10.30.2007

Intermezzo


Não contes a ninguém


Às vezes vou por aí, dissimuladamente,
as mãos metidas nos bolsos,
remexendo cinzas e outras memórias,
sem saber o que fazer com elas.
São os olhos que me levam,
para surpresas das pernas,
e isso acontece sempre ao fim da tarde,
quando suspeito que as horas nocturnas
vão ser irrespiráveis, como cactos.
Não contes a ninguém,
mas as cinzas são tudo o que tenho
e são tudo o que perdi.

Até hoje, voltei sempre para casa,
recoloquei as cinzas no meu sangue e,
depois, mais calmo,
adormeci.

3 comentários:

São disse...

Continuas a escrever muito bem!

Graça Pires disse...

"Não contes a ninguém,
mas as cinzas são tudo o que tenho
e são tudo o que perdi."
João Carlos? É aqui, então, o teu lugar de protesto, de indignação, de revolta. É aqui o teu espaço solidário de liberdade. É aqui que te encontro outra vez. O mesmo?
Um beijo grande

Monte Cristo disse...

Pois é Graça, pois é. É aqui que falo comigo e com os outros, tentando tecer uma grande teia.

Um beijo para ti