, verdade, progresso, e justiça, nas suas várias vertentes. Humanismo, em suma. E o que acontece é precisamente o inverso. Nada a dizer, portanto.


Logo de seguida, Soares e Alegre vieram solidarizar-se com os «capitães de Abril». Nada a dizer, também. Foi um gesto lindíssimo. Fui às lágrimas.


De repente, pus-me a pensar com os meus fechos éclaires. Mas espera aí. Estas políticas contra os valores de Abril (contra o Povo) começaram quando? Se a memória não me atraiçoa – e estou em crer que não – estas políticas saíram de uma célebre gaveta no preciso dia em que o doutor Soares informou o país, em directo – e já lá vão umas décadas – que acabara de meter o socialismo nessa precisa gaveta. E era só o «socialismo» dele, que nada tinha a ver, como não tem, com o socialismo a sério.


Então, o coronel Vasco Lourenço, o poeta Alegre e o doutor Soares só agora é que se demarcam das comemorações oficiais? Mas estiveram lá o ano passado, não foi? É verdade que a coisa agora é mais violenta, mas já o era bastante no consulado do «engenheiro» e «socialista» Sócrates, cujos PEC’s já eram um modelo avançado dos acordos com a Troika. Ou não?


Ó meus caros amigos, eu acho-vos um piadão! Então só agora é que toparam aquilo que eu, sem ser tão inteligente, tão político, tão por dentro destas coisas, tão doutor, tão «capitão de Abril», tão «democrata» de carreira (e bem remunerado), já topei há uma catrefada de anos? Têm andado muito distraídos nos últimos anos, não verdade?


É por estas e por outras que eu também não vou às comemorações «não oficiais» do 25 de Abril. Para não me cruzar com estas excelências. Não me quero misturar com gente «distraída», que só repara que as políticas são más e contrárias ao 25 de Abril ao fim de trinta e tal anos.


Arre macho!

4.04.2012

O grande «democrata»

«Democrata» «republicano» e «socialista»
A velha múmia, que foi a primeira ratazana a roer o nosso aparelho produtivo, entregando sectores chaves da economia aos privados – e aos estrangeiros –, a primeira a chamar o FMI, para além de ser a pérfida inventora dos contratos a prazo e dos salários em atraso, devolvendo o país aos investidores, clama, agora, indignada, que há portugueses a passar fome. Como se não tivesse sido ela – a ratazana - a primeira a abrir as portas à fome.

Este estupor, que devia estar calado há muito tempo, caso soubesse o que é vergonha, decoro e virtudes semelhantes – e que ainda nos sangra, comendo à larga das verbas do OGE – esquece que foi de braço dado com o PSD, o CDS/PP e tutti quanti odiasse Abril – como o fascista e pedófilo Frank Carlucci – que começou a destruir Portugal.

Agora, o carro que o conduzia foi apanhado a 199 KM/hora, sendo detectado pelos radares da GNR, como nos conta a semanário SOL:

«
O ex-presidente da República viu o seu motorista ficar com a carta de condução apreendida e sujeito a uma multa de 300 euros, como explica o CM. Mas, segundo f9onte da GNR ao jornal, Mário Soares reagiu mal e chegou a afirmar que “o Estado é que vai pagar a multa”.

O carro, um Mercedes-Benz S350 4 Matic, é propriedade da Direcção-Geral do Tesouro e das Finanças, e seguia no sentido sul-norte quando foi mandado parar numa estação de serviço. Os guardas garantiram ao CM que o histórico socialista foi “bastante mal-educado”
».

Carro das Finanças?! «O Estado é que vai pagar a multa»?!

Ora aqui está a verdadeira face de um «democrata», «republicano» e «socialista».
«democrata», «republicano» e «socialista».


A velha múmia, que foi a primeira ratazana a roer o nosso aparelho produtivo, entregando
sectores chaves da economia aos privados – e aos estrangeiros –, a primeira a chamar e o FMI, para além de ser a pérfida inventora dos contratos a prazo e dos salários em atraso, devolvendo o país aos investidores, clama, agora, indignada, que há portugueses a passar fome. Como se não tivesse sido ela – a ratazana - a primeira a abrir as portas à fome.

Este estupor, que devia estar calado há muito tempo, caso soubesse o que é vergonha, decoro e virtudes semelhantes – e que ainda nos sangra, comendo à larga das verbas do OGE – esquece que foi de braço dado com o PSD, o CDS/PP e tutti quanti odiasse Abril – como o fascista e pedófilo Frank Carlucci – que começou a destruir-se Portugal.

Agora, o carro que o conduzia foi apanhado a 199 KM/hora, sendo detectado pelos radares da GNR, como nos conta a semanário SOL:

«O ex-presidente da República viu o seu motorista ficar com a carta de condução apreendida e sujeito a uma multa de 300 euros, como explica o CM. Mas, segundo f9onte da GNR ao jornal, Mário Soares reagiu mal e chegou a afirmar que “o Estado é que vai pagar a multa”.

O carro, um Mercedes-Benz S350 4 Matic, é propriedade da Direcção-Geral do Tesouro e das Finanças, e seguia no sentido sul-norte quando foi mandado parar numa estação de serviço. Os guardas garantiram ao CM que o histórico socialista foi “bastante mal-educado”».

Carro das Finanças?! «O Estado é que vai pagar a multa»?!

Ora aqui está a verdadeira face de um «democrata», «republicano» e «socialista».

4.03.2012

O Mestre e o Discípulo


Parábola para galinhas

- Mestre, porque subiu a gasolina vários cêntimos e desceu o
gasóleo um cêntimo. Não derivam os dois do petróleo?
- O petróleo, meu filho, é como Deus. São insondáveis os seus
desígnios.
- Mas porque é que o petróleo está a subir assim?
- Porque tem pena do governo.
- Pena do governo?! Porquê?
- Porque como cada vez se consome menos gasolina.
- E depois?
- Consumindo-se menos gasolina, os impostos cobrados sobre a
gasolina ficam abaixo do previsto.
- Quer dizer que aumentando o preço da gasolina se compensa essa
quebra de receita?
- És inteligente, meu filho.
- Mas se o preço da gasolina continuar a subir, acentua-se a
diminuição do consumo. Vai dar ao mesmo.
- Pois vai. Mas aí, volta-se a aumentar.
- É a isso que se chama um círculo vicioso? Ou deverei dizer ciclo
vicioso?
- No ciclo que atravessamos, tudo é vicioso. Depois há argumentos
contra e a favor de cada uma das expressões.
- Mas este ciclo não vai ter um fim, Mestre?
- Enquanto os homens abastecerem calma e pacificamente, este ciclo,
repleto de círculos viciosos, não terminará.
- Isso é um apelo à violência, Mestre?
- De modo nenhum.
- Pareceu-me.
- Vê o caso da avaliação das casas das pessoas, para efeitos de
IMI.
- Estou a ver.
- Achas que o valor atribuído aos imóveis está relacionado com o que
realmente valem, com base em critérios objectivos, designadamente tendo em conta
as tendências do tão propalado e inquestionável Mercado?
- Acho. Nem poderia ser de outra maneira, pois não, Mestre?
- Não deveria…
- Significa isso que…
- Pois significa. As bases de avaliação não partem do que cada
imóvel vale, mas do que é preciso cobrar para serem atingidas certas metas
orçamentais?
- Quer dizer, Mestre, que se as necessidades fossem maiores, as nossas
casas valeriam muito mais?
- Exactamente.
- Mas, Mestre, não me tens ensinado que o Estado deve ser uma
pessoa de bem? E que a virtude deve presidir aos actos de cada um de nós,
devendo os homens investido de altas responsabilidades, especialmente os que as
nações e os povos conduzem, ser exemplos entre os mais virtuosos?
- Sou teu Mestre. Não deles.
- Mas quando acabará este círculo – ou ciclo – vicioso?
- De duas maneiras. Uma, é quando os Senhores que controlam as
finanças perceberem que devem parar, sob pena de matarem a galinha dos ovos de
ouro.
- Nós?
- Nós.
- E a outra?
- Será quando as galinhas tiverem o cérebro um bocadinho maior.

4.02.2012

A nova legislação laboral ao ataque. Voltámos ao feudalismo, a caminho da escravatura

O ministro, os parvos, os espertos e a realidade
O ministro da Economia – o Álvaro, dos pastéis de nata – disse que a culpa do desemprego recorde era a "anacrónica" legislação laboral. Daí, a necessidade de novas leis que fizessem do trabalhador um simples parafuso, descartável a qualquer momento.

Um simples dado (empírico, estatístico, histórico, como quiserem) diz-nos que o brilhante ministro e esplendoroso académico mentiu – ou está muito enganado. Na verdade, na década de 90 – para não recuarmos mais – Portugal conseguiu taxas próximas do pleno emprego com a velha lei laboral.

Aliás, foi precisamente desde que os últimos governos começaram a rever essa lei, através de salvadores e sucessivos Códigos do Trabalho, que o desemprego disparou para níveis terceiro-mundistas.

Sendo assim, já vimos que o ministro ou mente, ou está fora da realidade.

Depois, há os parvos que aceitam – ou aplaudem – as novas leis laborais, porque não sabem isto. Ou, se sabem, não percebem nada do que está a acontecer.

A seguir, vêm os espertos, que são aqueles que vão beneficiar das novas leis, passando a dispor de mão-de-obra sempre com a corda na garganta, servil, pau para toda a obra, novos servos da gleba sujeitos à vontade do seu senhor. E aqueles «espertos» que, não beneficiando dela, pensam poder vir a beneficiar.

A realidade aponta para um conclusão lógica: se a nova lei já estivesse em vigor, o desemprego ainda teria maior dimensão. Com despedimentos mais fáceis e mais baratos e uma lei que torna todos os contratos precários, cortar pessoal será cada vez mais a via preferencial para abater custos. E com as pessoas desesperadas – incluindo milhares de jovens licenciados – dispostas a trabalhar por qualquer salário, a nova lei é um portão aberto para a mais brutal redução de salários alguma vez vista em Portugal.

Desgraçado país, que nem da miséria se farta. Nem de mentirosos. Nem de parvos. Nem de espertos.

3.31.2012

Seixal, Março de 2012


Café com moscas
- Conversa ao entardecer
- Oiça lá – interpelou-me o senhor Adérito, velho amigo que explora um café onde vou, de vez em quando, tomar a minha bica –, você acha que eu deveria aumentar o café, os bolos, a mini ou as sandes, só porque estou a ganhar cada vez menos?
Olhei para ele e encolhi os ombros.
- Sei lá, amigo Adérito. Você é que sabe as linhas com que se cose.

- Nem mais. Pois digo-lhe que se aos preços a que as coisas estão, eu já tenho a casa às moscas, se eu aumentasse um cêntimo, até as moscas fugiam.

Ri-me.

- Era o mais certo. Mas isso vem a propósito de quê? – perguntei.

- Leia aqui – disse ele, mostrando-me a primeira página do jornal que estava em cima do balcão.

- O estado está a perder receita ao ritmo de cinco milhões de euros por dia – li eu, em voz alta, como um menino bem-mandado.

- Sabe porquê?
- Tenho uma ideia. Mas já percebi que vai dar-me a sua versão.

- Vou, sim senhor – e sem me deixar respirar. - É porque estão a aumentar o preço daquilo que nós compramos. E, ao mesmo tempo, a ir-nos ao bolso com o aumento de impostos, congelamento de salários e cortes nos ordenados e pensões. Pensam que se benzem, mas esmurram o nariz. E como o desemprego a aumentar, então nem lhe conto.

- Claro, não há dinheiro, não se compra – concluí eu, desnecessariamente.

- Se eu vendia sessenta bolos, aqui há um ano, e agora não chego a vender uma dúzia, e se o mesmo se passa em todos os cafés, que pensa você que aconteceu às fábricas dos bolos?

- Fabricam menos, vendem menos, está claro…

- E despediram pessoal. E compram menos açúcar, menos farinha, menos leite. Logo, aumenta o desemprego e paga-se menos IVA, menos IRC e assim por diante.

- E o que se passa consigo, passa-se com todo o comércio, com toda a indústria, com a agricultura e com as pescas – acrescentei eu, como se estivesse a dar-lhe uma novidade.

- Já que fala de pescas. Ouvi, há dias, na televisão, que importamos mais de sessenta por cento do peixe que comemos.

Resolvi armar-me em engraçado.

- Pois, mas aí coitados, não há volta a dar. Não temos mar…

- Pois não. São eles que governam o país, mas nunca têm culpa de nada. Nem sequer dos tratados e dos acordos que assinam. Nunca são eles, são sempre os que estavam antes deles. Os que estão agora é que garantem que vão endireitar isto. Como se não fossem todos farinha do mesmo saco, como se não lessem todos pela mesma cartilha.

- Não acredita que estes vão endireitar isto, senhor Adérito?

- Pois acredito. E no Pai Natal e na história da Carochinha – e piscou-me o olho, enquanto, com um gesto de cabeça, me indicou uma mesa.

Percebi o sinal. Refinei a minha actuação de parvo, já não para esgrimir com ele, mas para os três homens sentados na mesa, que tinham interrompido a sua conversa quando a nossa começara.

- Mas isto com mais umas medidas de austeridade vai lá.

- O remédio é mesmo esse: mais desemprego, menos poder de compra, menos receita fiscal, mais falências, mais recessão, mais austeridade, mais desemprego… e vira o disco e toca o mesmo. E nós a entrarmos que nem uns tansos.

- Se eles o dizem… Não foram eles que estudaram? E, principalmente, não foi neles que o povo votou?
O senhor Adérito pôs-se a olhar para mim, com um ar muito sério, coçou o queixo e disse:

- Anteontem, um rapaz matou a mãe, depois de ter, aqui há uns tempos, espancado o pai. Era esquizofrénico e, segundo disseram nas notícias, andava descompensado porque não tomava os medicamentos.

- Ouvi falar disso, sim – disse eu.

- Sabe quem matou a mãe do rapaz? Foram os nossos governantes. Sabe porquê?

- Sou todo ouvidos…

- Porque já não havia dinheiro naquela casa para os medicamentos, que deixaram de ter a comparticipação que permitia aos doentes sem recursos adquiri-los. Eram quase gratuitos. Agora, custam balúrdios. Como é que um doente com uma doença incapacitante se pode tratar nestas condições?

Percebi que o senhor Adérito cada vez mais não estava a falar para mim, apesar de estar a falar comigo. Aparei-lhe no jogo.

- Está a chamar criminosos aos nossos governantes?

- E devia chamar-lhes o quê? Se nos tiram o pão da boca, os medicamentos, o salário, o ganha-pão de milhões de pessoas, se puseram o país de rastos, o que hei-de eu chamar-lhes?

- Com uma casa aberta, não acha que deveria… sei lá, moderar a sua linguagem?

- Já não tenho uma casa aberta. Tenho uma casa a fechar devagarinho. E olhe que nada fiz para isso. Mas já não ganho para as despesas, amigo João. Agora, a minha filha está outra vez desempregada. Se o meu genro também perde o emprego, quem é que lhes vai valer, já viu?

- Há quanto tempo está aqui, senhor Adérito?

- Há quarenta e dois anos. E nunca falhei um dia, salvo quando morreram os meus pais. Abria antes das sete, nunca fechava antes da meia-noite, e estava sempre a entrar gente. Agora, aparece um cliente de vez em quando, quando dantes, aos pequenos-almoços e a seguir ao almoço e ao jantar, não tinha mãos a medir.

- Não há dinheiro.

- Só no bolso de quem trabalha é que não há dinheiro. Pelos vistos, foi todo parar ao bolso dos investidores. Explique-me lá você, que percebe disto, como é que há gente tão rica, tão rica, que tem dinheiro para emprestar aos países? Terão minas de ouro?

- Eu não percebo nada disto, senhor Adérito. Mas se os tais investidores têm dinheiro para emprestar aos países, certamente que o ganharam honestamente. Pelo menos, ninguém os acusou de nada.

- Honestamente?! Acha?

- Acha que não?

- Acho, não: tenho a certeza. Dinheiro honesto é o que consegue a trabalhar, e não à custa do trabalho dos outros.

- É roubado, então, o dinheiro deles? É isso que está a dizer?

- É pior. Um tipo que rouba, arrisca o pelo. Eles não roubam, mas pagam a quem faz as leis que permitem, de forma legal, que os estados criem mecanismos para eles ficarem com a riqueza que os que trabalham produzem. O dinheiro que eles nos emprestam é o dinheiro que os nossos governos lhes meteram, legalmente, mas imoralmente, nos bolsos.

- Está a dizer-me que os nossos impostos servem para sermos sangrados, em vez de servirem para nos serem devolvidos em qualidade de vida? Melhor saúde, melhor educação, melhor agricultura, melhor pesca, mais e melhor indústria. É isso?

- Nem mais.

- Mas como é que saímos desta? Se o povo vota sempre nos mesmos, as políticas vão ser sempre as mesmas.

Ouvi um arrastar de cadeiras atrás de mim. Um homem baixo, bem vestido, chegou-se ao balcão e perguntou quanto era a despesa.

- São só as três bicas, não é verdade? Um euro e sessenta e cinco.
O homem pagou e encaminhou-se para a porta, onde já estavam os outros dois à espera. Saíram.

- Quem eram? – perguntei.

- Não os conhece?

- Nem olhei bem para eles.

- São os três da assembleia municipal. O que veio pagar, é do PS; os outros dois são do PSD.

- Afastei-me disso tudo. Não os conheço, nem quero conhecê-los.

- Olhe que deve conhecer bem os seus inimigos…

Ri-me.

- Não sabe o que dizem os cérebros bem pensantes? Que em democracia não há inimigos. Dizem, essas boas almas, que num regime democrático só existem adversários políticos.

- A porra toda, sô João, é que os nossos adversários políticos estão a fazer-nos pior que os velhos inimigos fascistas. E a isto não há volta a dar.

E as lágrimas corriam pelo rosto honrado do senhor Adérito.