10.02.2007

A propósito de terrorismo

O terror dos utentes do

Serviços Nacional de Saúde

e, especialmente, das grávidas



Os actos e os rótulos



Leio nos jornais:


«A política de redução de salas de partos realizada pelo Ministério da Saúde, conduziu a que no concelho de Resende (o mais pobre do País) um em cada oito nascimentos ocorra no transporte por ambulância dos bombeiros locais». Resende é o concelho onde os nascimentos fora de um ambiente hospitalar atingem maior expressão. Por todo o País, no entanto, os bombeiros dizem não haver memória da situação atingir tais proporções. Pelo menos 31 casos foram noticiados desde há um ano».



«“Nunca tínhamos visto uma coisa destas. Desde 27 de Abril – em cinco meses – realizámos cinco partos”, disse o comandante dos Bombeiros Voluntários de Resende, José Ângelo. Um número que os bombeiros dizem ser elevado, dada a quantidade de crianças que nascem no concelho. José Ângelo aponta o encerramento da sala de partos de Lamego, há cerca de um ano, como causa principal para as crianças nascerem na estrada».Cravado no vale do Douro e com acesso por estradas sinuosas, Resende viu nascer 92 crianças no ano passado, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística. Um número que, repartido pelos 12 meses do ano, dá uma média de oito partos por mês. Verificados que nos últimos cinco meses ocorreram cinco partos em ambulâncias, uma em cada oito crianças nasceu num ambiente extra-hospitalar. O comandante dos bombeiros garante que “nunca foram realizados tantos partos, como agora, em ambulâncias”».



Se a situação é inédita no concelho de Resende, em todo o País os partos realizados pelos bombeiros não param de aumentar, com especial incidência em concelhos que viram encerrar os blocos de partos mais próximos. “Não tenho memória de haver tantos partos em ambulâncias como agora”, disse ao CM Rui Ramos Silva, do conselho executivo da Liga dos Bombeiros Portugueses. Também o presidente da Liga, Duarte Caldeira, afirma “ser possível estabelecer uma relação causa/efeito entre o encerramento de um bloco de partos e o nascimento de uma criança numa ambulância”.



José Ângelo teme que a prática constante de partos pelos seus homens possa ter riscos perante uma gravidez mais complexa. Indica que apenas têm uma formação básica do Instituto Nacional de Emergência Médica, e que a ambulância não está habilitada para a realização de partos. Também Rodolfo Baptista, dos Bombeiros Voluntários da Merceana, no concelho de Alenquer, considera que a reestruturação nacional das salas de partos não foi a mais correcta para as seis freguesias da Serra de Montejunto, que são servidas pela sua corporação. “Apesar de estarmos a apenas 15 minutos da maternidade de Torres Vedras, esta foi classificada como municipal, pelo que somos obrigados a encaminhar as grávidas para o Hospital de Vila Franca de Xira. São 40 quilómetros de más estradas que obrigam a uma viagem de um hora”, afirmou.



Claro que há mais: 31 partos foram noticiados nos últimos 12 meses. Sete na Figueira da Foz, seis em Resende, três em Mirandela e Lourinhã, dois em Penafiel, seis no Alentejo e um em cada um nos concelhos de Baião, Ansião, Alenquer e Ourém. Os casos mais falados são os da Figueira da Foz, onde após o encerramento da sala de partos nesta cidade, cujo concelho conta com 63 mil habitantes, ocorreram sete partos de emergência. Dois foram feitos no próprio hospital e cinco em ambiente extra-hospitalar, sendo que um foi feito em plena garagem da parturiente. Também em Mirandela, fechada a sala de partos em Setembro de 2006, pelo menos três bebés nasceram na estrada, assistidos pelos bombeiros.



Se isto não é terrorismo, vou ali e já venho.



Mas serão estas notícias incómodas para os carniceiros que mandam na Saúde? Não sei. Costuma-se dizer que quem não tem vergonha…



Porém, outra desgraça veio agora a público. Os maus cuidados prestados aos doentes valeram a Portugal o 19.º lugar num ranking que avaliou os sistemas de saúde de 29 países europeus. Uma posição atrás de estados como o Chipre, a República Checa, a Estónia ou a Eslovénia, numa lista que tem como objectivo aferir quais os serviços mais amigos do doente. A comparação foi ontem divulgada pela Health Consumer Powerhouse, uma organização sueca que visa avaliar e defender o papel do cidadão perante os diferentes sistemas de saúde. O desempenho do sistema de saúde português ressentiu-se dos resultados em áreas como a espera por uma consulta de clínica geral ou de especialidade e por uma cirurgia; a mortalidade por enfarte ou AVC; as operações às cataratas e os cuidados dentários disponíveis nas unidades públicas. Em todas estes pontos, o País recebeu uma classificação negativa.



O Ministério da Saúde diz que a sua avaliação coincide com este estudo. Isto é: não nega. E está muito feliz da vida, garantindo que vai continuar a sua política de destruição do SNS, que vai trespassando, calmamente, para os privados. Recordo que nas zonas onde o governo fechou maternidade e outros serviços de saúde, os privados apressaram-se a ocupar a vaga. Mais terrorismo social, ou haverá por aí designação melhor?



Mudando de assunto, para aliviar.



Leio que duas irmãs, de 16 e 33 anos, foram detidas pela GNR na cadeia de Custóias, quando tentavam, durante o horário da visita, introduzir droga no estabelecimento prisional, a pedido de um dos reclusos. As 100 gramas de haxixe que as duas mulheres tentaram introduzir estavam dissimuladas na comida que diziam levar para o recluso que iam visitar, contou uma fonte policial ao JN. Segundo contaram as detidas, a droga destinava-se a um dos reclusos, que a havia encomendado. Foram presentes a tribunal. Francamente! Presas por só levarem 100 graminhas de haxixe. Afinal, em que ficamos? As pessoas já não se podem drogar nas prisões? Então, para que servem as seringas e o resto do material que o Estado vai oferecer aos presos?



Voltando ao terrorismo, impõem-se a pergunta: Afinal, quem são os terroristas? O Parlamento iraniano aprovou a designação de "organizações terroristas" para a CIA e o Exército dos Estados Unidos da América, numa resposta à resolução do Senado norte-americano de atribuir designação idêntica aos Guardas Revolucionários do Irão. Para o Parlamento iraniano, a CIA e as Forças Armadas dos Estados Unidos são terroristas por causa do lançamento de bombas atómicas no Japão; da utilização de munições com urânio empobrecido nos Balcãs, Afeganistão e Iraque; do apoio às matanças de palestinianos por Israel; e do bombardeamento e matança de civis iraquianos e tortura a suspeitos de terrorismo.







«Os agressores, Exército dos EUA e a CIA, são terroristas e também alimentam o terror», refere uma declaração subscrita por 215 dos 290 deputados iranianos, divulgada anteontem à noite. A sessão parlamentar foi transmitida em directo pela rádio. A Casa Branca recusou-se a comentar a decisão.


Não é por nada, mas ao passar os olhos pela história dos conflitos armados e das agressões e invasões de países estrangeiros, os EUA ocupam os lugares todos do pódio. Nos últimos 60 anos, ninguém esteve na origem de tanta barafunda, de tanto morte, de tanto sangue inocente, de tanta destruição, de tanto massacre como os norte-americanos.


Mas continuando a ler os jornais vejo isto: «Em 2006, os EUA mantiveram o primeiro lugar na venda de armas no mundo, revelou um relatório do Congresso ontem divulgado em Washington. Num ano em que o comércio de armamento para os países em desenvolvimento movimentou 28,8 mil milhões de dólares, o Governo americano foi responsável por 36% desses negócios. Em segundo lugar surge a Rússia, com 28%, e em terceiro o Reino Unido, com 11%».

O relatório intitulado Transferência de Armas Convencionais para as Nações em Desenvolvimento revela ainda que os três principais compradores foram o Paquistão, a Índia e a Arábia Saudita. Com negócios de 10,3 mil milhões de dólares, os EUA mantiveram, contudo, a liderança deste mercado. Por outras palavras. Os norte-americanos não só matam que se fartam, como põem os outros a matar por eles, para além de fazerem do negócio da guerra e da morte uma das suas melhores fontes de receita.


Mas agora vai ser preciso muito tento na língua. Punir o elogio ao terrorismo é um dos objectivos da UE. De facto, o comissário europeu para a Liberdade, Segurança e Justiça, Franco Fratini, anunciou, durante o Conselho de Ministros da Justiça e da Administração Interna da União Europeia, que vai propor, no início do próximo mês, uma série de medidas que visam um endurecimento do combate ao terrorismo.


Vou ter que pensar muito bem antes de falar. Se eu disser que Bush é um uma excelente pessoa, uma espécie de Madre Teresa de Calcutá de calças, estarei a elogiar o terrorismo? Na minha opinião, estou. Na opinião deles, estarei a gozar, logo devo ser simpatizante daqueles a quem eles chamam terroristas.


E se eu disser que os palestinianos têm direito a usar a força para constituírem o seu Estado e se libertarem o jugo sionista, ou que os iranianos e os norte-coreanos têm o mesmo direito que paquistaneses, chineses, franceses, norte-americanos ou indianos de enriquecer urânio, estarei a elogiar o terrorismo, ou expressar um ponto de vista perfeitamente legítimo e compreensível? Na opinião deles, estarei a elogiar o terrorismo.

Mas sabem uma coisa? De quem eu tenho medo, por mim e pelo mundo inteiro, não é da Al-Quaeda, do Irão, da Eta, dos norte-coreanos, do Hamas ou das FRAC.


De quem eu tenho medo é de quem possui os grandes arsenais de armas convencionais, químicas, biológicas e nucleares, e que deles se valem para pilhar os recursos do planeta. Isto é: dos norte-americanos e dos seus aliados. Eles é que são capazes de incendiar isto tudo, seja por petróleo, seja por água, seja pelo que for.


E é a isso, meus caros, que eu chamo TERRORISMO. Com maiúsculas.

E para terminar, mais uma notícia sobre terrorismo: A taxa de desemprego harmonizada em Portugal acelerou para 8,3 % em Agosto passado, após ter estabilizado nos 8,2 % nos meses de Maio, Junho e Julho, anunciou ontem o departamento de estatística da Comissão Europeia, o Eurostat.

E eu é que sou terrorista, não é?

6 comentários:

São disse...

Ai!
Acho que os partos em ambiente extra hospitalar devem enquadar-se como uma das muita medidas de apoio às familias, Tais como: aumento do desemprego, trabalho precário,aumento das taxas de juro,etc,etc.
Quanto aos nossos queridos amigos norte-americanos penso que lhe devemos toda a nossa gratidão porque sem eles só haveria ditadores maus, assim temos também os ditadores bons, isto é, os que eles apoiam enquanto lhes convém. Como por exemplo, Sadam Hussein(que é só o mais recente...).
Só discordo de um ponto:não apoio a ETA de nenhuma maneira.Embora ache repelente a atitude do PP relativamente à aotodeterminação.
Os blogs espanhóis(alguns, claro) são interessantes de seguir nesse aspecto, até por causa da Guerra Civil
Acabei de ler um interessante livro intitulado "A Vertigem Norte-Americana", escrito por um filósofo francês:recomendo a sua leitura. Aliás, eu falarei sobre ele em ourocru.
Que a coragem esteja sempre contigo.

Anónimo disse...

Caminhamos para uma sociedade global tiranizada pelos poderosos. Eles definirão as regras do jogo, terão o campo, as bolas, os árbitros e - o que é pior - o livre arbítrio.

Tudo o que eles disserem será sagrado. Quem levantar os olhos, um dedo ou soltar uma palavra, desde que questione o novo poder emergente, será trucidado. Em nome da Nova Ordem Imperial. Um novo e verdadeiro Reich, adocicado, está aí, bem mais eficiente, porque subtil, que o de Hitler.

Continue a levantar a voz. Os meus parabéns.

Anónimo disse...

Tens razão. Terroristas são aqueles que todos os dias nos vêm aos bolsos, que nos dificultam ou tiram acesso a cuidados de saúde, que nos lançam para o desemprego, que fecham escolas e maternidades, que nos tratam como simples instrumentos ao serviço do enriquecimento de algumas famílias de novos e velhos ricos. E que, ainda por cima, nos envolvem (ou querem que concordemos) com as guerras que provocam para saquear outros povos e países.

Isto não é democracia, nem república, nem estado social. Isto é que é terrorismo. Isto é uma ditadura disfarçada de democracia.
Desmascará-los é o nosso dever.

Anónimo disse...

Os comentários ficam sem resposta?

São disse...

Viva!
A CIA, pelas rajadas de metralhadora do boliviano Mario Téran sobre um homem ferido e só, assassinou faz hoje 40 anos (9 de Outubro 2007) Ernesto "Che" Guevara, aos 39 anos.
Paz à sua alma!
Vida à Igualdade e à Democracia!!

Monte Cristo disse...

E o homem que o assassinou foi agora operado às cataratas por cirurgiões cubanos. Salvou-se de duas cegueiras: a dos olhos e a do espírito.