10.31.2007

Intermezzo (II)

Alpendre

De súbito, a plenitude, a felicidade.
Sob o alpendre, a mesa posta, farta, e a família à volta.
Era serena a tarde, com verdes e azuis
e voos de pássaros estivais.
As manchas do jasmim e das roseiras
coloriam o eco das palavras,
os risos tranquilos e os gritos alegres das crianças.
Nenhuma dor, angústia ou névoa a ensombrar
os olhos luminosos e os sons de pétalas e cristais.

Sob o alpendre,
naquele puro instante, nenhuma dor havia.
E, no entanto, até a mesa, maciça e nova,
silenciosamente apodrecia.

6 comentários:

Graça Pires disse...

De súbito o júbilo. De súbito a mágoa. No mesmo instante o sonho e a lucidez. Ao mesmo tempo a plenitude e a solidão...
O teu Alpendre é um lugar de silêncios feito com o barro das palavras. Gosto dele. Um beijo.

São disse...

Yn e Yang, não é?
Não há alegria pura nem momentos totalmente perfeitos.
Aviso-te:este teu alpendre vai ficar muito bem na minha casa...
Bom feriado e que encontres uma bruxa sensível.

Monte Cristo disse...

Para a Graça e para a São

Eu diria que todo o júbilo é cego, surdo e mudo. Ignorante. Vivemos na ignorância - ou fingindo ignorar - a nossa permanente e inexorável caminhada para o (um) fim.

Talvez nos satisfaça saber - ou suspeitar - que essa é uma lei universal, cósmica, e que nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. Isto é: não há fim absoluto.

Mas como voltaremos? E quando?

Ou ainda: será que isso interessa?

São disse...

Te responderei no meu espaço, mas entretanto deixo-te o pensamento de um escritor cujo nome não recordo agora:O ser humano é mortal, mas não façamos como isso seja justo.
Ciao!

São disse...

Te responderei no meu espaço, mas entretanto deixo-te o pensamento de um escritor cujo nome não recordo agora:O ser humano é mortal, mas não façamos como isso seja justo.
Ciao!

São disse...

Duplicou sem eu querer, peço desculpa!
Já agora, se quiseres ir ver o "alpendre"..