3.06.2013


Os avós e os netos

A manifestação do dia 2 de Março deixou claro que são cada vez mais – e mais diversos quanto à sua origem social, idade e situação financeira – os cidadãos que se indignam face às políticas governamentais. Para quem, como eu, tem marcado presença, ao longo dos anos, nas incontáveis acções de protesto contra as políticas de sucessivos governos, é indesmentível que assistimos agora a algo de novo: aparecem a manifestar a sua indignação – e, em muitos casos, a sua revolta – pessoas que, segundo elas próprias afirmam, sempre se tinham manifestado… contra as manifestações.

Jorge Jesus disse, há dias, citando Marx, que a prática é o critério da verdade. De alguma forma, esta expressão aplica-se a todo um mundo de novos manifestantes que aparecem a exigir o fim das políticas do governo, já que foi preciso sentirem na pele a «prática» de uma vergasta chamada austeridade para, finalmente, abrirem os olhos para uma «verdade» que lhes passava ao lado. Ainda não lutam por outra política, mas lutarem pelo «fim destas políticas» já é um passo em frente.

Primeiro, foram os mais jovens, lançados para o gueto da dependência paterna, desempregados crónicos ou sujeitos a trabalhos precários e ocasionais, miseravelmente pagos, portugueses a quem um bufão pífio que nunca trabalhou, sempre abrigado no alpendre partidário onde confluem dinheiros públicos e fundos comunitários – estou a falar da Tecnoforma, por exemplo – pede para não serem piegas e que vejam lá se o melhor não será pirarem-se daqui para fora.

Agora, são os avós, que, de um dia para o outro, vêem as suas pensões reduzidas brutalmente, depois de uma vida de trabalho e de descontos, logo num momento em que são chamados a ajudar os filhos e os netos, pois o desemprego real já passa do milhão e meio – e continua a aumentar – coisa que do facínora que é primeiro-ministro só merece o comentário de que estamos perante algo perfeitamente previsível.

O que falta que a maioria dos portugueses perceba – especialmente estes, os que agora a violência das políticas trazem às ruas – é que nada do que está a acontecer resulta de algo que oscila entre a fatalidade de uma Crise inoportuna e a incompetência de meia dúzia de políticos.

Quando os portugueses perceberem que a Crise e as políticas do governo se enquadram numa vasta e consciente manobra de pilhagem destinada a transferir uma fatia cada vez maior da riqueza produzida dos bolsos de quem trabalha para os cofres do capital financeiro, então a tal luzinha ao fundo do túnel deixará de ser uma miragem. Nessa altura, todos terão percebido que Gaspar e Coelho não eram umas lamentáveis aberrações políticas, mas diligentes carrascos a cumprirem a sua nefanda missão.

Na verdade, um cartaz que apareceu na manifestação de 2 de Fevereiro resumia tudo isto muito bem:

Só deixam de nos morder se lhes partirmos os dentes.

3 comentários:

São disse...

E temos que estar muito gratos a um patife , a um canalha , a um estupor sem sensibilidade nenhuma, que é Passos Coelho - que lamenta não poder baixar o salário mínimo(482E) e se abespinha com Seguro porque "insiste no desemprego"- pelo prestígio e elogios que temos no estrangeiro, imagine-se!!

Bons sonhos

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