5.22.2007

Um cheirinho a fascismo


Um professor da Direcção Regional de Educação do Norte foi suspenso após ter feito comentários à licenciatura do primeiro-ministro. O docente em causa, de seu nome Fernando Charrua, ter-se-ia referido em termos jocosos à licenciatura de José Sócrates, o que não agradou à senhora directora regional, Margarida Moreira, provavelmente uma girl socialista atenta e obrigada. A distinta senhora considerou que o dito era insultuoso e que foi proferido em ambiente de trabalho, dando por isso lugar à instauração de um processo disciplinar e à suspensão do professor. Fernando Charrua, aliás, admitiu ter feito um «comentário jocoso a um colega, dentro de um gabinete», acrescentando que o referido comentário foi «retirado do anedotário nacional do caso Sócrates/Independente».


Aqui fica o aviso: a partir de agora, todos os portugueses que, por qualquer meio, teçam, durante o horário laboral, comentários jocosos, depreciativos ou meramente risonhos sobre a licenciatura de José Sócrates, estão sujeitos à alçada rigorosa da sua hierarquia profissional. Suspensão imediata, processo disciplinar e pena consequente, que pode ir da repreensão ao despedimento com justa causa. Por outras palavras: a liberdade de expressão não é aplicável nos casos em que o suposto engenheiro Sócrates seja o alvo do comentário.


Atenção, meus amigos! Anda no ar um cheiro inconfundível a fascismo e à sua indispensável bufaria. Há muito que eu venho dizendo que as coisas estão a ir por caminhos muito tristes e sombrios. E entre os métodos dos socialistas e os métodos dos fascista (garanto-vos eu, que a ambos conheço de ginjeira) encontrar uma diferença de vulto é mais difícil que encontrar a tal agulha no palheiro.


Falando de Sócrates, dessa coisa nefasta que está a estender os seus tentáculos à volta da nossa incipiente democracia, asfixiando direitos, liberdades e garantias a mais de nove milhões de portugueses, enquanto os restantes acumulam o que àqueles é retirado, quero dizer que o homem nem sempre conta mentiras. Há dias, fugiu-lhe a boca para a verdade. Disse ele, dirigindo-se a pessoas que tinham acabado de adquirir a nacionalidade portuguesa: «Quero deixar-vos também uma palavra de confiança, confiança em vós, nas vossas famílias e a certeza que cada um de vós dará o seu melhor para um país mais justo, para um país mais pobre». Foi um lapso, disse ele. Pois foi. Mas um lapso nascido no seu subconsciente, na convicção íntima que ele tem sobre o destino deste desgraçado país.


A contribuir para que sejamos um país cada vez mais pobre, aí estão mais 500 despedimentos anunciados na multinacional norte-americana Delphi, o que me deixa uma dúvida no espírito. Quando Sócrates falou em 150 mil postos de trabalho, durante a campanha eleitoral onde enganou cerca de dois milhões de eleitores, estaria a referir-se a mais 150 mil novos postos de trabalho, ou em 150 mil novos desempregados? Se calhar, foi isso…

Entretanto, fruto das «excelentes» políticas do suposto engenheiro Sócrates – e também suposto socialista – o número de portugueses a trabalhar em Espanha e inscritos na Segurança Social do país vizinho é já superior a 75 mil. Diz o Ministério do Trabalho e Assuntos Sociais espanhol que existiam, no final de Abril, 75.307 portugueses naquelas condições, mais alguns do que em Março. Face a finais de 2006, a subida é já de quase 4%.

Por cá, (olha a grande novidade!) a taxa de desemprego subiu para o valor dramáticos, sendo este o terceiro trimestre consecutivo em que aumenta o número de pessoas sem trabalho. Quem o diz é o insuspeito Instituto Nacional de Estatística, que divulgou os números de desemprego referentes aos primeiros três meses de 2007. Sem papas na língua, afirma – e prova – que o número de desempregados voltou a aumentar. E para aborrecimento – e vergonha, se a tivesse – do suposto engenheiro Sócrates, acrescenta-se que para encontrar um valor superior ao anunciado é preciso recuar 21 anos, mais precisamente, até ao segundo trimestre de 1986.


Os números mostram que Portugal tinha 469.900 desempregados no final do primeiro trimestre deste ano, número que representa uma taxa de desemprego de 8,4%, mais 0,7% do que no mesmo período do ano passado, e mais 0,2% acima do último trimestre de 2006. As estatísticas mostram também que o actual ritmo de crescimento económico não só não é suficiente para alimentar uma descida do desemprego, como continua a deixar-nos cada vez mais para trás em relação ao resto da Europa. Maiores vítimas do desemprego são os jovens entre os 15 e os 24 anos, com uma taxa de desemprego de 18,1%, valor que representa um aumento face aos 15,7% registados há um ano, e aos 17,9% do final de 2006.


Caso o suposto engenheiro Sócrates não se lembre disse, aqui fica a ideia. Encerrar o INE, ou privatizá-lo. Assim, as confederações patronais já podiam divulgar os dados que mais lhes conviessem. Ou, então, levantar processos disciplinares a todos os responsáveis pelas estatísticas, dado que elas não respeitam as conveniências e as verdades oficiais. Tudo a bem da nação.


Enquanto isto acontecia, os meios de comunicação social passavam o tempo na Aldeia da Luz entretidos com o caso da menina desaparecida. Talvez por isso, quase ninguém deu destaque a uma decisão do Tribunal Central Administrativo do Sul, que confirmou a suspensão da co-incineração de resíduos perigosos na Arrábida. Distracções.

Que Sócrates mais o seu ministro do Ambiente tenham metido a viola no saco, compreende-se. Há verdades que devem ser escondidas, porque, como esta, representam uma violenta bofetada na cara arrogante do «engenheiro» que vai sendo primeiro-ministro. Mas já não se compreende que a maioria dos jornais e as televisões tenham escondido a coisa.

Leio-vos passagens do texto que o advogado Castanheira Barros, que representa as Câmaras de Setúbal, Palmela e Sesimbra, em defesa da saúde pública das suas populações, ameaçadas pela co-incineração na Arrábida, escreveu no seu blog, http://castanheira.blogspot.com/. Diz ele:

«
Depois da Laika ter sido posta em órbita pelos soviéticos em 1957, passando a ser o primeiro ser vivo no espaço, eis que agora é notícia a Leya, cadela de José Mourinho, que os jornalistas portugueses decidiram pôr nos píncaros da Lua. E porquê? Que fez ela de especial? Nada, que se saiba. Tal aconteceu no mesmo dia em que o Tribunal Central Administrativo – Sul confirmou a suspensão da co-incineração de resíduos perigosos na Arrábida. A estratégia da mediatização do banal e da banalização do fundamental, funcionou mais uma vez.
Transformou-se em trivial o que tem sido uma raridade em Portugal: adopção de providências cautelares contra as pretensões do Governo, e em transcendental o que não passa de uma banalidade: uma cadela a viajar de avião ao colo da sua dona. Sem dúvida que o dono da cadela é um homem muito especial, desde logo porque Mourinho é também contra a co-incineração no Outão, mas nada justifica que se tenham escrito páginas inteiras acerca do romance construído à volta da cadela, e apenas breves notícias sobre o anúncio público de uma decisão judicial que é de crucial importância para a saúde pública e para o meio ambiente. Nem uma só câmara de televisão se dignou colher a opinião dos Presidentes das Câmaras de Setúbal, Sesimbra e Palmela, que vêm travando, até ao momento com sucesso, uma titânica batalha judicial contra o Governo.E se a decisão tivesse sido ao contrário, ou seja, se o ministro do Ambiente ou a Secil tivessem ganho o recurso que apresentaram? Passaria também essa decisão despercebida aos portugueses? A imprensa desempenha, todos nós sabemos, um papel crucial na aculturação ou na estupidificação do nosso Povo. O último jogo de futebol entre o Benfica e o Sporting preencheu, no dia seguinte, 23 páginas de um jornal desportivo deste País. Para bom entendedor, meia palavra basta.
»

Pois é, amigo Castanheira Barros. O jogo está viciado. A liberdade de expressão, o direito à informação, a ausência de censura, as razões e os direitos de milhões de portugueses são coisas de faz-de-conta. A democracia está detida preventivamente, em parte incerta. Aquilo que por aí anda é a velha ditadura, agora mascarada de socialista e democrática.

E se não abrirmos os olhos e dermos as mãos (nós, os que só queremos ser cidadãos de corpo inteiro) pode crer – podemos todos crer – que dias bem piores aí virão.

1 comentário:

Mar Arável disse...

Subscrevo os vários temas do mesmo naufrágio - parece-me que o título atenua a bem descrita lixeira.
Abraço.