Os
avós e os netos
A
manifestação do dia 2 de Março deixou claro que são cada vez mais – e mais
diversos quanto à sua origem social, idade e situação financeira – os cidadãos
que se indignam face às políticas governamentais. Para quem, como eu, tem
marcado presença, ao longo dos anos, nas incontáveis acções de protesto contra
as políticas de sucessivos governos, é indesmentível que assistimos agora a
algo de novo: aparecem a manifestar a sua indignação – e, em muitos casos, a
sua revolta – pessoas que, segundo elas próprias afirmam, sempre se tinham
manifestado… contra as manifestações.
Jorge
Jesus disse, há dias, citando Marx, que a prática
é o critério da verdade. De alguma forma, esta expressão aplica-se a todo
um mundo de novos manifestantes que aparecem a exigir o fim das políticas do
governo, já que foi preciso sentirem na pele a «prática» de uma vergasta
chamada austeridade para, finalmente, abrirem os olhos para uma «verdade» que
lhes passava ao lado. Ainda não lutam por outra política, mas lutarem pelo «fim
destas políticas» já é um passo em frente.
Primeiro,
foram os mais jovens, lançados para o gueto da dependência paterna,
desempregados crónicos ou sujeitos a trabalhos precários e ocasionais,
miseravelmente pagos, portugueses a quem um bufão pífio que nunca trabalhou,
sempre abrigado no alpendre partidário onde confluem dinheiros públicos e
fundos comunitários – estou a falar da Tecnoforma, por exemplo – pede para não
serem piegas e que vejam lá se o melhor não será pirarem-se daqui para fora.
Agora,
são os avós, que, de um dia para o outro, vêem as suas pensões reduzidas
brutalmente, depois de uma vida de trabalho e de descontos, logo num momento em
que são chamados a ajudar os filhos e os netos, pois o desemprego real já passa
do milhão e meio – e continua a aumentar – coisa que do facínora que é
primeiro-ministro só merece o comentário de que estamos perante algo
perfeitamente previsível.
O
que falta que a maioria dos portugueses perceba – especialmente estes, os que
agora a violência das políticas trazem às ruas – é que nada do que está a
acontecer resulta de algo que oscila entre a fatalidade de uma Crise inoportuna e a incompetência de
meia dúzia de políticos.
Quando
os portugueses perceberem que a Crise
e as políticas do governo se enquadram numa vasta e consciente manobra de pilhagem
destinada a transferir uma fatia cada vez maior da riqueza produzida dos bolsos
de quem trabalha para os cofres do capital financeiro, então a tal luzinha ao
fundo do túnel deixará de ser uma miragem. Nessa altura, todos terão percebido
que Gaspar e Coelho não eram umas lamentáveis aberrações políticas, mas
diligentes carrascos a cumprirem a sua nefanda missão.
Na
verdade, um cartaz que apareceu na manifestação de 2 de Fevereiro resumia tudo
isto muito bem:
Só
deixam de nos morder se lhes partirmos os dentes.
3 comentários:
E temos que estar muito gratos a um patife , a um canalha , a um estupor sem sensibilidade nenhuma, que é Passos Coelho - que lamenta não poder baixar o salário mínimo(482E) e se abespinha com Seguro porque "insiste no desemprego"- pelo prestígio e elogios que temos no estrangeiro, imagine-se!!
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