12.19.2007

S - de Sócrates, de «socialista», de sinistro

Consumado o frete de Sócrates a Merkel, Sarkozy e Brown,
em breve os europeus - e especialmente, os portugueses -
estarão a lutar por aquilo que conquistaram há cerca de um século.
Para nós, será mais miséria e, consequentemente, mais repressão.

Um negro e fatídico «S»

- de Sócrates, de «socialista», de sinistro
Com o Natal à porta, as «boas» notícias não param de chegar.

Uma delas, é que o aumento médio das pensões da Segurança Social, em 2008, será apenas de 9,99€ por mês, o que corresponde a um aumento diário de 33 cêntimos.

Mas existem centenas de milhares de pensionistas que terão aumentos ainda menores. Assim, para os 278.300 pensionistas que recebem a chamada «Pensão Social» e a pensão do «Regime Especial das Actividades Agrícolas», o aumento varia entre 4,86€ e 5,83€ por mês, o que dá, por dia, entre 16 cêntimos e 19 cêntimos. Os 571.767 pensionistas com pensões médias de 239,9€ por mês, terão um aumento médio mensal de apenas 6,31€, o que corresponde a um aumento de 21 cêntimos diários.
Não ouvi Sócrates, nem o ministro da Segurança Social, nem o ministro das Finanças apregoaram o feito, mas atribuo isso à sua reconhecida modéstia...
Portugueses cada vez mais pobres

Outra boa notícia veio pela mão do maquiavélico e subversivo Eurostat, o instituto de estatística da União Europeia, que decidiu esclarecer que o poder de compra, em Portugal, caiu de 76% da média europeia para 75%. Não se faz.

Mas esta notícia, no entanto, só confirma aquilo que os nossos bolsos e estômagos estão fartinhos de saber: no que respeita ao poder de compra dos portugueses – da maioria dos portugueses, claro, e não dos distintos senhores banqueiros, grandes empresários e afins, cabendo nestes a não menos distinta classe política – estamos atrás de países como Espanha, Grécia, Chipre e Eslovénia e a par com República Checa e Malta.
Já ninguém duvida que, muito em breve, os poucos países que estão pior do que nós, saltarão para a nossa frente, como outros já fizeram. Eles convergem; nós divergimos.

Também não ouvi o palavroso Sócrates, nem o seu ministro das Finanças, comentarem esta magnífica realidade.
BCG? Por favor, dirija-se a Espanha

Maravilhado fiquei, aqui há dias, quando soube que o país está há mais de um mês sem a vacina contra a tuberculose (BCG). Dizia a notícia, certamente maldosa, imprecisa e tendenciosa, que depois de percorrerem hospitais, maternidades e centros de saúde sem obter respostas positivas, tanto no sector público quanto no privado, pais portugueses estão a optar por ir a Espanha vacinar os filhos recém-nascidos, pois o stock está esgotado em Portugal.
Isto apesar de o Infarmed ter garantido ontem que as unidades de saúde já tinham sido reabastecidas. Por seu lado, a Direcção-Geral de Saúde desvalorizou a importância da ruptura de stock.
Compreende-se: a Direcção-Geral de Saúde não tem filhos ou netos recém-nascidos. E se alguns ministros ou secretários de Estado os tiverem, tal como qualquer senhor de altas posses, alugam um avião para resolver o problema no estrangeiro.

Também neste caso, o senhor «engenheiro» nada disse, e o seu ministro da Saúde, se algo balbuciou, fiquei sem perceber o que foi.
Desemprego sobe todos os dias

Estando em maré de boas novas, próprias da quadra que vivemos, aí vai outra. Perto de 50 funcionárias de uma fábrica têxtil de Mangualde souberam, por um comunicado emitido pela gerência, que estavam sem emprego. O comunicado da gerência da Anjal – assim se chama a firma – informava que a empresa iria cessar de imediato a sua actividade para se apresentar à insolvência, acrescentando que não pagaria os vencimentos de Novembro, nem os de Dezembro e Janeiro de 2008.

Diz esta maravilhosa notícia que, desde Agosto que os ordenados eram pagos cada vez mais tarde. «Não havia trabalho e chegavam a mandar-nos dias para casa», adiantou uma trabalhadora. «As encomendas eram cada vez menos e havia alturas em que nem tínhamos agulhas e linhas. Quando chegava uma encomenda, tínhamos de ir trabalhar até as tantas».

Perante mais esta prenda de Natal para 50 trabalhadores, que enfrentam uma situação dramática numa zona onde o desemprego tem vindo aumentar e as alternativas são nulas, o Governo, talvez entretido a criar os tais 150 mil novos postos de trabalho, achou por bem nada dizer. O que se compreende, já que o fecho de uma fábrica e mais 50 desempregados são coisas a que, de tão rotineiras, já ninguém liga. Faz parte do nosso dia-a-dia.
Por isso, Sócrates, o ministro do Trabalho e o ministro da Economia mantiveram o bico calado. Tenham eles para a consoada, e a malta de Mangualde que se desenrasque.
O Tratado da vergonha - ou os fretes de Sócrates
A nova Constituição Europeia (disfarçada de Tratado)
vai de encontro às aspirações dos grandes senhores do dinheiro
e ataca os direitos sociais e políticos do povo português.
Continuando nesta onda de felizes novidades, quais prendas que o governo «socialista» do «engenheiro» Sócrates (saliento, para os distraídos, que tanto socialista, como engenheiro, estão entre aspas) decidiu ofercer-nos, veio agora o governo pôr no sapatinho do povo português um outro embrulho. E bem pesado.

Que maravilha! Sem o desembrulhar, já todos sabemos que não vai haver referendo ao Tratado de Lisboa que, como disse – e bem – Marcelo Rebelo de Sousa, é uma Constituição Europeia disfarçada de Tratado. Todos os grandes patrões, a começar por Belmiro de Azevedo, bateram palmas e entoam agora, em afinado coro, loas às intenções de Sócrates e do PS.
Porque será – pergunto eu, que, como admiti na crónica anterior, sou estúpido que nem um pneu – que o grande patronato quer o Tratado aprovado sem chatices? O que terá ele de tão bom para os grandes capitalistas? O que se estará a querer esconder, a todo o custo, do conhecimento dos portugueses? Porque prometeram Sócrates e o PS um referendo à questão, e agora estão a virar o bico ao prego?

Se eu não fosse estúpido, responderia a estas perguntas – ou nem sequer as faria. Assim, socorro-me de coisas que por aí vou lendo, como esta, escrita por um jornalista e advogado já aqui citado na crónica anterior, João Marques dos Santos. Disse ele:

«A presidência da UE deu-lhe (a Sócrates) a visibilidade por que tanto ansiava e parece ser a maior ambição de todos os políticos. Com a colaboração do seu amigo Barroso, ajudou a que os recados que lhe foram encomendados fossem levados a bom termo. A que tudo fosse “porreiro”.

É legítimo que Sócrates fique agora à espera do prémio que julga ser-lhe devido. Pelo menos, não evitou os mais arriscados exercícios de contorcionismo. Foi, sem dúvida, um mandatário aplicado e zeloso. Tão zeloso, que conseguiu vender o tratado como se ele não fosse um tratado constitucional. Uma constituição grosseiramente travestida. A mais estúpida das teses.
E, para que ninguém tenha dúvidas sobre a sua fidelidade, até se dispõe a engolir em seco uma das suas mais emblemáticas promessas eleitorais. A de referendar o texto do Tratado. Ultrapassando, com a ousadia dos corriqueiros incumpridores de promessas, a linha divisória daquilo a que Adriano Moreira chamou um dia “a mentira razoável”.

Infelizmente, a verdade é que Sócrates parece muito mais preocupado com o que possam pensar dele Merkel, Sarkozy, Brown e todos os pajens desta corte de interesses contraditórios que é esta Europa. Os seus favores durante seis meses não foram para nós. As suas preocupações não foram as nossas. As suas ansiedades nada tiveram a ver com as nossas desgraças. Há uma ironia amarga no facto de o Tratado ter sido assinado em Lisboa. Com pompa e circunstância.
Afinal, somos um dos parceiros menores que com ele veremos amputada mais uma parcela da nossa já reduzida soberania. Com princípio da subsidiariedade ou sem ele. É claro que a nossa soberania foi sempre muito mais ficcional do que real. A cultura política dos nossos dirigentes sempre foi a da moda importada. A da subserviência. A do medo e da incapacidade de afirmar que temos interesses próprios. Mas dava para disfarçar. Só que, a partir de agora, as limitações à nossa soberania já não poderão ser disfarçadas.
A festa acabou. Para sempre. Já ninguém duvida de que Sócrates fará tudo quanto os parceiros europeus lhe sugerirem para impedir que os Portugueses sejam ouvidos. Reduzindo-nos ao grau zero da cidadania.

Ontem foi a festa. Preparemo-nos para o velório».

Também o insuspeito Marcelo Rebelo de Sousa afirmou, neste domingo, que Sócrates deveria referendar o Tratado, e que se arrependerão todos aqueles que, agora e anteriormente, impediram os portugueses de se pronunciarem sobre a adesão de Portugal à UE.

Mas vem aí o Natal. Um Natal de fome e carências de vária ordem para milhões de portugueses. Com Sócrates, todos os dias, cada um de nós, perde qualquer coisa. Todos empobrecemos.

E, em cada dia que passa, mais são os candidatos a essa vergonha que, de tão banal e glorificada nos noticiários, é, aos meus olhos, verdadeiramente monstruosa: a caridadezinha como instituição nacional, onde uns portugueses recebem as sobras de outros portugueses, como se não ter o suficiente para não precisar de esmolas, seja ela de roupa usada, do brinquedo que já não se quer, ou do pacote de arroz ou massa, fosse a coisa mais natural do mundo. Como se não fosse obrigação primeira dos governantes garantir a cada governado o direito a viver com autonomia e dignidade.
Natal? Qual Natal?
Não me parece que possa haver Natal enquanto Sócrates e o seu «socialismo» pintarem de tons sinistros o presente e o futuro dos portugueses.

3 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro João.

Afinal, só nos trazes más notícias. Mas infelizmente é este o país que temos. E somos, como povo, a desgraça que sabemos. Este texto é importante para meditarmos na situação a que chegámos e nos dias negros que aí vêm.

Um abraço.

São disse...

Meu caro, ainda te faltou uma "prenda" que é a que eu tenho no meu espaço...onde alguém me anunciou que sou parva.Sob anonimato, claro!
Sabes que um ministro francês veio dizer que se Sócrates fizesse o referendo seria um traidor? A quê ou a quem, desconhece-se segundo o insuspeito autor de "O Abrupto", que foi quem deu a notícia.
Boas festas, amigo.

Anónimo disse...

Sair deste país. Fugir. Deixar este atoleiro, este sítio infecto. Se fosse fácil, seria a solução. País entregue a medíocres, a ladrões, a oportunistas, mentirosos, a gente inferior. Que faz fraca a forte(?) gente.

Um abraço.