
A maioria dos votos que o PS vai ter, não serão votos no PS. Serão votos contra o PSD.
A maioria dos votos que o PSD vai ter, não serão votos no PSD. Serão votos contra o PS.
Os eleitores – chamemos-lhes assim – portugueses não votam, por via de regra, em alguém. Votam contra alguém.
Por isso – e rigorosamente – em cada eleição há sempre um grande derrotado: o próprio Povo Português. A estupidez sempre saiu cara.
E há sempre um grande vencedor: o Poder Económico. Para ele, tanto faz que vença o PS, como o PSD. As políticas serão aqueles que ele, o Poder Económico, quiser. Podem esgatanhar-se à vontade – e até é bom que façam. O circo eleitoral distrai o pagode e, principalmente, dá a tudo um ar democrático.
Há também um pequeno derrotado: o bando de boys e girls que perdem os seus jobs sempre que o poder muda de mãos.
Como há sempre um pequeno grupo vitorioso: o bando dos novos boys e girls que vão ocupar os jobs que ficaram vagos.
O voto consciente, esclarecido, objectivo – isto é: em programas e propostas políticas que possam contribuir para resolver os problemas das pessoas e do país, é quase residual.
Por outro lado, a abstenção e os votos em branco representam atitudes mais lúcidos que os votos no PS, no PSD ou no CDS. Se algum destes partidos tivesse receitas e sapiência para resolver os nossos problemas, já o teria feito há muito tempo. Pelo contrário: já provaram que são, todos eles, parte do problema. Nunca serão a solução. Qualquer cidadão na posse de faculdades mentais nascidas de meia dúzia de neurónios – tanto basta – já consegue perceber isto.
Por tudo isto, se as eleições portuguesas não são um hino à estupidez e imbecilidade de um povo, então é apenas por que isto não é um povo. Por mais razão nenhuma.
Um dia destes, pode ser que a malta acorde, esfregue os olhos e corra a cambada toda a pontapé. Pelo menos isso – e se for com bota de biqueira de aço, tanto melhor.
Parece que há sítios onde as pessoas já começaram a abrir os olhos. Em Espanha, por exemplo.