4.03.2012

O Mestre e o Discípulo


Parábola para galinhas

- Mestre, porque subiu a gasolina vários cêntimos e desceu o
gasóleo um cêntimo. Não derivam os dois do petróleo?
- O petróleo, meu filho, é como Deus. São insondáveis os seus
desígnios.
- Mas porque é que o petróleo está a subir assim?
- Porque tem pena do governo.
- Pena do governo?! Porquê?
- Porque como cada vez se consome menos gasolina.
- E depois?
- Consumindo-se menos gasolina, os impostos cobrados sobre a
gasolina ficam abaixo do previsto.
- Quer dizer que aumentando o preço da gasolina se compensa essa
quebra de receita?
- És inteligente, meu filho.
- Mas se o preço da gasolina continuar a subir, acentua-se a
diminuição do consumo. Vai dar ao mesmo.
- Pois vai. Mas aí, volta-se a aumentar.
- É a isso que se chama um círculo vicioso? Ou deverei dizer ciclo
vicioso?
- No ciclo que atravessamos, tudo é vicioso. Depois há argumentos
contra e a favor de cada uma das expressões.
- Mas este ciclo não vai ter um fim, Mestre?
- Enquanto os homens abastecerem calma e pacificamente, este ciclo,
repleto de círculos viciosos, não terminará.
- Isso é um apelo à violência, Mestre?
- De modo nenhum.
- Pareceu-me.
- Vê o caso da avaliação das casas das pessoas, para efeitos de
IMI.
- Estou a ver.
- Achas que o valor atribuído aos imóveis está relacionado com o que
realmente valem, com base em critérios objectivos, designadamente tendo em conta
as tendências do tão propalado e inquestionável Mercado?
- Acho. Nem poderia ser de outra maneira, pois não, Mestre?
- Não deveria…
- Significa isso que…
- Pois significa. As bases de avaliação não partem do que cada
imóvel vale, mas do que é preciso cobrar para serem atingidas certas metas
orçamentais?
- Quer dizer, Mestre, que se as necessidades fossem maiores, as nossas
casas valeriam muito mais?
- Exactamente.
- Mas, Mestre, não me tens ensinado que o Estado deve ser uma
pessoa de bem? E que a virtude deve presidir aos actos de cada um de nós,
devendo os homens investido de altas responsabilidades, especialmente os que as
nações e os povos conduzem, ser exemplos entre os mais virtuosos?
- Sou teu Mestre. Não deles.
- Mas quando acabará este círculo – ou ciclo – vicioso?
- De duas maneiras. Uma, é quando os Senhores que controlam as
finanças perceberem que devem parar, sob pena de matarem a galinha dos ovos de
ouro.
- Nós?
- Nós.
- E a outra?
- Será quando as galinhas tiverem o cérebro um bocadinho maior.

1 comentário:

São disse...

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Abraço, meu amigo