11.24.2010

O Engenheiro Abranhos


O Engenheiro Abranhos


Eça de Queirós escreveu O Conde de Abranhos em Novembro de 1878. Trata-se de uma sátira ao tipo de político imbecil, torpe, oportunista e hipócrita que proliferava à época. Se Eça fosse vivo, teria na casta que hoje medra entre S. Bento, Belém e as administrações das empresas públicas e privadas – os novos Abranhos – uma fonte inesgotável de inspiração. No lugar do conde, que já não os há, teríamos o engenheiro Abranhos. No mais, seria o mesmo retrato do arrivista sem inteligência e sem escrúpulos, que em vez do fraque, cartola e colarinhos engomados, traja Armani e gravata de seda.

132 anos depois, a maioria do povo português sujeita-se a esta gente medíocre, cretina e impiedosa, porque não passa da tal «raça abjecta» de que Oliveira Martins falava.

Eça sabia, há século e meio, o que milhões de portugueses, com ensino obrigatório, televisão, internet, telemóveis, Magalhães e universidades privadas – tipo pronto a diplomar – não conseguem sequer sonhar.

Raça abjecta? Evidentemente! Com excepções, é claro. Mas se a regra não fosse a abjecção, não seríamos espezinhados, como somos, por esta bafienta e infame linhagem dos Abranhos.

11.07.2010

A máquina de fazer pobres

A máquina de fazer pobres


E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?

Almeida Garrett in Viagens na Minha Terra


Esta pergunta está por responder, apesar de ter sido feita em 1846. Apenas se sabe que são muitos. São milhões, para dizer a verdade. Eram-no em 1846, são-no em 2010. E, pelo que sabemos, serão muitos mais, já a partir de Janeiro de 2011. A partir, até, do próximo minuto.


Os economistas políticos, os moralistas, os advogados, os engenheiros, os senhores doutores que têm opinião sobre tudo, os que governam, os que governaram e os que querem governar, não querem responder a isto, mas sabem a resposta. Por uma simples razão: eles são a máquina que produz os pobres. Os pobres de ontem, os de hoje, os de amanhã. Os de sempre. Os que nasceram e morreram na miséria.


Ao reduzir os salários e as pensões dos portugueses, mas deixando intocáveis os dividendos das grandes empresas, cujos lucros fabulosos resultam da factura que, todos os meses, apresentam aos consumidores, o senhor Presidente da República (por omissão), o senhor primeiro-ministro, os senhores deputados que suportam o governo, o senhor Passos Coelho e restante direita parlamentar, com destaque desenroso para um partido que se alcunha a si próprio de «esquerda e socialista», constituíram-se numa sinistra linha de montagem de mais umas centenas de milhares de pobres. A acrescentar aos mais de 2 milhões que temos.


A República nasceu em 1910. A Liberdade trouxe a Democracia em 1974.


Sim? E depois?






11.04.2010

O défice


Mais vida para além do défice? Onde?


Entre esta democracia - que dá aos accionistas da PT milhões de euros em proveitos (legalmente isentos de impostos) enquanto tira aos famintos as últimas côdeas - e a ditadura de Salazar e Caetano, caída em Abril de 1974, as diferenças são meramente de estilo, de método.

Mas sujeitemos-nos, mansamente, às regras democráticas. É bonito, civilizado e, principalmente, uma interessante forma de eutanásia.