11.29.2008

Sócrates e a banha-da-cobra

(Com a devida vénia ao autor do blog referido na foto)

As mentiras e o que elas escondem

Quando o senhor «engenheiro» veio dizer aos portugueses, com o ar mais convicto deste mundo, que Portugal havia escapado à recessão económica, estava, é claro, a mentir. Mesmo que seja um ignorante em economia, dado que o diploma que obteve apenas lhe permite auto-intitular-se engenheiro, tinha obrigação de perguntar ao seu ministro das Finanças se podia garantir tal coisa. É claro que o ministro das Finanças, mesmo sendo considerado o pior de UE, deveria saber o suficiente para o aconselhar a não proferir tal barbaridade. Donde se conclui, sem margem para qualquer dúvida, que Teixeira dos Santos e José Sócrates decidiram aldrabar aos portugueses.

Na realidade, o INE divulgou, recentemente, os dados provisórios sobre o PIB do 3.º trimestre de 2008. E esses dados revelam, quando os comparamos com os do trimestre anterior, que o crescimento económico em Portugal foi ZERO. Na verdade, um primeiro-ministro avisado, ou que não gostasse de mentir aos seus governados, deveria saber que os dados divulgados pelo INE são ainda provisórios, pois os definitivos só serão publicados em Dezembro, e que os dados definitivos, normalmente, corrigem os provisórios em baixa, o que poderá significar que o ter «escapado à recessão» é transitório e apenas resulta da falta de precisão dos dados agora disponíveis.

Para além disso, um crescimento zero, que deveria deixar de cabelos em pé a qualquer governo responsável, parece não incomodar o senhor primeiro-ministro, que prefere continuar a apostar na mentira e no ilusionismo como forma de governação. Na melhor das hipóteses – isto é: o primeiro-ministro e o ministro das Finanças são dois ignorantes chapados – poder-se-ia concluir que Sócrates e o seu governo ainda não conseguiram compreender que o País caminha para a recessão económica, e que são necessárias medidas urgentes para reduzir as consequências sociais e os consequentes efeitos sobre a economia. Medidas urgente, e não conversa fiada.

Por outro lado, Sócrates embarca, como todos os governantes por esse mundo fora, apostados em socorrer o capitalismo nesta sua longa e fétida agonia, na tese enganadora – outro mentira, portanto – que garante que a crise financeira vai agora afectar a «economia real», ou seja, vai entrar forte e feio nos bolsos das pessoas. Quanto a mim, que não sou engenheiro nem economista, sei o suficiente para vos garantir que é precisamente o contrário, ou seja: foi porque a crise afectou drasticamente as famílias, levando-lhe dos bolsos até o necessário para as despesas básicas, que o sistema «deu o berro» (perdoem-me o plebeísmo), já que se confrontou com a impossibilidade de continuar a sugar a torto e a direito, como até há pouco fazia.

Vendo bem, este «aviso» de que vêm aí tempos difíceis, mais não é que preparar o pagode para ainda mais sacrifícios, já que é necessário voltar a encher os baús dos magnatas com fundos públicos, em vez de lhes retirar as rédeas do poder económico, encarcerá-los (como se faz a qualquer larápio) e, naturalmente, desapossá-los definitivamente das empresas que delapidaram criminosamente.

Falámos, então, de duas mentiras recente do senhor «engenheiro». Como não há duas sem três, continuemos:

Sócrates não se cansa de afirmar que o Orçamento Geral do Estado, apresentado para 2009 – e aprovado apenas pelo PS – diminui a carga fiscal que incide sobre as empresas e as famílias. É mentira! Repito: é mentira! A verdade é outra, e Sócrates bem o sabe.

Explica-nos o economista Eugénio Rosa (que por ser um desmancha-prazeres não é visita frequente dos programas de opinião e «esclarecimento» que as nossas televisões impingem) – e passo a citar – que «em 2008, os escalões do IRS aumentaram apenas 2,1% e, em 2009, a subida decidida pelo governo é apenas de 2,5% o que dá, para o conjunto dos dois anos, 4,7%, ou seja, um valor que é inferior à taxa de inflação, que somou 5,5%. Assim, se um trabalhador tiver no conjunto dos dois anos uma subida salarial igual ao aumento de preços, o seu poder de compra diminuirá devido ao efeito corrosivo do IRS, já que a actualização insuficiente dos escalões do IRS determinará que ele passe para um escalão mais elevado, o que obrigará a pagar mais imposto, ficando, em consequência, com menos salário».

E continua Eugénio Rosa, na sua qualidade de economista dos pobres, e não ao serviço dos senhores do capital financeiro: «É o que acontecerá com os trabalhadores da Administração Pública, cujos vencimentos aumentaram, em 2008, apenas 2,1% e, em 2009, o governo pretende impor uma subida de apenas 2,9% o que dá, para o conjunto dos dois anos, um aumento de 5,1%, que é inferior à subida dos preços nos dois anos. O poder de compra destes trabalhadores diminuirá devido não só ao facto dos vencimentos subirem menos do que a inflação, mas também porque os escalões do IRS aumentaram menos que a subida verificada nos vencimentos. Neste caso, verificar-se-á o efeito corrosivo conjugado da inflação e do IRS, o que provocará uma descida mais acentuada do poder de compra dos vencimentos no conjunto dos dois anos».

Assim, como facilmente se conclui, «a política fiscal do governo, materializada na Proposta de OE2009, determinará um agravamento da injustiça fiscal. E isto porque a percentagem das receitas fiscais que têm como origem os Impostos Indirectos, que são impostos mais injustos porque não têm em conta o rendimento de quem os paga, aumentará de 57,7% para 58,9%. Isto significa que em cada 100 euros de impostos pagos pelos portugueses em 2009, 58,9 euros terão como origem impostos indirectos (IVA, Imposto sobre Produtos Petrolíferos, Imposto de Tabaco, etc). É claro o desrespeito pelo n.º 1 do art.º 103 da Constituição da República, que diz textualmente o seguinte: "O sistema fiscal visa a satisfação das necessidades financeiras do Estado e outras entidades públicas, e uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza"».

Aqui chegados, podemos concluir que nem são as mentirolas de Sócrates que mais nos devem preocupar, já que elas só servem para encobrir algo de muito grave, e que é isto: o governo socialista depena e sangra os trabalhadores portugueses e os reformados, para canalizar os recursos assim acumulados directamente para as mãos do grande patronato e para as arcas sem fundo dos senhores do capital financeiro.

E como estamos no campo das mentiras e dos mentirosos, vem a talho de foice falarmos do fecho das Pirites Alentejanas. Há seis meses, José Sócrates garantia, em Aljustrel, trabalho para dez anos e salientava que «é disto que o País precisa».

Agora, mal passado que foi meio ano, é anunciado novamente o fecho das minas, e o governa desdobra-se em manobras para tentar ganhar tempo e adiar os protestos dos trabalhadores. Fala de uma venda das minas – o que não é possível, uma vez que apenas poderá ser negociada a concessão da exploração dos recursos naturais, e não a sua propriedade – a um grupo estrangeiro fantasma, mas tudo leva a crer que nada disso tem bases credíveis.

Mas também não importa. Afinal são apenas algumas centenas de famílias que vêem a miséria a bater-lhes à porta.

Olhem: são mineiros, não é verdade? Pois que fossem banqueiros, que alguma coisa se havia de arranjar. Para aí qualquer coisa como uns vinte mil milhões de euros, estão a ver?

11.19.2008

Grande Circo Lusitano (II)



A democracia interrompida


Sempre que o PS está no poder, lembro-me dos tempos anteriores ao 25 de Abril. Parece-me que faço uma viagem ao passado. Volta a insegurança, volta o medo, voltam as dificuldades, voltam as perseguições, as ameaças, a repressão, as denúncias, a bufaria. Volta o contar aflitivo dos tostões (cêntimos, na desgraçada moeda actual).
Para além destes regressos, aparecem coisas novas, como o Código do Trabalho, que pretende obrigar-nos a trabalhar onde e quando os patrões quiserem, mais nuns dias, menos nos outros, entregando-nos – e às nossas vidas – completamente, nas mãos das entidades patronais. Esta, meus amigos, nem Salazar admitiria.

Há dias, um sujeito que ocupa o lugar de secretário de Estado da Administração Pública, boy socialista cheio de energia para levar à prática as políticas do «engenheiro»-chefe, José Sócrates Pinto de Sousa, disse, sem se engasgar, que a reforma da Administração Pública « está no terreno» e que quem não cumprir as exigências que a lei impõe «será trucidado». E precisou: «Trabalhadores, serviços e dirigentes que não estejam com a reforma serão trucidados». Este belo exemplar da raivosa matilha socialista, de seu nome Gonçalo Castilho dos Santos, não está com meias medidas, pelo que resolveu enfatizar: os funcionários devem ter a noção de que «a reforma já não pode andar para trás», pelo que «trucidará quem não estiver com ela».

Resumindo a ideia do fulano:
hoje, quem não está com o poder arrisca-se a ser trucidado, tal como antes se arriscava a bater com os ossos em Caxias ou Peniche. E estamos conversados sobre o conteúdo democrático da gentalha socialista instalada no poder.

Mas, no entanto, convém esclarecer que as ameaças do senhor Castilho dos Santos revelam algo mais do que espírito despótico. Revelam medo. É que se o Governo aprovou legislação para entrar em vigor em 1 de Janeiro, não há lei que obrigue ninguém a assinar o novo contrato. Para poder entrar em funções, cada funcionário público assinou um contrato. É esse que vale, pelo menos até assinar outro que o substitua. O que falta saber é como irá reagir a maioria do funcionalismo público ao convite para assinar um contrato pior do que o anterior. Com mansidão suicida, ou dizendo um estrondoso «BASTA!» a tanta manigância e violência? Como 2009 é ano de eleições, este assunto, apesar das ameaças, não está encerrado.

Voltando aos professores – e aos alunos – e à sua justa luta contra as malfeitorias desvairadas da ministra, verifica-se que a Monalisa da Educação já começou a recuar a todo o vapor. No que respeita ao Estatuto do Aluno, até legislou ao domingo para – pasme-se! – acusar as escolas de… estarem a cumprir a lei. Diz ela no seu despacho: «Considerando que a adaptação dos regulamentos internos das escolas ao disposto no Estatuto do Aluno nem sempre respeitou o espírito da Lei, permitindo dúvidas nos alunos e nos pais acerca das consequências das faltas justificadas designadamente por doença ou outros motivos similares…». Isto é: as escolas perceberam mal o «espírito da Lei». Pois… o espírito da Lei. E a letra da Lei, a que a ministra agora dá outra e letra e, consequentemente, novo espírito? Francamente, senhor ministra, V. Exa. entrou, definitivamente, em parafuso.

Relativamente à avaliação dos professores, a ministra, suando por todos os poros, já deixa escapar que, afinal, tudo pode ser discutido. Ainda estrebucha, mas já vai dando o flanco. É fundamental que, agora, os professores, os alunos, as famílias e, em geral, os portugueses mantenham a unidade e a firmeza necessárias para impedir a concretização das alucinações de Sócrates e da D. Maria de Lurdes.

Pelo meio, duas anedotas:

Uma, conta-nos que mais de 250 Magalhães, entregues por Sócrates numa escola transmontana, foram retirados aos alunos mal acabaram as cerimónias da oferta, captadas com toda a pompa e alarido pelas câmaras de televisão, numa das mais ridículas acções de propaganda promovidas pelo senhor «engenheiro». É de morrer a rir, esta anedota…

A outra, é contada pelo próprio Sócrates. Disse ele: «Sou, digamos assim, da geração Kennedy. Essa eleição representou já um momento histórico. Lembro-me do debate que houve na América quando, pela primeira vez, um católico se candidatou a presidente. O próprio Kennedy teve de vincar bem que nunca receberia ordens do Papa enquanto presidente dos EUA. Lembro-me bem do que isso significou

Ora, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa nasceu no dia 6 de Setembro de 1957, em Vilar de Maçada, concelho de Alijó, distrito de Vila Real. E Kennedy foi eleito presidente dos EUA em Novembro de 1960. Ou seja: José Sócrates tinha, então, três aninhos de idade. Que menino tão precoce! Ou será que a certidão nascimento também foi passada ao domingo e – digamos assim – de forma menos precisa?

Voltando ao sério, soubemos que foi reconhecido, em Bruxelas, aquilo que, em Portugal, todos sabemos. Temos dos piores sistemas de cuidados de Saúde de toda a Europa, dado que surgimos em 26.º lugar numa classificação dos sistemas de cuidados de Saúde em 31 países europeus, divulgada em Bruxelas pela organização Health Consumer Powerhouse, que sublinha o deficiente acesso aos tratamentos e tempo de espera.

Com um total de 507 pontos em 1.000 possíveis, no conjunto de 34 indicadores de desempenho divididos em seis categorias, Portugal é o quarto país da União Europeia com pior resultado, surgindo na lista apenas à frente de Roménia e Bulgária, da Croácia e Macedónia (dois países candidatos à adesão à UE) e da Letónia, última classificada, numa lista liderada pela Holanda.
O 26.º lugar atribuído a Portugal representa uma nova queda relativamente às hierarquias elaboradas nos anos anteriores, já que em 2006 Portugal surgia na 16.ª posição e no ano passado no 19.º posto. Mais uma medalha de «mérito» para a governação socialista, coisa que a modéstia de Sócrates impede de referir nos seus inflamados discursos.

A propósito de Saúde. A gaguejante ministra da pasta, Ana Jorge, parece querer bater Lino e Pinho no que respeita a gaffes e barracadas. Não sabe responder a nada do que lhe perguntam, especialmente quando se trata das contas – das dívidas – do seu ministério e das enormes derrapagens orçamentais. Enrola, sorri, engole em seco, gagueja, diz que o secretário já respondeu às questões, e quando lhe recordam que isso não corresponde à verdade, lá vai dizendo que a «não resposta» do senhor secretário é, afinal, a resposta que se pode arranjar.

É o Grande Circo Lusitano em todo o seu esplendor.

Mas haja circo, porque pão, esse, vai faltando um pouco por todo o lado.

11.16.2008

Intermezzo VI




Outono

Escrevi na terra molhada o meu nome. E fui no vento.
No hálito da tarde, habitada por folhas inquietas,
persegue-me a nitidez das letras recortadas.
É ali que vou morrer, pressagio,
sem ponta de medo ou emoção.
Creio que os plátanos sabem,
no silêncio obsessivo das raízes,
o local exacto onde o outono cobra os seus tributos.

Resta, então, um silêncio fatigado de desejos magoados,
tela pintada com poalhas e crepúsculos,
uma vontade enorme de ser chão, ou seiva, ou aloendro.
No entanto, um insólito calor corrompe os musgos,
fermenta o vinho novo nos lagares antigos
e, no segredo das colmeias, fervilham sonhos de flores ausentes.

Pressinto a vida emboscada na ilusão da morte.

11.15.2008

De Maria de Lurdes e outras calamidades

Uma ministra alucinada, um «engenheiro» egocêntrico
e um partido que envergonharia a velha União Nacional,
são as grandes atracções do Grande Circo Lusitano

O Grande Circo Lusitano

A ministra da Educação, entrevistada no dia da gigantesca manifestação dos professores, entre várias diatribes indicadoras do seu desespero e, acima de tudo, da falta de argumentos que suportam as medidas governamentais para o sector, regorgitou que tudo tinha a ver, essencialmente, com estratégias partidárias e o ano eleitoral que se aproxima.

Ao ouvi-la, lembrei-me de Salazar, que costumava atribuir aos comunistas qualquer vestígio de contestação à ditadura. Há tiques – e desculpas – que definem a mentalidade de quem os usa, do que resulta que não é democrata e decente quem quer – ou disso se rotula – mas quem intrinsecamente o é.

Na altura em que expeliu afirmação tão bafienta, a senhora ministra, do alto da sua arrogância e prepotência, acrescentou que a manifestação também era uma forma de chantagear as escolas e os professores que, segundo ela, eventualmente acatam as malfeitorias do governo socialista. Nessa altura, bem poderia – e deveria – o jornalista ter-lhe perguntado se alguns desses professores também não terão o seu partido (no caso, o PS) e, por isso, agirão mais por devoção partidária, e menos em defesa dos seus interesses profissionais e, acima de tudo, em defesa da escola, do ensino e da formação dos alunos que têm a seu cargo.

Poderia perguntar-lhe, também, se a ministra não tem conhecimento das enormes pressões exercidas pelo aparelho socialista instalado nos vários patamares da hierarquia do sector, que vão desde a actuação dos rasteiros e dissimulados bufos, até à descarada repressão de responsáveis pelas direcções regionais de educação – de que é exemplo flagrante uma tal Margarida Moreira, matrona socialista, de vocação inquisidora, a que junta uns laivos repressivos herdados do regime anterior. Mas o jornalista não se lembrou destas elementares perguntas ou, então, achou mais prudente não irritar a senhora e, por consequência, o «engenheiro», que assim não precisou de se incomodar a telefonar para o responsável da estação, exigindo que o atrevimento fosse devidamente punido. Como já fez noutras oportunidades.

Mas deixemos, por agora, D. Maria de Lurdes e os seus fantasmas, para olharmos o país em geral, onde a pobreza continua a alastrar. E se pensam que se trata de uma afirmação minha, subversiva e sectária, desiludam-se. Quem o afirma é a própria igreja católica, pela voz dos seus bispos, que garantem não deixar de lutar contra a pobreza, chamando a atenção para o facto de haver cada vez mais famílias a passar fome em Portugal.

Discursando na Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, realizada em Fátima, o arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, afirmou mesmo que o governo devia proteger mais as famílias e fazer do combate à pobreza a sua principal preocupação. Repito: a sua principal obrigação.

«Numa sociedade dita avançada é confrangedor deparar com as dificuldades vividas no interior de muitos lares. Começam a faltar bens essenciais e a vergonha torna a pobreza mais angustiante», afirmou D Jorge Ortiga, salientando que «não se pode ignorar e desconsiderar as grandes dificuldades económicas em que se encontram muitas das nossas famílias, particularmente os mais jovens e os reformados».

Como que respondendo a isto, em Oliveira de Azeméis encerrou mais uma fábrica, a IBEL, lançando para o desemprego cinquenta trabalhadores. São mais algumas famílias que vão engrossar a lista angustiante dos que não sabem como vão sobreviver daqui para a frente. Claro que estes postos de trabalho que se perderam não contam para a contabilidade de José Sócrates mais os seus mirabolantes 150 mil novos postos de trabalho, já que para a contabilidade do senhor «engenheiro» não existe a coluna do deve, mas apenas a coluna do haver.

Entretanto, o preço do petróleo já está abaixo dos 50 dólares, quando há poucos meses se cotava a 140 dólares. Resultado desta descida? A redução, de vez em quando, de alguns cêntimos no preço dos combustíveis. Pergunta ingénua: porque não voltam os combustíveis aos preços aproximados daqueles que vigoravam quando o petróleo se transaccionava ao preço que tem hoje?

Ao mesmo tempo, a União Europeia quer que Portugal reduza as suas capturas de pescado em águas nacionais, propondo um corte de 40% para o carapau e cortes inferiores, mas significativos, para outras espécies. Tudo isto levará a preços mais caros, a mais desemprego e a um maior endividamento do país ao estrangeiro, já que o pescado que não podemos capturar passará a ser importado. Veremos como vai reagir o governo, mas o costume é curvar-se à vontade comunitária, depois da palhaçada de algumas reduções simbólicas à proposta inicial.

No capítulo da segurança, continuam os assaltos para todos os gostos. Portagens, cafés, ourivesarias, bancos, pessoas na via pública, e por aí fora. Nas Caldas da Rainha, por exemplo, uma mulher, de 68 anos, foi picada com uma seringa, arrastada pelo chão durante vinte metros e agredida a pontapé por um ladrão, toxicodependente, que acabou por lhe roubar dez euros. Apesar da violência do roubo, que obrigou a vítima a receber assistência hospitalar, o assaltante, entretanto detido, ficou em liberdade a aguardar o julgamento. E, provavelmente, com a sua indispensável seringa, paga por todos nós, e que por não ser considerada uma arma, não carece de licença.

Bem fez o proprietário de um café no Barreiro, que despachou o seu assaltante com sete tiros, não fosse terem falhado os seis primeiros. Também um dos assaltantes de uma cabine das portagens de Auto-estrada 1, em Santarém, acabou morto por atropelamento, durante a perseguição movida pela GNR. Desculpem-me a insensibilidade, mas não senti a mínima pena.

No meio disto tudo, a trapalhada com o Banco Português de Negócios, a provar que as nacionalizações apenas são boas quando se trata de pôr os portugueses todos a pagar as vigarices dos banqueiros. Misterioso – ou talvez não – é o comportamento do socialista Constâncio, que governa o Banco de Portugal. Há anos que se acumulavam indícios do que realmente se passava, desde livros publicados a denúncias de auditores credíveis e a relatórios da equipa que investiga a Operação Furacão. Victor Constâncio, cuja competência todos salientam, curiosamente não viu nada, não ouviu nada, e, claro, nada fez – ou pouco fez. É muito pouco, tendo em atenção o muito que ele ganha. Mas, como é costume em Portugal – e a este nível – tudo vai dar em águas de bacalhau. Apostam?

E sabem uma coisa? Eu adivinhei que a D. Fátima Felgueiras ia ser condenada… mas com a pena suspensa.

Também não era preciso ser muito esperto para adivinhar isto, pois não?