7.03.2007

O crepúsculo da democracia


A propósito de cancros



Os doentes de cancro esperam, em média, 3 meses e meio por uma operação, mas há hospitais onde a demora na intervenção chega aos sete meses, lê-se num relatório do próprio Ministério da Saúde, divulgado recentemente, acrescentando que dos 4.075 doentes com cancro que em Outubro estavam inscritos para cirurgia, 42 % estavam na lista há mais de dois meses e 27 % há mais de quatro. Segundo o mesmo relatório, existem também grandes assimetrias regionais na resposta dada aos pacientes.

Assim, no Algarve, os doentes com cancro aguardam em média mais de 6,5 meses por uma operação, no norte do país o tempo de espera baixa para os 2,5 em Lisboa e no Alentejo é superior a 4 meses e no Centro situa-se nos 3,5 meses. No Hospital de S. Teotónio, em Viseu, e no Centro Hospitalar da Zona Ocidental de Lisboa, a espera atinge, em média, os 7 meses.


(Correia de Campos - o Grande Cancro da Saúde)

Ao contrário disto, as senhoras saudáveis, com fetos normais (isto é: com gravidezes saudáveis) que desejem abortar por razões que só elas sabem, serão atendidas em escassos dias e, como cereja em cima do bolo, estão isentas de taxas moderadoras, coisas que não acontece a qualquer desgraçado que apanhe um pneumonia, sofra um enfarte, ou um AVC. Já para não falarmos do facto de o Estado nem sequer comparticipar a vacina que previne o cancro do colo do útero. Entre um canceroso que precisa de ser operado e uma mulher saudável que queira abortar, tem prioridade, para o SNS, o humaníssimo aborto.

Os dados aqui ficam, para que se medite seriamente na maneira como a política brinca com tudo, até com a vida das pessoas. Dou-vos mais um caso. No início deste ano, uma mulher de 65 anos começou a sentir fortes dores no ombro esquerdo. Foi, às seis da manhã, para a porta do Centro de Saúde do Seixal, para, lá para o fim da manhã, conseguir ser atendida. A médica mandou-a fazer uma radiografia, que foi inconclusiva. Seguiu-se uma ecografia que acusou algo de relativamente complicado, requerendo uma consulta da especialidade no Hospital Garcia de Orta, desconfiando a médica, pelo que viu e leu no relatório, que será necessária uma operação. Nesse mesmo dia foi passada a carta, pelo CSS, a pedir a marcação dessa consulta ao HGO. Até hoje não houve qualquer resposta. Já lá vão cerca de seis meses. Depois da consulta, quantos meses se passarão até que se realize a operação, se ela for, de facto, necessária? E quanto vai custar?

Pergunto-vos: serão os casos de doentes com cancro ou com outras quaisquer doenças, menos importantes do que a decisão de uma mulher saudável em querer abortar? Sentir-se-ão bem, ao saber disto, aqueles que tanto lutaram pela liberalização do aborto, sem que perguntem a si próprios porque ficam agora mudos e quedos perante estas notícias? Onde estão, agora, os grandes, aguerridos e corajosos activistas que encheram ruas e avenidas, colaram cartazes, debitaram argumentos sobre argumentos – alguns deles verdadeiramente imbecis – a favor da liberalização do aborto e por aí andaram, de faca nos dentes, como se eliminar um feto, por razões de natureza económica, fosse um avanço civilizacional e a resolução do nosso maior problema? Porque não saltam nem se esganiçam agora (como saltaram e se esganiçaram então), em defesa dos doentes cancerosos, que esperam meses por uma operação que lhes pode salvar a vida, ou para abreviar os tempos de espera por consultas da especialidade? E, à semelhança do que acontece para o aborto a pedido, porque não lutam com igual fervor e entusiasmo, em festivas e coloridas manifestações, para que todos os doentes – mas os verdadeiros doentes, com doenças que os atingiram sem que para tal tivessem contribuído – também fiquem isentos da taxa moderadora? Então, que moral é esta? Que moralistas são estes? Que coerência há nestas pessoas?

Já que estamos a falar de cancro, falemos doutro:
um cancro chamado Partido Socialista.

Ultimamente, sucedem-se as notícias sobre constantes actos de perseguição política, sendo já três as vítimas mais mediáticas da mentalidade pidesca da gentalha que por aí está espalhada, desde os píncaros da governança até ao reles esbirro sedento de mostrar serviço.

Primeiro, foi o professor Charrua, corrido da DREN, suspenso de funções e com uma nota de culpa à perna, à conta de uma piada e de desabafos que milhões de portugueses, como eu, repetem todos os dias. Por ter brincado com o senhor presidente do conselho, sujeita-se a seis meses de suspensão
.


(Margarida Moreira, a coordenadora da bufaria na DREN)


Seguiu-se a exoneração de Maria Celeste Cardoso, Directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho, por causa de um cartaz que recordava aquilo que o ministro da Saúde tinha dito, ou seja, que nunca tinha ido a um SAP, nem esperava ir, ao qual se acrescentava um comentário jocoso O crime da senhora saneada (para dar lugar a um boy socialista, pois claro), terá sido o de não ter mandado retirar o cartaz no preciso instante em foi afixado, ordem que foi dada pela vítima logo que do facto teve conhecimento.

(A girl bisbilhoteira Ana Maria Correia)



Como não há duas sem três, aparece agora uma nota de uma girl socialista, coordenadora da Sub-região de Saúde de Castelo Branco, de sua graça Ana Maria Correia (foto acima), onde esta informa todo o pessoal da sede «que a correspondência endereçada directamente a determinados funcionários, ou ao cuidado dos mesmos, será aberta na coordenação, desde que oriunda de qualquer serviço público, ou outro».

Também é sabido que o blog
http://www.doportugalprofundo.blogspot.com/ (cuja visita aconselho vivamente), do professor António Balbino Caldeira, está sob vigilância apertada desde o dia em que este português levantou a lebre das confusões acerca da célebre licenciatura de José Sócrates, pelo que o seu autor já foi alvo de uma queixa crime por parte do primeiro-ministro, enquanto tal e enquanto cidadão. Só falta saber porque não se queixou, também, como «engenheiro».

A forma como este governo está a tratar a liberdade de expressão, especialmente se é ele próprio o alvo da crítica, não tem comparação sequer com a ditadura do Estado Novo, já que esta, apesar de tudo, teve o cuidado de permitir sempre alguma crítica política e social.

Agora, os esbirros do PS, verdadeiros candidatos a futuros pidezecos, aprestam-se a mostrar ao grande chefe a sua fidelidade canina. Mas já nada espanta se vier da canalha socialista. Depois dos casos que citei, a que falta acrescentar as listas de grevistas de Teixeira dos Santos, e em apenas dois anos de poder absoluto, já estamos, como referi outras vezes, a respirar o ar de chumbo que nos pesava nos tempos de Salazar a Marcelo.

Entretanto, a crise arrasta-se. Para fugir a ela, 200 mil portugueses abastecem-se regularmente em Espanha. As lojas, por cá, estão às moscas, mesmo com promoções de 50%. Cada vez há mais casas devolutas, porque as famílias não podem pagar uma prestação que, em poucos meses, subiu para valores incomportáveis. As empresas fecham umas atrás das outras.

Porém, para o senhor «engenheiro», o remédio não é governar bem. É calar os críticos, como se faz em qualquer ditadura. Os jornalistas começam a incomodar? Sujeitam-se jornais e jornalistas a órgão autoritários, fiéis ao Governo, capazes de calar uns e outros. Censura? Nem pensar!

E a malta, com os bolsos cada vez mais vazios, não sabe o que fazer à vida. Se rir das patacoadas de ministros imbecis, se começar a pensar que isto só vai lá à bomba.

Uma coisa é certa. Democracia é que isto não é. Ou se é, sofre de cancro.

Um cancro chamado PS.

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