Intensificou-se a discussão sobre a liberalização do aborto até às dez semanas de gravidez, e já as mentiras, as meias verdades e os falsos moralismos, típicos das campanhas de caça ao voto, andam no ar. Ainda voltarei ao assunto, mas vou deixar, para já, uma nota suscitada pelos partidários do Sim.
Os que defendem que o aborto deve ser legal – dizendo melhor: livre e gratuito – até às dez semanas de gravidez, e crime a partir daí, continuam a esforçar-se por esconder (e, até, em negar) que apenas estão a pedir que o aborto seja mais uma medida contraceptiva, como a pílula, o preservativo ou qualquer outra. Ainda não me explicaram – e duvido que alguma vez o façam – em que milagrosa página da ciência aprenderam que o feto é natureza morta até às dez semanas (logo, coisa descartável, uma dispensável excrescência, algo inerte e sem sentido e, por isso, apto a ser atirado para um esgoto, forno crematório ou aterro sanitário, mas com toda a protecção e dignidade da lei) e, passa a ser, o mesmíssimo feto, coisa viva – e já humana – um segundo que seja após as dez semanas. Porque não gosto de mentiras, de meias verdades, ou de me sentir manipulado, tal bastaria, se outras razões não tivesse, para não votar como estes senhores e senhoras, em nome da modernidade e dos avanços civilizacionais, me pedem que faça.
E enquanto haverá dinheiro, no SNS, para pagar o aborto a quem, por razões económicas, sociais ou outras ainda mais íntimas e privadas (ou, até, pelo mais enternecedor desleixo ou bendita irresponsabilidade), enquanto haverá dinheiro, dizia eu, para quem queira sujeitar-se ao tal «desmancho», ainda que se trate de grávidas absolutamente saudáveis, o Estado não tem dinheiro para pagar ou, sequer, comparticipar, uma vacina que evita uma doença que mata uma portuguesa por dia. Face à delícia do paradoxo, só peço que me deixem rir…
É isso mesmo. Comparticipar na prevenção do cancro do colo do útero, através de uma vacina que está a ser comercializada a 480 euros, é coisa que parece não caber nos horizontes do senhor ministro da Saúde, mais interessado em fechar urgências, maternidades e Serviços de Atendimento Permanente.
Como em tudo o que é mau, também Portugal mostra a mais alta taxa de incidência da Europa deste tipo de cancro, registando 900 novos casos por ano, sendo mais de 300 deles mortais. Veremos se o equilíbrio das contas públicas é mais importante do que a vida destas mulheres. E veremos se os grandes defensores da «dignidade» da mulher se organizam com a mesma força e o mesmo empenho pela gratuitidade desta vacina contra o cancro do colo do útero, esse, sim, um verdadeiro e dramático caso de saúde pública. Mas, sabendo eu como as coisas são, deixem-me rir…
E já que estamos a falar de questões de saúde, não podemos ignorar a morte de um homem de 54 anos, que teve a infelicidade de ser vítima de um acidente de viação, em Odemira, no distrito de Beja, num local que distava mais de cem quilómetros do hospital mais próximo e, em consequência, de uma Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER). A partir daqui, foram seis horas em bolandas, com o Centro de Orientação de Doentes Urgentes a decidir que bastava uma ambulância dos Bombeiros de Odemira para socorrer o sinistrado, quando o que estaria indicado era a tal VMER. Levado para o SAP de Odemira, acabou por ter de esperar pela tal viatura. Ali, ao ser verificada a gravidade do caso, optou-se, só então, pela evacuação para Lisboa, com a respectiva espera pela chegada de um helicóptero e o longo voo até ao Hospital de Santa Maria, onde viria a falecer.
Como qualquer pessoa normal perceberá ao tomar conhecimento de um caso destes, estamos perante uma gritante situação de incúria, que se traduz, em última análise, num profundo desprezo pelas gentes deste país, em geral, e do Alentejo, em particular.
É que, no caso que referimos, o serviço de neurocirurgia mais próximo de Odemira, fica em… Lisboa! Aliás, não existem serviços de neurocirurgia a sul do Tejo, havendo apenas especialistas em alguns turnos dos hospitais de Faro e Portimão.
E o senhor ministro da Saúde do governo do socialista Sócrates, tão rápido a encerrar maternidades, urgências e SAP’s, a atrasar a colocação de médicos, a aumentar as taxas moderadoras e a criar outras – e que, por estar absorvido em tão caritativas acções, ainda não teve tempo para se preocupar com esta gritante falta de meios numa das regiões mais desprezadas do país – vem agora prometer averiguações ao sucedido.
Os que defendem que o aborto deve ser legal – dizendo melhor: livre e gratuito – até às dez semanas de gravidez, e crime a partir daí, continuam a esforçar-se por esconder (e, até, em negar) que apenas estão a pedir que o aborto seja mais uma medida contraceptiva, como a pílula, o preservativo ou qualquer outra. Ainda não me explicaram – e duvido que alguma vez o façam – em que milagrosa página da ciência aprenderam que o feto é natureza morta até às dez semanas (logo, coisa descartável, uma dispensável excrescência, algo inerte e sem sentido e, por isso, apto a ser atirado para um esgoto, forno crematório ou aterro sanitário, mas com toda a protecção e dignidade da lei) e, passa a ser, o mesmíssimo feto, coisa viva – e já humana – um segundo que seja após as dez semanas. Porque não gosto de mentiras, de meias verdades, ou de me sentir manipulado, tal bastaria, se outras razões não tivesse, para não votar como estes senhores e senhoras, em nome da modernidade e dos avanços civilizacionais, me pedem que faça.
E enquanto haverá dinheiro, no SNS, para pagar o aborto a quem, por razões económicas, sociais ou outras ainda mais íntimas e privadas (ou, até, pelo mais enternecedor desleixo ou bendita irresponsabilidade), enquanto haverá dinheiro, dizia eu, para quem queira sujeitar-se ao tal «desmancho», ainda que se trate de grávidas absolutamente saudáveis, o Estado não tem dinheiro para pagar ou, sequer, comparticipar, uma vacina que evita uma doença que mata uma portuguesa por dia. Face à delícia do paradoxo, só peço que me deixem rir…
É isso mesmo. Comparticipar na prevenção do cancro do colo do útero, através de uma vacina que está a ser comercializada a 480 euros, é coisa que parece não caber nos horizontes do senhor ministro da Saúde, mais interessado em fechar urgências, maternidades e Serviços de Atendimento Permanente.
Como em tudo o que é mau, também Portugal mostra a mais alta taxa de incidência da Europa deste tipo de cancro, registando 900 novos casos por ano, sendo mais de 300 deles mortais. Veremos se o equilíbrio das contas públicas é mais importante do que a vida destas mulheres. E veremos se os grandes defensores da «dignidade» da mulher se organizam com a mesma força e o mesmo empenho pela gratuitidade desta vacina contra o cancro do colo do útero, esse, sim, um verdadeiro e dramático caso de saúde pública. Mas, sabendo eu como as coisas são, deixem-me rir…
E já que estamos a falar de questões de saúde, não podemos ignorar a morte de um homem de 54 anos, que teve a infelicidade de ser vítima de um acidente de viação, em Odemira, no distrito de Beja, num local que distava mais de cem quilómetros do hospital mais próximo e, em consequência, de uma Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER). A partir daqui, foram seis horas em bolandas, com o Centro de Orientação de Doentes Urgentes a decidir que bastava uma ambulância dos Bombeiros de Odemira para socorrer o sinistrado, quando o que estaria indicado era a tal VMER. Levado para o SAP de Odemira, acabou por ter de esperar pela tal viatura. Ali, ao ser verificada a gravidade do caso, optou-se, só então, pela evacuação para Lisboa, com a respectiva espera pela chegada de um helicóptero e o longo voo até ao Hospital de Santa Maria, onde viria a falecer.
Como qualquer pessoa normal perceberá ao tomar conhecimento de um caso destes, estamos perante uma gritante situação de incúria, que se traduz, em última análise, num profundo desprezo pelas gentes deste país, em geral, e do Alentejo, em particular.
É que, no caso que referimos, o serviço de neurocirurgia mais próximo de Odemira, fica em… Lisboa! Aliás, não existem serviços de neurocirurgia a sul do Tejo, havendo apenas especialistas em alguns turnos dos hospitais de Faro e Portimão.
E o senhor ministro da Saúde do governo do socialista Sócrates, tão rápido a encerrar maternidades, urgências e SAP’s, a atrasar a colocação de médicos, a aumentar as taxas moderadoras e a criar outras – e que, por estar absorvido em tão caritativas acções, ainda não teve tempo para se preocupar com esta gritante falta de meios numa das regiões mais desprezadas do país – vem agora prometer averiguações ao sucedido.
Deixem-me rir! Ó sôr ministro! O assunto está mais do que averiguado. Os factos falam por si. A assistência deficiente no distrito de Beja – e, de uma maneira geral, por esse país fora – só tem uma única causa: a política que V. Exa., e o seu governo – bem como os anteriores ministro da mesma pasta e respectivos governos – têm levado à prática. Por isso, averigúe-se a si próprio, investigue-se, analise-se e, depois, se tiver uma estranha sensação de náusea, se lhe ocorrer um ou outro vómito, olhe, chame o INEM.
Mas onde o governo «trata da saúde» aos portugueses – e bem! – é quando lhes corrói o poder de compra. Tudo simples. Tudo sempre igual. Tudo muitíssimo eficaz, ano após ano. Decidem-se os aumentos salariais com base numa inflação ilusória, ficcional, que é sempre inferior à inflação que depois de verifica. Mecanismos de correcção que reponham o poder de compra assim perdido? Que corrijam a malandrice? Deixem-me rir…
E não sou eu que o digo, meus amigos, mas o INE, que confirma uma subida média dos preços, em 2006, de 3,1%. Como os aumentos salariais foram muito inferiores à subida dos preços para mais de 2 milhões de trabalhadores por conta de outrem (730 mil funcionários públicos, e mais de 1.300.000 empregados do sector privado), cujos aumentos salariais, nesse ano, oscilaram entre os 1,5%, no sector público, e os 2,5%, no sector privado, as contas são facílimas de fazer. Até Guterres as fazia!
Quem não dá por estes apertos no orçamento familiar é, entre outros, o senhor ministro da Defesa, que acaba de ser contemplado com um subsídio de 44,14 euros por dia, o que dá 1.324 euros por mês (ou seja: mais de 265 continhos) a juntar ao ser ordenado de 4.651 euros. Tudo junto, soma 5.971 euros, 1.200 contos, em números redondos na moeda antiga.
Parece que o senhor ministro declarou que a sua residência permanente é no Funchal, coisa de que não se duvida, mesmo sabendo-se que tem casa própria, em Lisboa. Acontece, porém, que essa casa foi posta à venda em 2002, e que só em Fevereiro deste ano é que vai ser lavrada a escritura correspondente à venda.
Onde viveu – e vive – entretanto, o senhor ministro, é coisa que está num conveniente segredo, tanto mais que é ministro de Defesa, sabe muito sobre os voos da CIA e outras questões melindrosas da política mundial, convindo, por isso, resguardá-lo da curiosidade do terrorismo internacional.
Seja como for, ainda bem que a lei prevê – muito bem previstas – estas situações, e nem sei se o tal subsídio mensal, equivalente a três salários mínimos, chega para compensar um abnegado servidor da Pátria por este cruel e sofrido afastamento da sua casinha no Funchal.
O que sofre um ministro, não é?
Mas, se não se importam, deixem-me rir, está bem?
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