8.09.2009

Intermezzo VII




Tríptico



Útero

No teu silêncio táctil, quase nuvem,
é de vitral submerso a alquimia.
Em lumes brandos me fazes e modelas,
enquanto as tuas mãos, lá fora,
desenham flores e vagos medos no berço em que me esperas.


Alma pater

Tu eras um afago de pão ainda quente,
o sal e o leite misturados no lento caminhar dos dias.
De longe, o teu olhar viril
vigiava o restolho nos meus passos
e reduzia o universo aos limites do meu corpo.
Nunca choravas, mas hoje sei das tuas lágrimas invisíveis,
quando decidiste abrir a mão que segurava a minha.


Em nome do filho

Pudesse eu de novo conceber-te
e receber o teu primeiro grito, pequena ave que fugiste incauta,
e abriria a porta de um poema onde morresse em teu nome.
Talvez assim voasses outros céus
e no sangue dos meus versos conseguisses alcançar o sol.


3 comentários:

São disse...

Como é agridoce ser mãe / pai, não é?

Um apertado abraço, meu querido amigo!!

Graça Pires disse...

A mãe: o silêncio e a ternura das mãos. O pai: o afago, o amparo, a mão protectora. O filho: a ave, o poeta a sangrar no fogo das palavras.
Belíssimo o poema, meu amigo de todos os tempos. Um beijo.

São disse...

Quando escreves aqui de novo?

Um grande abraço, Amigo.